Em meio a todos os desafios impostos pela pandemia de Covid-19, as Empresas Randon mantiveram um importante processo de mudança e profissionalização em sua gestão. É nesse sentido que Sérgio L. Carvalho assumiu neste ano como CEO das Empresas Randon. O executivo mantém o cargo de Presidente e CEO da Fras-le, parte do grupo.
As Empresas Randon decidiram pela separação da posição de Presidente e CEO no Grupo, que até então era exercida por Daniel Randon. De acordo com a companhia, a mudança faz parte do plano de profissionalização do grupo e estava prevista desde 2019. Carvalho ressaltou que seu objetivo no novo cargo é dar continuidade aos movimentos de crescimento da companhia. Confira sua entrevista à Mercado Automotivo a seguir:
Mercado Automotivo – Você assume em 2022 como CEO das Empresas Randon. Quais são os principais desafios desta nova experiência?
Sérgio L. Carvalho – Estou muito contente e animado com o desafio que me foi proposto para assumir como CEO das Empresas Randon. É a primeira vez nos 73 anos de história das Empresas Randon que um profissional fora da família assume esta posição e, portanto, me sinto muito honrado.
Na posição que ocupo hoje, estou totalmente conectado à operação, aos desafios vividos pelo nosso negócio nos últimos anos, às estratégias e às transformações que estamos vivendo e, sem dúvida, nosso objetivo é dar continuidade aos movimentos de crescimento da companhia.
Nessa linha, incluímos avanços em mercados de atuação, com foco na expansão internacional, e investimentos em iniciativas envolvendo inovação e com atenção ao ESG [Environmental, social and corporate governance; em português Governança ambiental, social e corporativa]. Estamos cada vez mais trabalhando com pesquisas avançadas e com novas tecnologias com o objetivo de trazer soluções inéditas para nossos clientes, e isso também seguirá como um dos focos nos próximos anos.
MA – Em meio à pandemia de Covid-19, muitas empresas foram obrigadas a rever processos. Mudanças que haviam sido programadas tiveram de ser adiadas ou canceladas. As Empresas Randon, por sua vez, mantiveram os processos de mudanças em sua estrutura organizacional. Gostaria que falasse sobre essa decisão. Por que foi importante manter essas mudanças?
SLC – Acreditamos que toda crise sempre gera oportunidades! A pandemia de Covid-19 nos instigou a acelerar inúmeros projetos e iniciativas dentro das Empresas Randon e, com isso, foi possível avançar ainda mais em processos e práticas inovadoras.
Focamos, principalmente, no desenvolvimento de soluções mais ágeis, fomentando a conexão e parcerias com startups, desenvolvimento de projetos de automação que gerem maior eficiência, produtividade, qualidade, integração entre nossas unidades e segurança. Além disso, reforçamos uma série de ações com olhar para o ESG, como é o caso da governança das Empresas Randon, que também seguiu sua rota de evolução, colocando a empresa sempre em linha com as melhores práticas de mercado.
MA – Também durante a pandemia, muitas empresas tiveram que reduzir suas pautas voltadas à ESG. As Empresas Randon seguem ativas nesses temas? Por quê?
SLC – Correto. É muito simples. Nossas ações voltadas para segurança, saúde dos colaboradores, meio ambiente, social são motivadas principalmente por nossos princípios e não por uma demanda externa, do ambiente de negócios em que nos encontramos. Dessa forma, continuamos fiéis aos nossos valores e sempre aprimorando iniciativas envolvendo ESG com o objetivo de enfrentar os desafios globais e do negócio, além de contribuir para a economia e para um mundo melhor.
Além de inúmeros projetos voltados para a comunidade e ações com foco no meio ambiente, em 2021 tivemos um marco importante na nossa história. Lançamos os nossos Compromissos Públicos ESG, no qual nos comprometemos com metas para diferentes frentes da empresa:
- Duplicar o número de mulheres em cargos de liderança até 2025.
- Zerar acidentes graves.
- Reduzir 40% da emissão de gases de efeito estufa até 2030.
- Zerar a disposição de resíduos em aterro industrial e a reutilização de 100% dos efluentes até 2025.
- Ampliar a receita líquida consolidada anual gerada por novos produtos.
MA – Ainda que seja muito difícil traçar prognósticos, quais são as expectativas das Empresas Randon para o Brasil nestes próximos dois anos? É possível ser otimista?
SLC – É possível ser otimista. Por um lado, existem setores da economia, como o agronegócio, que têm crescido numa velocidade grande, conquistando mais e mais mercados internacionais e desvinculados das incertezas do ambiente doméstico. A população mundial tem crescido numa taxa superior ao aumento da produção de grãos com a proteína animal, e o Brasil tem sido visto com o maior contribuinte para esse problema. Temos demanda reprimida causada pela pandemia e incentivos à recuperação por parte dos governos de muitos países, incluindo o Brasil. Porém, precisamos ser cautelosos.
Temos algumas questões que preocupam se olharmos no curto e médio prazos, como inflação, impacto do aumento da taxa básica de juros, escassez de matéria-prima, além de estarmos em um ano eleitoral no Brasil.
MA – Em sua opinião, é possível dizer que o pior da pandemia já passou? Pergunto em relação aos impactos financeiros causados pela pandemia no País.
SLC – Acreditamos que ao superarmos a atual crise causada pela variante Ômicron, teremos superado a fase mais crítica, em razão da vacinação. Sabemos que o vírus continuará evoluindo e novas variantes surgirão, mas temos esperança de que os investimentos em P&D nos mantenham atualizados com novas soluções capazes de lidar com os novos vírus.
MA – Você considera que o investimento em inovação, pesquisas e desenvolvimento é um grande diferencial para empresas do setor automotivo? É possível sobreviver sem priorizar essas áreas?
SLC – Sem dúvida o investimento em inovação é fundamental para a sobrevivência das empresas. O setor automotivo precisa estar atento e se antecipar a tudo o que surge em termos de pesquisas e novas tecnologias para o segmento.
Nas Empresas Randon, buscamos estar sempre à frente, acelerando a inovação de produtos, de processos e instigando projetos transformacionais, principalmente ligados à smart manufacturing, aumento de sinergias internas e externas, ganhos de eficiência e busca por novas frentes de negócios.
MA – O que você considera mais urgente para as empresas do setor automotivo nesse momento: uma reforma tributária ou investimentos em infraestrutura no País? Por quê?
SLC – Difícil dizer, já que teríamos antes que definir a abrangência e profundidade da reforma tributária, bem como da magnitude dos investimentos em infraestrutura para poder comparar. Sabemos, contudo, que ambos impulsionam a economia e são de importância fundamental para o País.
Ainda temos um longo caminho em relação aos investimentos em infraestrutura no Brasil. Essa é uma questão que precisa de atenção, e com urgência, se quisermos melhorar a nossa mobilidade. Ao mesmo tempo, outro fator importante para as empresas do setor automotivo é não perder o foco na inovação, buscando novas tecnologias e soluções que possam contribuir, também, para a evolução da mobilidade no País.
MA – Gostaria que falasse sobre o desenvolvimento da Fras-le Smart Composites. Qual sua importância para o grupo?
SLC – A Fras-le Smart Composites integra a estratégia da companhia em oferecer novas soluções para os clientes, com o olhar para a sustentabilidade e para a qualidade dos componentes. Sabemos que independentemente da fonte de energia do veículo, quer seja um motor a diesel, a gasolina, elétrico com baterias ou células de hidrogênio, quanto menor for a massa do veículo menor será o consumo de energia, contribuindo para o meio ambiente e gerando créditos de carbono.
Além disso, com este movimento, a companhia acompanha o rumo das megatendências tecnológicas no setor de mobilidade e alinha seu portfólio aos compromissos públicos de sustentabilidade firmados com foco em ESG.
MA – Gostaria que falasse também sobre a criação da Nione. Por que a empresa representa um marco no mercado mundial? Qual seu ineditismo?
SLC – O grande ineditismo da Nione foi a descoberta do novo método para obtenção de nanopartículas de nióbio em larga escala, apresentado em agosto de 2021 pelas Empresas Randon e pela Fras-le. Ainda em dezembro, a Nione lançou o seu primeiro produto: uma pré-mistura com nanopartículas de óxido de nióbio, que servirá como base para aplicação em revestimentos protetivos. Esse lançamento foi possível por meio da parceira com a WEG Tintas, que terá como primeiro cliente a Fremax, também integrante das Empresas Randon.
As nanopartículas de nióbio têm aplicações em inúmeros campos como siderurgia, energia, resinas e tintas, eletrônica e mesmo cosméticos, melhorando, de forma substancial, suas propriedades mecânicas e elétricas, resistência a corrosão, proteção a raios UV, por exemplo.
Dentro do nosso foco de atuação em ESG, é uma estratégia robusta que reforça a nossa preocupação em desenvolver nossos negócios com sustentabilidade e valorização do conhecimento científico e tecnológico.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem a todos os colaboradores e parceiros da Empresa Randon.
SLC – Acreditamos que o ano de 2022 será um bom ano, mesmo que sem a pujança dos mercados como visto em 2021. Continuaremos a investir no crescimento da empresa, expandindo os territórios de atuação e portfólio de produtos, aumentando sua capacidade produtiva, investindo em novas tecnologias disruptivas, em automação e em segurança cibernética.
Sabemos que continuaremos a enfrentar os desafios da pandemia, abastecimento de matérias-primas, da logística internacional, da inflação elevada e as consequências do aumento da taxa de juros (Selic), mas confiamos muito em nosso modelo de negócios diferenciado, em nossos planos estratégicos e táticos, mas principalmente na experiência, capacidade e no engajamento e motivação de nossos colaboradores para continuar vencendo.
Escrito por: Redação