Em livro, jornalista destaca problemas e soluções relacionados ao uso excessivo do celular no cotidiano
Jornalista, escritora, roteirista, apresentadora e blogueira, Rosana Hermann propõe um debate extremamente interessante e atual em seu novo livro, Celular, Doce Lar (Editora Sextante, R$ 30, 176 páginas), que chega agora às livrarias de todo o País.
Logo de início, se questiona algo que de tão simples sugere resposta ainda mais simplória. Afinal, qual foi a última vez que você passou mais de uma hora (acordado) sem verificar o celular? Possivelmente você sequer se lembrará de quando isso ocorreu.
A evolução dos celulares nos últimos anos transformou o aparelho em uma verdadeira máquina com milhares de utilidade. Passou a aglutinar funções e itens que, com o tempo, tendem até mesmo a sumir das grandes metrópoles. Exemplos estão aos montes: despertador, câmera fotográfica, GPS.
A junção do aparelho mais dinâmico com uma internet mais rápida e acessível fez com que o ser humano passasse a usar o celular para praticamente tudo. Se até pouquíssimo tempo atrás o costume era sair de casa com o celular e a carteira, atualmente até mesmo os bancos têm desenvolvido alternativas para que o consumidor use o próprio celular como cartão de crédito ou débito.
De acordo com Rosana, é justamente nesse ponto em que começam a surgir os principais problemas na relação humano\celular: no fato de que o celular, aliado à internet, se tornou algo ilimitado.
“A verdade é que se a internet e o celular podem ser maravilhosamente ilimitados, nós não. Nós precisamos de limites. Limite de velocidade para não dirigir como loucos e matar pessoas no trânsito; limite de ingestão de alimentos para não comer demais e sobrecarregar os órgãos do corpo; limite financeiro para não gastar mais do que temos. […] Limites são regras, leis, que as sociedades definem para que todos possam conviver com o máximo de justiça, liberdade e igualdade. Limite é o que eu preciso para usar esta dádiva da criação humana chamada celular”, afirma a autora no livro.
O texto de Rosana Hermann é leve, permeado por humor e descontração. A autora tem ampla experiência como roteirista para programas de televisão, especialmente de humor, e utiliza as próprias experiências para passar importantes “recados” sem ter de recorrer ao sermão, muitas vezes característico desse tipo de literatura.
E o objetivo era, de fato, tornar a leitura leve. Afinal, o uso exagerado do celular é um problema de conhecimento público. Dificilmente alguém se dirá surpreso se for informado, através de números, que tem passado muito tempo no celular. O que assusta, em alguns casos, é que o estrago é muito maior do que o imaginado.
Aplicativos criados recentemente permitem que o usuário ative um sistema que irá monitorar o uso que faz do celular. Ao final do dia, da semana ou de outro período superior, o sujeito poderá verificar quantas horas diárias tem dedicado às redes sociais, às conversas em aplicativos de mensagens, aos vídeos, aos jogos e tantos outros itens que consomem fatia expressiva do nosso cotidiano.
Muitas vezes este é o choque necessário para que as pessoas se deem conta do quanto estão perdendo diariamente por conta do celular. É fato que a internet, juntamente com o smartphone, ajudou a encurtar distâncias, aproximar localidades longínquas, entre outros benefícios. No entanto, até que ponto esse contato e essa interação deixam o campo virtual para tornarem-se algo real?
Quando racionalizamos essa questão, na maioria das vezes concluímos que, de fato, aumentamos a lista de “amigos virtuais” nos últimos anos, mas passamos dias, semanas, sem encontrar um amigo sequer no “mundo real”. Junte isso ao fato de que as redes sociais têm se tornado cada vez mais um campo de disseminação de ódio e intolerância e teremos um ambiente extremamente prejudicial para quem o utiliza em excesso.
“Não há culpados, na verdade, porque não é uma questão de culpa. O que há é um novo comportamento mundial em relação ao celular e que ainda é recente em termos históricos e, por isso mesmo, precisa ser discutido e estudado. Estamos todos nos adaptando a esse pequeno aparelho móvel que gerou mudanças permanentes para a humanidade. […] Não existe um único aspecto, seja em termos de segurança, comunicação, entretenimento, educação, cidadania, só para citar alguns, que não tenha sido afetado por esse combo [celular e internet]”, frisa a autora no livro.
Rosana destaca que seu livro não tem o objetivo de fazer com que as pessoas abram mão do celular. O que ela propõe, no entanto, é uma discussão, para entender se estamos, de fato, vivendo nossas vidas ou se estamos simplesmente nos deixando levar.
O texto traz dicas e processos para aqueles que desejam iniciar o chamado “detox digital” (acredite, atualmente há retiros muito bem pagos para quem já não consegue desgrudar os olhos da tela do celular), mas não se trata de uma obra opressora ou autoritária.
Ao final da leitura, fica a sensação de que o celular é realmente indispensável. Especialmente se levarmos em consideração que o profissional atual dificilmente é responsável por apenas uma “função”. Há quem atue para diferentes clientes/empresas, há quem tenha o próprio negócio e use o celular para o gerenciamento mais apurado, e há também aqueles que aproveitam a facilidade proporcionada para o aparelho para conectarem-se de alguma forma com familiares e amigos ao longo da jornada. No entanto, a autora é muito feliz ao mostrar que o excesso no uso nos torna reféns do celular, gerando prejuízos em todas as nossas “esferas de atuação”. Vale a leitura (e a autoanálise)!
Escrito por: Redação