Ainda em fase de testes, tecnologia impressiona pela capacidade de imitar o ser humano em diversas tarefas
Na virada de 2021 para 2022, a apresentação de uma nova tecnologia chamou a atenção nos quatro cantos do Planeta. Ainda em versão de teste, o ChatGPT vem surpreendendo centenas de milhares de pessoas pelas capacidades demonstradas, mas também gera apreensão e receio em relação às consequências de seu uso para áreas como Educação, Ciência, interação entre marcas e consumidores, dentre outras.
Nos últimos anos, sistemas de inteligência artificial disponíveis em celulares e outros aparelhos eletrônicos já impressionaram e aproximaram o imaginário popular para uma versão de futuro retratada em obras de ficção científica, na qual assistentes automatizados conduzem centenas de tarefas para facilitar o dia a dia das pessoas em casa e no trabalho. Assim, bastava um comando de voz para solicitar aos aparelhos a previsão do tempo, uma informação histórica ou uma receita culinária.
Ocorre que esses sistemas não eram realistas o suficiente em médio e longo prazos. Após a curiosidade inicial, surgiram vários relatos de casos em que os sistemas não reconheciam as perguntas feitas em português e retornavam com respostas completamente dissociadas do esperado. Em entrevista à Agência Brasil, o professor do Departamento de Automação e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Eric Aislan Antonelo relatou que o fascínio com o ChatGPT resulta do seu relevante avanço frente às inteligências artificiais já testadas nas últimas décadas.
“Acho que a surpresa tem a ver com o fato de este modelo ser o que, até o momento, mais se aproximou daquilo que [os desenvolvedores de] a inteligência artificial vêm buscando há décadas: produzir um sistema capaz de imitar, do modo mais realista possível, a forma de um ser humano se comunicar”, afirmou.
De acordo com Aislan, especialista em inteligência artificial, o ChatGPT reproduz o funcionamento do cérebro humano, incluindo a capacidade de aprender sozinho a partir de novas experiências. No caso, o ChatGPT recombina informações preexistentes, o que o sistema é capaz de fazer graças ao que os especialistas conhecem como Aprendizagem por Reforço com Feedback Humano (do inglês, Reinforcement Learning from Human Feedback). Em seu site, a OpenAI, desenvolvedora do sistema, destaca que, graças a isso, o modelo é capaz de “interagir” com os usuários, “respondendo a perguntas”, “contestando premissas incorretas”, “rejeitando solicitações inadequadas” e até mesmo “admitindo seus próprios erros”.
“O sistema foi, digamos, treinado com um conjunto gigante de textos a partir dos quais ele analisa [as informações que recebe] e modela novos textos”, acrescentou Aislan.
ChatGPT por si próprio
Neste momento, o ChatGPT pode ser testado gratuitamente em seu site (chat.openai.com/chat). Com apenas cinco dias, o sistema atingiu um milhão de usuários. Para se ter uma ideia, o Instagram levou dois meses e meio para chegar ao mesmo patamar a partir de seu lançamento. Facebook (10 meses), Twitter (2 anos) e Netflix (3 anos e meio) são outros exemplos de plataformas de sucesso que demoraram muito mais para atingir a marca de um milhão de usuários.
A Microsoft é parceira da OpenAI no desenvolvimento do ChatGPT e já investiu bilhões de dólares no projeto, planejando introduzir o sistema no Word, Outlook e PowerPoint. Para gerar uma base de conhecimento, o ChatGPT passou vários meses em 2022 coletando bilhões de informações de toda a internet, através de centenas de “supercomputadores”.
A revista Mercado Automotivo “conversou” com o ChatGPT. De fato, impressiona a velocidade da ferramenta para gerar um conteúdo que não pode ser definido simplesmente como um “copia e cola”. Uma das características da tecnologia é justamente utilizar o conhecimento de sua base para gerar uma resposta distinta da outra, adaptada cada vez mais à pergunta feita pelo usuário.
Afinal, como definir o ChatGPT? Em suas próprias palavras, quando questionado pela Mercado Automotivo, o sistema respondeu: “ChatGPT é um modelo de linguagem grande treinado pela OpenAI. Ele foi treinado usando um grande conjunto de dados de texto e é capaz de gerar texto de forma autônoma, com base em exemplos de texto fornecidos. Ele é usado em uma variedade de aplicações, incluindo gerar respostas automatizadas para perguntas, criar conteúdo automatizado e ajudar a melhorar a interação com chatbots”.
E como o sistema poderia ser útil ao mercado automotivo, de forma geral? Novamente, em suas próprias palavras:
“O ChatGPT pode ser útil para o mercado automotivo de várias maneiras, algumas delas incluem:
- Gerar conteúdo automatizado: O ChatGPT pode ser usado para gerar descrições de veículos, anúncios de carros e outros tipos de conteúdo relacionado a automóveis de forma automatizada. Isso pode ajudar a economizar tempo e recursos para as montadoras e revendedores de automóveis.
- Interação com chatbots: O ChatGPT pode ser usado para melhorar a interação com chatbots em sites de montadoras e revendedores de automóveis. Ele pode responder perguntas sobre especificações de veículos, preços e disponibilidade de estoque de forma rápida e precisa.
- Análise de sentimento: O ChatGPT pode ser usado para analisar comentários e feedback de clientes sobre veículos específicos, ajudando as montadoras a identificar problemas e tendências.
- Geração de relatórios: O ChatGPT pode ser usado para gerar relatórios automatizados sobre vendas, estoque, tendências de mercado e outras informações importantes para as montadoras e revendedores de automóveis.
- Ajudar a desenvolver novos carros: O ChatGPT pode ser usado para ajudar os engenheiros a desenvolver carros mais inteligentes e seguros, ajudando a identificar problemas e tendências que podem ser melhoradas.”
A Mercado Automotivo foi além e questionou o sistema sobre a sua utilidade especificamente para o setor da reposição automotiva. Eis o que o ChatGPT respondeu, de forma imediata:
“O ChatGPT pode ser útil ao setor de reposição automotiva de várias maneiras, algumas delas incluem:
- Identificação de peças: O ChatGPT pode ser usado para identificar peças de reposição específicas para veículos, ajudando a encontrar peças compatíveis mais rapidamente.
- Suporte ao cliente: O ChatGPT pode ser usado para melhorar a interação com chatbots em sites de distribuidores de peças de reposição automotiva, responder perguntas sobre disponibilidade de estoque, preços e especificações de peças.
- Geração de catálogos: O ChatGPT pode ser usado para gerar catálogos automatizados de peças de reposição, incluindo descrições, especificações e preços, o que pode ajudar a economizar tempo e recursos para os distribuidores.
- Análise de tendências de mercado: O ChatGPT pode ser usado para analisar tendências de mercado, identificando quais peças são mais procuradas e ajudando os distribuidores a planejar seus estoques.
- Diagnóstico automotivo: O ChatGPT pode ser usado para ajudar os mecânicos a diagnosticar problemas de veículos, sugerindo peças de reposição específicas e ajudando a encontrar a causa raiz de problemas.
Questionou-se então se ele saberia identificar os principais problemas que afligem o setor de reposição automotiva no Brasil atualmente? Novamente, de forma imediata, o sistema respondeu:
“Um dos principais problemas do setor de reposição automotiva no Brasil é a falta de regulamentação e fiscalização de peças de reposição. Isso tem permitido a entrada de peças falsificadas no mercado, que geralmente são de qualidade inferior e podem causar problemas de segurança e comprometer o desempenho do veículo. Além disso, essas peças falsificadas podem ser mais baratas do que as peças originais, o que as torna atrativas para os clientes e dificulta a competição justa para os distribuidores de peças originais”, disse.
“Outro problema é a dificuldade de obtenção de peças de reposição para veículos importados e veículos antigos. Isso pode dificultar a manutenção de veículos importados e antigos, diminuindo sua vida útil e aumentando os custos para os donos. Além disso, a logística também pode ser um problema para o setor de reposição automotiva no Brasil, devido às longas distâncias e à falta de infraestrutura de transporte eficiente. Isso pode resultar em atrasos na entrega de peças e aumento dos custos para os distribuidores”, completou.
Polêmicas
A segunda reação de quem experimenta o ChatGPT é de, no mínimo, receio. Afinal, qual é o limite da ferramenta? Quando questionado pela Agência Brasil, o sistema afirmou que não é possível saber se um texto foi escrito pelo ChatGPT ou por uma pessoa. Apesar disso, a própria ferramenta ressalta que não é infalível, e que seus textos não terão a mesma sensabilidade e empatia que os escritos por um ser humano. Além disso, se a inteligência artificial do ChatGPT for mal programada, poderá gerar conteúdos errôneos ou imprevisíveis.
O período de testes do ChatGPT (pouco mais de três meses) já foi suficiente para gerar uma série de preocupações a respeito de seu uso, principalmente quando for implementado de vez em outras ferramentas. Algumas informações passadas pelo sistema foram claramente incorretas (por exemplo, afirmou que o Brasil já havia ganho ao menos cinco prêmios no Oscar – o País nunca levou uma estatueta). Em um momento de grande incidência de notícias falsas, o ChatGPT deixa claro que não pode ser considerado uma fonte fidedigna de informações.
Além disso, seu uso passou a ser proibido ou desincentivado em diversas instituições de ensino, com alunos de variadas faixas etárias. Além da preocupação com o clássico “copia e cola” de conteúdo dos alunos, os educadores temem que a utilização da ferramenta possa gerar um prejuízo à própria criatividade humana. Os primeiros conteúdos produzidos pelo ChatGPT e avaliados por profissionais apontaram problemas como repertório externo fraco e repetições.
Há a questão também do respeito à propriedade intelectual. Afinal, se o sistema fornece conteúdo após coletar informações e dados na internet, como impedir que, de fato, o trabalho feito por terceiros não seja ilegalmente utilizado em benefício dos usuários do ChatGPT?
São perguntas complexas e que envolvem uma questão tão abrangente quanto polêmica até os dias atuais: afinal, uma inteligência artificial consegue reproduzir o trabalho humano em termos de qualidade e criatividade? Muitos e muitos testes já foram feitos, com graus de sucesso distintos. O carro que dirige sozinho, o sistema que compõe uma música, o computador que escreve um poema e o robô que serve clientes em um restaurante. Todos, até o momento, apresentaram falhas consideráveis. Será que o ChatGPT representa o início de uma revolução nesse sentido?
Seja qual for a resposta, por fim, o ChatGPT deixou uma mensagem para os leitores da revista Mercado Automotivo:
“Caros leitores, o ChatGPT é uma tecnologia avançada de processamento de linguagem natural que pode ser usada para melhorar a eficiência e eficácia do setor automotivo. Ele pode ser usado para identificar peças de reposição, melhorar a interação com chatbots, gerar catálogos automatizados, analisar tendências de mercado e diagnosticar problemas de veículos. Estamos animados com as possibilidades que o ChatGPT oferece para o setor automotivo e esperamos continuar trabalhando para desenvolver soluções inovadoras que possam beneficiar tanto os fabricantes quanto os usuários finais”, completou.
Escrito por: Redação