Em livro, jornalista aborda os motivos que levam pessoas inteligentes a cometerem erros idiotas
O estudo sempre foi apontado como uma das principais armas daqueles que desejam crescer na vida e o acesso a ele, inclusive, é determinante já no início das carreiras de jovens por todo o mundo. No Brasil, um país de grande concentração de renda, a instrução acadêmica muitas vezes acaba restrita aos poucos que têm disponibilidade de dispender uma grande quantia de dinheiro em suas formações.
Em muitas situações, entretanto, a inteligência e a instrução acadêmica não são suficientes para bons resultados. E isso, de fato, nos surpreende, já que é fácil esperar êxitos daqueles que, em tese, detêm capacidade intelectual para os desafios.
Chegou às livrarias físicas e virtuais uma obra que pretende explicar uma questão considerada sem resposta para muitos gestores e equipes de trabalho. Em “Por que pessoas inteligentes cometem erros idiotas?” (Editora Sextante, 336 páginas, R$ 50), o jornalista David Robson defende a tese de que inteligência e instrução acadêmica não apenas são incapazes de impedir nossos erros como podem nos tornar até mais vulneráveis a certos tipos de pensamentos considerados estúpidos.
“As pessoas instruídas e inteligentes são menos inclinadas a aprender com seus erros ou a aceitar conselhos. E, quando erram, são mais capazes de criar argumentos elaborados que justifiquem seu raciocínio”, afirma o autor.
De acordo com ele, que é especializado em neurociências e comportamento, esses erros não afetam “somente” nosso sucesso profissional, mas podem influenciar de forma negativa nossa saúde e bem-estar.
“Nos tribunais, [esses erros] podem conduzir a graves erros judiciários. Nos negócios, podem levar à falência e à ruína. Embora esses fenômenos pareçam desconectados, alguns processos são comuns a todos eles: um padrão que vou chamar de ‘armadilha da inteligência’”, completa.
A ideia do autor não é apresentar uma regra, mas explicar que isso ocorre em alguns casos, representando sensíveis prejuízos a pessoas que se consideram inteligentes demais para errar. Robson tem experiência no estudo do assunto. O jornalista graduou-se em Matemática pela Universidade Cambridge e foi editor da revista New Scientist por cinco anos, antes de transferir-se para o site BBC Future. Atualmente colabora com publicações como The Guardian e The Atlantic.
Com uma linguagem por vezes muito técnica, o autor explica que pesquisas recentes começaram a identificar qualidades mentais que podem nos manter no caminho correto. Por exemplo: a humildade intelectual, a mente aberta, a curiosidade, a consciência emocional refinada e o mindset de crescimento.
“Juntas, elas mantêm nossa mente em ordem e evitam que ela dê uma guinada para um penhasco. Isso significa que, qualquer que seja o seu QI, você pode aprender a pensar com mais sabedoria”, complementa.
O autor esclarece que não é necessário ser um ganhador do Prêmio Nobel para obter benefícios com o livro. Apesar de utilizar exemplos práticos de personalidades consideradas geniais em suas áreas, Robson ressalta que seu objetivo é mostrar como as mesmas falhas do pensamento podem levar qualquer um com inteligência acima da média a se equivocar.
“Cientistas da administração, por exemplo, descobriram como culturas corporativas ruins, que enfatizam o aumento da produtividade, podem reproduzir tomadas de decisões irracionais que vemos em equipes esportivas, empresas e organizações governamentais. Como resultado, é possível haver equipes inteiras formadas por profissionais muito inteligentes que, no entanto, tomam decisões incrivelmente estúpidas”, afirma.
“As consequências são graves. […] A maioria desses equívocos não pode ser explicada pela falta de experiência ou de conhecimento. Ao contrário: eles parecem surgir de certos hábitos mentais falhos que nascem da inteligência, do estudo e da perícia profissional superiores. Erros semelhantes podem fazer aeronaves colidir, o mercado de ações implodir e líderes mundiais ignorar ameaças globais, como a mudança climática”, completa.
Ao longo da obra, Robson explora as razões pelas quais, em alguns casos, o QI alto, a educação e a competência podem, na verdade, fomentar a estupidez. O autor também mostra, através de exemplos práticos, como escapar da “armadilha da inteligência” a partir de ferramentas para raciocinar e tomar decisões.
Na terceira parte da obra, o jornalista destaca elementos da arte da aprendizagem bem-sucedida, ressaltando como a sabedoria baseada em evidências pode melhorar a memória. Por fim, explora a loucura e a sabedoria da multidão: como equipes e organizações podem evitar a armadilha da inteligência.
O livro é interessante porque não aborda simplesmente elementos individuais para avaliar o tema, de modo que sempre conecta as ideias com a temática da gestão moderna de equipe. Naturalmente, todos cometemos erros. O objetivo do livro, no entanto, é mostrar que erros bobos podem acontecer em razão, por exemplo, do excesso de confiança daqueles que detêm inteligência e conhecimento acima da média.
“Talvez a melhor analogia para isso seja com um carro. Um motor potente pode fazer você chegar mais rápido aos lugares se souber usá-lo de forma correta, mas o simples fato de ter um motor com mais cavalos não garante que você chegará com segurança ao seu destino. Sem conhecimento e equipamento corretos (os freios, o volante, o velocímetro) […], um motor potente pode simplesmente fazê-lo ficar rodando em círculos ou entrar num congestionamento. E, quanto mais rápido o motor, mais perigoso você é”, escreve o autor no livro. Vale a leitura!
Escrito por: Redação