Intenção do governo é melhorar a competitividade das empresas brasileiras, fomentando projetos de tecnologia 4.0
O Ministério da Economia lançou em junho, por meio da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade, duas modalidades do Programa Brasil Mais. Trata–se de uma nova tentativa dos órgãos públicos para recuperar micro e pequenas empresas fortemente afetadas pela pandemia de Covid-19, ou ao menos minimizar os efeitos até hoje sentidos por elas.
As duas novas modalidades pretendem promover a melhoria da competitividade das empresas brasileiras, disponibilizando ferramentas para que elas se digitalizem e desenvolvam projetos de tecnologia 4.0.
Chamada de Transformação Digital, a primeira modalidade consiste na adoção de ferramentas plug and play (com reconhecimento e instalação automática pelo computador) de baixo custo para um pequeno negócio para resolver problemas previamente diagnosticados decorrentes da falta de digitalização. O processo terá acompanhamento técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
A segunda nova modalidade, Smart Factory, é destinada às indústrias de micro, pequeno e médio portes. O processo prevê a seleção de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Os projetos deverão seguir a tecnologia 4.0, que prevê a melhoria de processos industriais e o aumento de produtividade decorrente da modernização.
Além do Senai, o Smart Factory terá o apoio do Ministério da Economia, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ampliação
A partir dessa ampliação, o Programa Brasil Mais passa a contar com três modalidades de atendimento. Até agora, o programa era estruturado no Brasil Mais Produtividade, que tem 90 mil empresas atendidas ou em atendimento desde que foi lançado, no primeiro semestre de 2020.
O Brasil Mais Produtividade é dividido em dois eixos: um com apoio do Sebrae e outro com apoio do Senai. O eixo do Sebrae prevê consultorias de inovação e de melhorias de práticas gerenciais, para aumentar o faturamento e reduzir custo de micro e pequenas empresas. O pequeno negócio não paga nada.
O eixo do Senai é voltado para a aplicação de princípios de manufatura enxuta a indústrias de até 499 funcionários. Os atendimentos são feitos pela entidade a um custo de R$ 2,4 mil para a empresa.
Comércio amplia confiança
Em paralelo aos programas dos órgãos públicos para recuperar as empresas, pesquisas em nível nacional têm mostrado que alguns setores do mercado estão recuperando a confiança aos poucos.
De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o Índice de Confiança do Comércio (Icom) subiu 4,6 pontos em junho e alcançou 97,9 pontos. É o maior nível desde agosto do ano passado, quando o índice ficou em 100,9 pontos. Em médias móveis trimestrais, o Icom avançou 3,7 pontos, o que representa o quarto resultado positivo em sequência.
De acordo com o economista do FGV Ibre Rodolpho Tobler, a melhora no mês ocorreu nos dois horizontes temporais, mas foi maior no Índice de Situação Atual (ISA-COM), que mede a percepção com o volume de vendas no momento.
“O ISA-COM acumula alta de mais de 30 pontos nos últimos quatro meses, recuperando o que foi perdido na desaceleração ocorrida entre o final de 2021 e início de 2022. Para os próximos meses, ainda é necessária certa cautela, o grande desafio passa a ser a continuidade desse cenário favorável mesmo com o fim da liberação de recursos extraordinários, ambiente macroeconômico ainda desfavorável e confiança do consumidor em patamar baixo.”
Segundo o FGV Ibre, em junho a alta ocorreu nos seis principais segmentos da pesquisa, influenciado pelo avanço do ISA-COM, com aumento de 7,4 pontos, e também do Índice de Expectativas (IE-COM), que avançou 1,8 ponto, para 87,5 pontos. O ISA-COM subiu pelo quarto mês consecutivo e atingiu 108,5 pontos, o maior valor desde julho de 2021, quando ficou em 108,7 pontos.
Dessa forma, a confiança do comércio encerra o segundo trimestre do ano em alta, puxada pelas percepções sobre o momento presente. O instituto ressalta que o ISA-COM passou por uma queda contínua do final de 2021 até o início de 2022, mas na passagem do primeiro para o segundo trimestre acumulou uma sequência de altas, conseguindo recuperar o patamar do meio do ano passado.
Outro índice de confiança do comércio, desta vez divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), também exibiu aumento ao final do primeiro semestre. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) subiu 5,1% de maio para junho deste ano e atingiu 122,4 pontos, em uma escala de 0 a 200 pontos. É o maior nível do indicador desde março de 2020 (128,4 pontos).
A confiança do empresário na situação atual subiu 9,9%, principalmente pelo aumento de 12,4% da avaliação sobre o momento atual da economia. As expectativas também cresceram (3,5%), puxadas pela melhor avaliação em relação à economia (4,5%). As intenções de investimentos tiveram alta de 3,6%, puxada pelos investimentos na empresa (6%) e pela contratação de funcionários (4,2%).
Na comparação com junho de 2021, o Icec teve alta de 24,4%, com crescimentos de 57,2% na situação atual, 10,5% em relação às expectativas e 21,3% quanto às intenções de investimentos.
Inflação segue em alta
Apesar da confiança momentânea de parte do mercado, o brasileiro continua sofrendo com a inflação em alta. De acordo com informações divulgadas pela FGV, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) registrou inflação de 0,59% em junho deste ano, percentual maior que o de maio: 0,52%. Com o resultado, o indicador acumula 8,16% em 2022. Em 12 meses, o IGP-M é de 10,70%, abaixo dos 35,75% acumulados em junho do ano passado.
A alta do IGP-M de maio para junho foi puxada pelos preços no varejo e pelo custo da construção. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede o varejo, subiu de 0,35% em maio para 0,71% em junho. Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) passou de 1,49% para 2,81% no período. E o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que mede o atacado, teve queda ao passar de 0,45% em maio para 0,30% em junho.
O que os números, de forma geral, seguem evidenciando é que o cenário econômico nacional ainda é muito instável, principalmente quando se leva em consideração que os próximos meses deverão seguir atribulados em razão da proximidade das eleições. A inflação em alta tira o poder de compra dos consumidores e impacta também decisões de médio e longo prazos, já que os brasileiros se sentem cada vez mais desmotivados em contrair dívidas.
Para os próximos bimestres, é necessário contemplar com atenção os números relativos principalmente ao licenciamento de novos veículos. Trata-se de um importante termômetro para entender melhor as intenções do brasileiro em relação ao consumo neste momento, no qual determinados setores do mercado expressam otimismo com a recuperação nacional, enquanto a população como um todo ainda se preocupa com a alta constante da inflação.
*Com informações da Agência Brasil
Escrito por: Redação