Crescimento de fintechs busca popularizar serviços financeiros mais ágeis e menos burocráticos.
São muitas as mudanças verificadas nos últimos 15, 20 anos por quem atua no setor da reposição automotiva
brasileira. Grande parte delas impulsionadas simplesmente pelos adventos tecnológicos que trouxeram
realidades completamente distintas tanto para a indústria quanto para os consumidores. Quem não se adequa a essas novidades acaba ficando para trás. Em muitos casos, sequer conseguem sobreviver.
Um dos exemplos de novidades no mercado brasileiro são as chamadas fintechs, startups cujo principal
lema seria inovar e otimizar serviços do sistema financeiro. Fintech é um termo que surgiu da junção das palavras financial (financeiro) e technology (tecnologia). Basicamente, seria uma empresa que adota tecnologia de forma intensiva para oferecer produtos e soluções financeiras. Mesmo diante da forte regulação sobre o sistema bancário, as fintechs surgiram como uma opção que busca atingir essencialmente dois tipos de públicos:
•jovens, com perfil tecnológico, com aversão a burocracia e taxas referentes a serviços que não usa e/ou que sequer sabe que dispõe;
•comerciantes, dos mais diversos setores de atuação, preocupados em otimizar seus ganhos a partir de taxas menores, bem como qualificar seu tempo utilizando serviços estrategicamente desenhados para sua demanda.
A base das fintechs, afinal, é a tecnologia. Os serviços oferecidos por elas são, na maior parte das vezes, idênticos aos prestados por instituições financeiras tradicionais. O que muda é a forma como os clientes têm acesso a eles, sempre priorizando agilidade, velocidade e segurança. Burocracia é a palavra a ser esquecida nesse ambiente.
Por meio desse formato, as fintechs cresceram de forma significativa no mercado brasileiro nos últimos anos. De acordo com levantamento realizado pela Fintechlab, site especializado no segmento, somente nos últimos 10 meses houve um aumento de 33% no número de instituições desse tipo. Já são mais de 500 fintechs no País.
Para Marcos Morita, gestor de Inovação da BankRisk, o cenário representa uma significativa mudança no universo dos bancos tradicionais. De acordo com ele, entretanto, trata-se de uma alteração que também foi vivenciada por outros setores da economia, influenciadas principalmente pela chamada disrupção digital.
“A vida dos bancos não será fácil daqui para frente, assim como não foi para diversos mercados e empresas afetados pela disrupção digital, tais como: táxis, hotéis, locadoras, editoras e livrarias. Cabe a estes gigantes financeiros continuar o movimento para diminuir a erosão de suas bases de clientes e mudar seus modelos de negócios, ao mesmo tempo em que sofrerão pressões por melhores serviços e menores taxas”, explica.
Morita ressalta, no entanto, os pontos que podem ser favoráveis aos bancos com estrutura tradicional neste cenário desafiador. “A seu favor, estes gigantes financeiros contam com forte capitalização, robusta base de clientes, além da confiança de seus stakeholders com respeito a sua solidez financeira. O grande fator desafiador estará a cargo de seus
gestores na mudança de mindset necessária para atuarem em um ambiente diferente do atual, onde reinarão a experiência do cliente e a elevada concorrência”, completa.
O especialista avalia que são cinco as principais razões pelas quais as fintechs têm ampliado seu espaço no Brasil e em outros mercados (ameaçando assim um cenário até então dominado por gigantes tradicionais do setor bancário). São elas:
•Tecnologia: Morita chama a atenção para a chamada Lei de Moore, profetizada pelo cofundador da Intel há mais de meio século, segundo a qual o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses. A “profecia” foi ratificada pelo conceito de abundância de Peter Diamandis, presidente da Singularity University. “Armazenamento, processamento
e tecnologias como inteligência artificial, robótica, manufatura digital, nanomateriais e biologia sintética são hoje
acessíveis a novos entrantes, facilitando a entrada nos mercados. Startups são basicamente empresas com forte base tecnológica”, avalia o especialista.
•Empreendedorismo: espelhando-se nas iniciativas desenvolvidas no Vale do Silício (Estados Unidos), jovens brasileiros buscam replicar por aqui ecossistemas robustos: incubadoras, aceleradoras, fundos e investidores-anjo, nas mais diversas regiões do País. “Hoje, criar ou trabalhar em uma startup é um dos grandes motivadores de millennials em busca de propósito. Quer uma prova? Pela primeira vez, o maior contratante de engenheiros da Poli (USP) não foi um dos grandes
bancos tradicionais, e sim o Nubank. Tal informação reafirma a pesquisa que traz o novo unicórnio financeiro no ranking das empresas mais desejadas, de acordo com estudo da Cia. de Talentos”, completa Morita.
•Tendências globais: a proposta das fintechs corresponde a uma tendência global. Na China, por exemplo, há dois serviços que dominam o mercado de pagamentos. WeChat Pay, uma espécie de WhatsApp chinês, e AliPay, do conglomerado Alibaba, operam em apenas um mês valores superiores ao volume anual do PayPal. “Ambos são considerados Big Techs, gigantes tecnológicos que utilizam sua plataforma para alavancar novos mercados. Apple, Facebook, Google e outros
gigantes estão de olho nesse mercado. Se do outro lado do mundo deu certo, por que não por aqui?”, afirma.
•Regulamentação: segundo o especialista, atualmente mais de 80% dos ativos estão concentrados em apenas cinco grandes
organizações bancárias. “Esta distorção traz desafios aos reguladores do sistema, no caso o Banco Central do Brasil, cuja agenda para os próximos anos traz como objetivos o aumento da concorrência, a redução nos spreads e a universalização dos serviços. Situação análoga ocorre na aviação e telefonia celular, só para mencionar dois exemplos”.
•Oferta de serviços: o parágrafo anterior tem relação direta com a atenção dedicada aos clientes, ressalta Morita. Ele explica
que a combinação de baixa concorrência, poucos produtos substitutos e barreiras de entrada relevantes trouxe uma certa
“acomodação” aos participantes, cuja consequência se traduz nos rankings de reclamações de órgãos de defesa do consumidor. “Em contrapartida, pesquisas têm demonstrado uma crescente satisfação dos clientes com as fintechs, cuja oferta de serviços compreende taxas mais amigáveis, atendimento humanizado, flexibilidade e empatia”, avalia.
No fundo, os comerciantes acabam vivenciando as mesmas experiências positivas “vendidas” ao público jovem que está chegando agora no mercado de trabalho. A diferença é que, ao menos nesse momento, muitos comerciantes parecem
ainda optar pela segurança e confiabilidade que sentem ser maiores nos bancos tradicionais.
O fato é que até mesmo as fintechs passaram a se organizar de modo a oferecer segurança a clientes tão acostumados com a estrutura tradicional dos bancos. A Associação Brasileira de fintechs, por exemplo, constitui um grupo de empresas desse tipo que tem como propósito gerar negócios aos associados e proporcionar impacto social através do acesso à inovação e crescimento do empreendedorismo.
Mais do que isso, entretanto, a associação também busca representar interesses das fintechs brasileiras junto a órgãos de regulamentação. Isso tudo porque, além de ampliar o número de opções aos clientes, o crescimento das fintechs tem acompanhado também uma movimentação muito mais significativa de investimentos no setor.
Uma das últimas novidades do setor foi a aquisição da plataforma MEI Fácil pela Neon, startup brasileira de contas digitais. A Neon já proporcionava modelos de contas muito semelhantes às bancárias, mas buscava se diferenciar nas taxas e na tecnologia investida em seu sistema.
A MEI Fácil, por sua vez, oferece soluções que são voltadas aos microempreendedores, como maquininhas, gestão do CNPJ de forma on-line e também serviços de contabilidade. São opções cujo foco principal é “desafogar” o microempreendedor
que não tem condições de arcar com um banco para sua conta pessoa jurídica, um escritório de contabilidade e outros
serviços pagos à parte.
Esse é justamente um dos principais focos das fintechs, já que grandes empresas (e algumas médias) ainda preferem
contar com a estrutura diversificada e solidificada dos bancos tradicionais. O microempreendedor, por sua vez,
precisa de serviços simples e diretos, que evitem um dos erros mais fatais a esse tipo de negócio: a confusão entre
o patrimônio pessoal e o empresarial.
Para atrair novos clientes, as fintechs têm oferecido serviços com taxas mínimas, seja em relação ao uso de cartões, antecipação de recebíveis, ou aos serviços tradicionais como transferências e pagamentos on-line. Atentos a isso, os bancos têm investido cada vez mais em seus setores digitais com o objetivo de diminuir as cobranças aos clientes, mantendo
a seriedade que sempre lhes foi tradicional.
Não é uma disputa simples. Há quem, inclusive, opte por permanecer em seu banco para simplesmente evitar a “dor de cabeça” e os contratempos relativos a uma mudança. Para quem está disposto a correr atrás de novas funcionalidades
e taxas mais atraentes, vale a pena pesquisar bem o mercado. Sempre atento, é claro, à segurança que é oferecida (e garantida) pelas empresas que aportam agora no mercado brasileiro.
A disputa promete, e quem ganha são os clientes. Fique atento, portanto, para entender como sua empresa pode se beneficiar dos novos atores que chegam agora ao cenário automotivo brasileiro. Não importa o tamanho da sua empresa, é
essencial atentar-se aos benefícios oferecidos pelos serviços que você terceiriza, como os bancários (naturalmente) e os
contábeis de forma geral.
Diferentemente de tempos muito recentes, a possibilidade de contar com outros fornecedores atualmente é muito ampla. Além disso, é preciso avaliar o ganho obtido com as facilidades oferecidas por seu banco, especialmente no ambiente on-line. O uso dos bancos deve ser cada vez mais facilitado, impedindo que as empresas percam (mais) tempo em tarefas que estão longe de suas atividades-fim.
Escrito por: Redação