Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), fala sobre a importância da manutenção veicular em meio aos desafios gerados pela pandemia de Covid-19, que impactou sensivelmente a produção e venda de veículos novos.
Ioschpe é também presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), membro do Conselho de Administração da Fundação Ioschpe e membro do Conselho Deliberativo da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Dentre outros assuntos, o executivo abordou também as dificuldades impostas pela falta de matéria-prima às indústrias de diversos setores. Confira a seguir.
Mercado Automotivo – A pandemia gerou uma crise de desabastecimento de matéria-prima em diversos setores, incluindo o de reposição automotiva. Gostaria que falasse sobre as dificuldades e os desafios que o mercado da reposição enfrentou nesse período.
Dan Ioschpe – Com os desarranjos nas cadeias de produção provocados pela pandemia, houve inicialmente algum atraso na recuperação do ritmo entre oferta e demanda de diversas matérias-primas. Atualmente, porém, o maior desafio é a escassez mundial de semicondutores, que afeta a produção de diversos produtos em muitos setores, incluindo o nosso.
MA – Em relação à falta de matéria-prima para a reposição automotiva, é possível ser otimista em relação aos próximos semestres? O senhor espera que a situação se normalize?
DI – Acreditamos que ao longo de 2022 a situação volte ao normal, pela reorganização das cadeias produtivas e por melhor entendimento das novas demandas dos consumidores.
MA – A pandemia também impactou a disponibilidade de veículos novos. O senhor vê um movimento de valorização da manutenção veicular ou entende que isso ainda deve levar alguns anos?
DI – Com certeza. A falta de oferta de veículos novos valorizou os veículos usados ao redor do mundo, realçando o valor da sua manutenção.
MA – Gostaria que falasse sobre a iniciativa Mobilidade Sustentável de Baixo Carbono (MSBC) no Brasil. Recentemente, entidades dos setores automotivos e de biocombustíveis se uniram para promover esse assunto. Qual é a importância desse assunto no âmbito automotivo especificamente?
DI – O Mobilidade Sustentável de Baixo Carbono busca a cooperação multidisciplinar sobre temas relacionados à descarbonização da mobilidade, contribuindo para as discussões sobre políticas públicas que envolvam tecnologias de baixo carbono, entre elas a hibridização e as células de combustível, que usem fontes sustentáveis de energia, estimulando o desenvolvimento econômico equilibrado e socialmente inclusivo.
Para o Sindipeças, o Brasil tem larga experiência na utilização do etanol como combustível veicular limpo e sustentável, com vasto parque instalado e profissionais capacitados. A entidade entende que esse diferencial deve ser considerado nessa discussão, de abrangência global.
O assunto é muito importante. E respeitada a visão agnóstica, que permita ao consumidor fazer as suas opções, poderá contribuir bastante com o avanço deste tema no Brasil.
MA – Quando falamos em mobilidade sustentável, qual é o desempenho do Brasil diante de outros países da Europa e os Estados Unidos? Temos vantagens nessa seara?
DI – Mais do que vantagens ou desvantagens, temos características e históricos distintos. Mas, no fim do dia, deveríamos todos mirar o mesmo objetivo, que seria a sustentabilidade socioambiental, sempre considerando o ciclo completo das alternativas possíveis de propulsão da mobilidade.
MA – Qual é a expectativa do Sindipeças para uma eventual reforma tributária no Brasil? Quais seriam os principais benefícios esperados pela entidade?
DI – Nossa expectativa é de que haja uma reforma dos impostos incidentes sobre o consumo de bens e serviços, criando-se um imposto único sobre o valor agregado, nos moldes pensados na PEC45 e parcialmente considerados na PEC110. Essa reforma impulsionaria o crescimento econômico e reduziria de forma significativa o chamado Custo Brasil.
MA – Gostaria que falasse sobre investimento em tecnologia e inovação no mercado de reposição automotiva. O senhor considera que já não há chances de sobrevivência, em médio prazo, para empresas sem qualquer foco em aprimoramento tecnológico? Ou o mercado ainda comporta uma demanda específica e que não exige tanta inovação?
DI – Inovação é cada vez mais aspecto fundamental da atividade empresarial em qualquer setor e em qualquer lugar do mundo. Por isso, defendemos a continuidade do programa Rota 2030, modelo muito interessante de estímulo aos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação em nosso país.
Também por isso, no âmbito do setor de autopeças, desenvolvemos o Inova Sindipeças, que busca despertar a cultura de inovação para geração de novas ideias, novos modelos de negócio, novos produtos e serviços nas empresas associadas; auxiliar no aumento de competitividade e viabilidade das empresas, e a inserção do setor nas cadeias globais de valor.
MA – Quais são os principais desafios institucionais do Sindipeças para os próximos dois anos no Brasil?
DI – Defendemos uma agenda que elimine os entraves horizontais à competitividade, que atingem todos os setores da economia em nosso país. Assim como políticas públicas que acelerem a inovação e a integração de nosso país ao mundo, preferencialmente por meio de acordos internacionais.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem a todos os associados e parceiros do Sindipeças para o ano que se aproxima.
DI – Passamos por um período muito desafiador, por conta da pandemia e suas decorrências. Vamos seguir vigilantes e ativos, para que possamos virar essa página em breve.
Escrito por: Redação