Em livro, pesquisadora explica processo científico para promover mudanças positivas e duradouras
Chega às livrarias ao final deste primeiro semestre um livro que pretende simplificar os processos de formação de hábitos. Com base em três décadas de pesquisas, a professora de Psicologia e Negócios Wendy Wood, da Universidade do Sul da Califórnia (EUA), apresenta a fascinante ciência de como formamos hábitos – e mostra como desbloquear a mente para realizar as mudanças que buscamos.
No livro “Bons hábitos, maus hábitos” (Editora Sextante, 272 páginas, R$ 40), Wood explica que quase metade das nossas ações (43%) não são escolhas conscientes. Ou seja, nós as fazemos automaticamente, por hábito. É assim que respondemos às pessoas ao nosso redor, decidimos o que comprar, quando e como nos exercitar, comer ou beber.
No entanto, conforme reforça a autora, sempre que queremos melhorar algo em nós mesmos, contamos com a força de vontade. Insistimos em recorrer ao nosso consciente, na esperança de que a determinação seja capaz de promover mudanças positivas. Por isso é que falhamos tantas vezes.
“Talvez você já tenha tentado economizar organizando seu orçamento. Ou tenha tentado aprender um novo idioma num curso on-line. Talvez seu objetivo tenha sido sair mais e conhecer pessoas. No começo, suas intenções foram fortes, apaixonadas, resolutas. Mas, com o passar do tempo, você não conseguiu manter esse compromisso. E o resultado desejado simplesmente não aconteceu”, afirma a autora, no livro.
“Essa é uma experiência humana muito comum: queremos realizar uma mudança e estabelecemos fortes intenções. Deveria ser o suficiente. Basta lembrar quanto é unânime o senso comum sobre esse assunto: ‘Ela não teve força de vontade’. Ou: ‘Você está fazendo o melhor que pode?’”, completa.
O livro é uma combinação potente de neurociência, estudo de casos e relato de experimentos que promete mudar a maneira de pensar do leitor sobre quase todos os aspectos da vida e lhe dar ferramentas concretas para transformar seu dia a dia.
A autora questiona, por exemplo, o que faríamos se pudéssemos aproveitar o poder extraordinário do inconsciente, que já determina grande parte do que fazemos, para alcançar nossos objetivos?
Wood foi colunista do The Washington Post e do Los Angeles Times, além de ter artigos publicados no The New York Times, no Chicago Tribune, na revista Time e no USA Today. Formada pela Universidade de Massachusetts, há 30 anos se dedica a compreender como funciona o mecanismo humano de formação de hábitos.
Com uma linguagem relativamente acessível, ainda que trate de temas considerados mais técnicos, a autora pretende explicar aos leitores de forma didática o funcionamento do cérebro humano. De acordo com ela, nosso cérebro é preparado para responder a recompensas, receber dicas do ambiente e desligar quando detecta muito atrito. Além disso, o leitor poderá descobrir como tirar vantagem desse conhecimento para formar hábitos mais positivos e construir a vida que realmente quer.
As mudanças de hábitos decorrem diretamente desse entendimento do funcionamento do cérebro humano. De acordo com a autora, o primeiro passo é compreender e reconhecer que, como seres humanos, não somos totalmente racionais.
“Nossas ações podem ser motivadas por razões obscuras. As coisas em que nos baseamos podem ser surpreendentes. Nos últimos anos, os cientistas começaram a desvendar nossa natureza multifacetada e identificar os preconceitos e as preferências decorrentes dela”, explica no livro.
“Nosso comportamento tem origem em algumas das mais misteriosas, ocultas e (até recentemente) não reconhecidas fontes de irracionalidade. […] O que está atrapalhando todos nós? A resposta é que, na verdade, não entendemos o que, de fato, motiva nosso comportamento. E o problema é ainda mais complexo. Precisamos parar de superestimar nosso eu racional e compreender que também somos constituídos por partes mais profundas. Podemos pensar nessas outras partes de nós como pessoas que esperam nosso reconhecimento – e aguardam nossas ordens para agir”, completa.
Para a professora, um dos enigmas que mais a incentivou a estudar a formação e mudança dos hábitos é o comportamento extremamente comum de tomar facilmente uma decisão inicial de mudar, mas sem conseguir persistir na mudança a longo prazo.
“Quando eu era estudante de pós-graduação e jovem professora, vi alguns dos meus colegas mais motivados e talentosos sofrerem com esse dilema. Eles queriam conquistar seus objetivos e, para isso, começaram projetos interessantes, mas não conseguiram enfrentar o desafio de se manterem produtivos no ambiente universitário altamente desestruturado”, explica.
E o livro vem num momento muito interessante para os leitores. Após a chegada da pandemia, com a implementação do modelo home office em boa parte das empresas, muitos colaboradores passaram a apresentar grandes dificuldades para estruturar novas rotinas. Afinal, como conciliar as tarefas diárias e domésticas com o trabalho remunerado à distância?
Muitos enxergaram, logo de início, uma ótima oportunidade para estabelecerem novos hábitos, tornando suas rotinas mais eficientes, saudáveis e organizadas. No entanto, com o passar do tempo, verificaram todas as dificuldades em, de fato, implementar essas mudanças de hábitos e mantê-las ao longo dos meses seguintes. Quem sabe, entender a formação do processo de hábitos possa ajudar a alterá-los de forma mais eficaz e duradoura. Vale a leitura!
Escrito por: Redação