Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, José Massari, Diretor de Aftermarket América do Sul da Mahle Metal Leve S.A., fala sobre a importância do mercado brasileiro para a companhia, bem como sobre assuntos pertinentes ao setor automotivo. Confira a íntegra da entrevista a seguir:
Mercado Automotivo – A Mahle completará, em breve, 100 anos de história. Quais são os valores que a companhia carrega consigo para obter essa marca tão importante?
José Massari – A indústria automotiva está passando por uma profunda transformação. Para a MAHLE, sempre foi crucial essa visão de futuro e o engajamento de todos para a definição de seu rumo, frente aos novos desafios desse mercado altamente competitivo. Através do nosso lema “Nossos Objetivos, Nossa Paixão”, a MAHLE intensifica sua responsabilidade diante do legado deixado pelos irmãos MAHLE e cresce globalmente, incentivando o desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, além de parcerias com diferentes players para a construção de soluções inovadoras e o fortalecimento de sua marca.
MA – Atualmente, qual é o peso do mercado brasileiro para os negócios da Mahle? Existe a expectativa de ampliar essa fatia de mercado?
JM – Os negócios de Aftermarket da Mahle na América do Sul representam aproximadamente 20% do faturamento global deste segmento da empresa. Acreditamos que a ampliação dos negócios de Aftermarket na região será possível por meio de ações estratégicas visando manter o nosso market share em Componentes para Motor, crescer em Filtros e Turbocompressores, além de expandir o portfólio de produtos com as recentes aquisições realizadas pela Mahle, das quais destacamos a empresa Letrika, reconhecido fabricante de componentes eletrônicos e mecatrônicos, a divisão de sistemas de ar-condicionado da Delphi e, mais recentemente, conforme anunciado durante a Automechanika Frankfurt, a linha de gerenciamento térmico, a qual será o nosso grande desafio a partir de 2020 e onde canalizaremos grande parte dos esforços do Aftermarket. Com a expansão continuada do portfólio de produtos, seguiremos a estratégia corporativa da Mahle, sempre orientada ao cliente e ao mercado, a fim de oferecer um suprimento de produtos e serviços cada vez mais amplo e melhor.
MA – Apesar do avanço vivenciado nos últimos anos, o gasto médio do brasileiro com seu veículo ainda é significativamente inferior ao de outros países. Em sua opinião, quais seriam os principais motivos para esta disparidade?
JM – Sem dúvida a manutenção preventiva do veículo infelizmente ainda não está inserida nas prioridades do brasileiro, já que o gasto médio por veículo é muito inferior ao de outros países, inclusive em comparação com o leste europeu. Segundo recente pesquisa da Roland Berger, temos um potencial incremental acima de 90% comparando com os países da Europa, EUA, Japão e China, onde passaríamos de um faturamento médio por veículo leve dos atuais R$ 321 para R$ 622. Entretanto, certamente essa característica também está diretamente relacionada aos efeitos da perspectiva e do desempenho da economia, do cenário de emprego e, obviamente, da priorização dos gastos dos consumidores. Temos alguns programas eficientes de conscientização de manutenção preventiva, como por exemplo, o Carro & Caminhão 100%, mas embora tenham importante contribuição, não foram suficientes para promover adequadamente a conscientização em função do quadro atual da economia.
MA – Muito se fala no Brasil sobre o consumo de produtos ilegais e/ou falsificados, por exemplo, provenientes de roubos de cargas nas estradas do país. Essa questão acabou atingindo também o setor automotivo, de uma forma geral. Esse problema ainda incomoda as indústrias multinacionais que atuam no Brasil? Ainda é uma realidade?
JM – A cópia de produtos não é irrelevante e a MAHLE está monitorando de perto essa tendência muito negativa aos nossos negócios. Hoje temos mais de 6.000 engenheiros que trabalham em soluções inovadoras em Centros Tecnológicos localizados no Brasil, Alemanha, Grã-Bretanha, Luxemburgo, Espanha, Eslovênia, EUA, Japão, China e Índia, entretanto, reconhecemos que todos os esforços e investimentos para a entrega de um produto aos nossos clientes, com reconhecida qualidade e tecnologia, são constantemente ameaçados pelas práticas desleais de comércio através das falsificações. Recentemente participamos da Automechanika em Frankfurt e apoiamos totalmente o projeto “Messe Frankfurt against copying”, atuando através de medidas contra falsificações e lutando fortemente contra a pirataria de produtos e marcas. A proteção dos direitos da propriedade intelectual é de interesse de todos e, juntos, podemos impedir o prejuízo de oficinas, comércio, indústria e consumidor final, além de garantir que produtos eficientes, de alta qualidade e seguros estarão disponíveis no futuro.
MA – Com base na pergunta anterior, é possível dizer que o brasileiro está mais consciente em relação à origem e qualidade das peças que usa em seu veículo? Como fazer para que essa mensagem seja mais disseminada, de forma geral, entre o consumidor nacional?
JM – Historicamente o fator preço predominava na decisão de compra do consumidor, mas acredito que, de forma geral, ele está muito mais consciente com relação à qualidade dos produtos. Nessa consolidação de uma sociedade baseada na conectividade, teremos um consumidor com mais acesso à informação e, portanto, com expectativas cada vez maiores com relação à qualidade de produtos e serviços.
MA – Nos últimos cinco anos, a despeito da crise econômica que atingiu o Brasil, algumas lideranças do setor automotivo indicavam que o futuro da reposição poderia reservar bons resultados. O entendimento era de que, com a queda na venda de veículos novos, o brasileiro passaria a investir na manutenção do bem que já está na sua garagem. O senhor entende que isso, de fato, tem acontecido? O momento atual é bom para a reposição automotiva?
JM – Sim, acredito que esteja ocorrendo este aumento de demanda no mercado de Aftermarket brasileiro, assim como na América do Sul. Por outro lado, hoje existe uma oferta muito maior de produtos no setor em função da facilidade e do aprimoramento adquirido pelos importadores na busca de produtos, principalmente de origem LCC (low cost countries). Os importadores estão buscando cada vez mais melhorias em processos produtivos e de qualidade, concorrendo bastante com os fabricantes aqui instalados. Também acredito que o momento seja positivo para o Aftermarket em uma abrangência global e não somente no Brasil. Analisando um pouco a feira Automechanika Frankfurt, ocorrida nas últimas semanas, posso afirmar que, de forma geral, havia um número menor de visitantes, no entanto as reuniões realizadas com clientes brasileiros e de exportação foram muito mais produtivas e num ambiente de extremo otimismo quanto ao futuro do Aftermarket.
MA – Gostaria que falasse sobre a preocupação da Mahle com o investimento em pesquisas. A empresa se preocupa com a questão da inovação? É uma área que recebe investimentos da empresa?
JM – O Centro de Tecnologia da MAHLE está instalado em uma área de proteção ambiental na Serra do Japi, em Jundiaí/SP. O edifício, composto por três prédios independentes que seguem os preceitos de arquitetura sustentável, abriga cerca de 300 colaboradores, dos quais 200 estão envolvidos diretamente com pesquisas. Ele é o segundo maior centro tecnológico da MAHLE no mundo, responsável global pelo desenvolvimento de Anéis e Camisas de Cilindros de motores, além de referência mundial em motores flex fuel. As pesquisas e desenvolvimento representam 5,7% do total das vendas globais do Grupo MAHLE e vêm sendo o “driver” do crescimento. Com isso, apesar do momento difícil vivenciado no setor automotivo brasileiro, a MAHLE mostra que continua se destacando no cenário nacional.
MA – Qual é a expectativa da Mahle para os próximos três anos de atuação no Brasil?
JM – É difícil fazer uma previsão em função da volatidade econômica e política que temos neste momento no Brasil. O objetivo é sempre incrementar as vendas ao longo dos anos, aliado ao controle de custos, porém as vendas dependem de uma série de fatores externos à companhia, como por exemplo, nível de atividade econômica brasileira e de seus principais mercados de atuação global, ambiente de negócios e investimentos, câmbio, condições para financiamento de veículos, desempenho da produção e vendas do mercado automobilístico brasileiro e argentino, entre outras.
MA – A área de compliance se tornou muito mais importante nas companhias que atuam no Brasil nestes últimos anos. De que forma a Mahle se preocupa com esta questão?
JM – A MAHLE possui um programa de Compliance que estabelece regras, estrutura, treinamento e comunicação frequente a seus colaboradores. A empresa possui também um canal de denúncias externo, por meio do qual colaboradores e partes interessadas podem relatar o não cumprimento às regras de Compliance da organização.
MA – Por fim, gostaria que falasse sobre Responsabilidade Social. Para a Mahle, qual a importância de levar programas sociais para as regiões nas quais atua?
JM – Nosso objetivo é trabalhar pela autonomia e independência das pessoas e comunidades com as quais interagimos. Os programas que a MAHLE vem desenvolvendo junto à sociedade são programas sustentáveis que trabalham principalmente a formação do jovem. Assumimos a responsabilidade de capacitar jovens de baixa renda para percorrerem seu caminho profissional melhor preparados.
Como exemplo, temos as escolas MAHLE Formare, um projeto que está presente na empresa e na vida de muitas pessoas desde 2002. Trabalhamos com muitos educadores voluntários e incentivamos o compartilhamento de conhecimento e experiência, além do engajamento em uma causa social nobre. Em 2014, a escola passou a formar aprendizes, o que favoreceu o ensino prático e a empregabilidade, mantendo as mesmas premissas de formação para a cidadania. Desde sua implementação, cerca de 1.600 alunos participaram do projeto, alguns seguiram suas carreiras fora da MAHLE, outros permaneceram na empresa.
Escrito por: Redação