Adoção de IA nas empresas ainda enfrenta barreiras e requer esforço conjunto dos times
A inteligência artificial (IA) já integra o cotidiano de milhões de pessoas ao redor do mundo. Em aplicações pessoais, ela organiza rotinas e resolve problemas de forma intuitiva, prática e, muitas vezes, quase invisível. No contexto corporativo, no entanto, a adoção da IA segue um caminho mais tortuoso, marcado por entraves técnicos, estruturais e culturais.
Segundo pesquisa conduzida pela consultoria Maitha Tech, a maioria dos executivos ainda encontra barreiras significativas para incorporar soluções de IA em suas empresas. Entre os principais obstáculos, destacam-se a ausência de regulamentações claras e a carência de profissionais com formação especializada. Seis em cada dez entrevistados mencionaram a falta de mão de obra especializada como um dos entraves mais urgentes.
Embora muitas organizações reconheçam o potencial da IA para reduzir custos, automatizar processos e gerar novas oportunidades de receita, são poucas as que conseguem conectar essas ambições à prática de forma consistente. Para Diego Nogare, consultor executivo de IA e ML — com passagens por empresas como Microsoft, Deloitte, Bayer e Itaú —, a questão envolve mais do que domínio técnico:
“Existe uma lacuna entre o desejo de inovar e a capacidade de executar com consistência. Muitas empresas iniciam projetos usando ferramentas fora da governança para validar ideias, mas sem um diagnóstico claro de maturidade ou um direcionamento estratégico, acabam falhando ao tentar colocar essas ideias em produção. Quando não se compreende o grau de prontidão da organização — em termos de dados, cultura e estrutura —, a adoção da IA tende a ser fragmentada e pouco eficaz”, afirma.
Essa desconexão entre ambição e viabilidade reflete-se em iniciativas isoladas, que, muitas vezes, não dialogam com os objetivos estratégicos da empresa e, por isso, não entregam o retorno esperado.
Entre o potencial e a realidade
Segundo Nogare, na prática, os principais desafios da adoção da IA em ambientes corporativos estão menos relacionados à tecnologia em si e mais à capacidade das organizações de traduzi-la em valor:
“Falta clareza sobre o que priorizar, como mensurar impacto e de que forma conectar a IA ao core business. Ferramentas que utilizam processamento de linguagem natural, visão computacional ou até mesmo modelos de machine learning mais tradicionais e consolidados podem representar ganhos relevantes, mas exigem dados organizados, equipes preparadas e governança técnica sólida”, explica o consultor.
Sem essa base, mesmo as soluções mais promissoras tornam-se inviáveis — ou até arriscadas. É o que mostram casos como o da Samsung, que proibiu o uso do ChatGPT por funcionários após incidentes de vazamento de informações confidenciais compartilhadas na plataforma.
Já a Apple, mesmo sem enfrentar um caso concreto, adotou uma postura preventiva e também restringiu o uso da ferramenta, com receio de que dados sensíveis pudessem ser expostos em interações com modelos de linguagem. Em ambos os cenários, o problema não está necessariamente na tecnologia em si, mas na ausência de políticas internas claras, infraestrutura de dados adequada e governança capaz de sustentar a inovação com segurança.
Esses entraves refletem uma lacuna estrutural comum a muitas empresas: a falta de governança para inovação. O “Relatório de Startups de GenAI”, da Google, aponta justamente que, embora o entusiasmo com a inteligência artificial generativa seja alto, muitas organizações ainda não possuem a maturidade necessária para implementá-la de forma estratégica.
Segundo o estudo, 59% das startups entrevistadas mencionam a dificuldade de alinhar a IA aos objetivos de negócio como uma barreira central — o que reforça que o desafio não está apenas em adotar a tecnologia, mas em criar condições para que ela, de fato, funcione.
“A adoção consistente de IA nas empresas não é uma corrida por ferramentas de última geração, mas um exercício de maturidade organizacional. Sem alinhamento entre visão, competências e estrutura, a tecnologia deixa de ser diferencial competitivo para se tornar apenas mais um experimento mal aproveitado. Inovar com IA exige mais do que investimento: requer decisões conscientes, lideranças preparadas e uma governança capaz de transformar dados em valor — com ética, segurança e de forma sustentável”, completa Nogare.
Para além do ChatGPT
Quando a startup californiana de inteligência artificial OpenAI lançou o ChatGPT, em 2022, poucos se deram conta da revolução que estava em curso e ninguém esperava que a ferramenta viralizasse e tivesse tanto sucesso em tão pouco tempo.
No entanto, nem só de ChatGPT vive a inteligência artificial. O fato é que já existem outros aplicativos disponíveis que são extremamente úteis para facilitar o dia a dia dos empreendedores.
Esses aplicativos são capazes de criar textos, animações e trilhas sonoras ou melhorar a qualidade de áudios, converter textos em narração, realizar pesquisas e muito mais. Algumas dessas ferramentas são gratuitas, com planos pagos para funcionalidades mais avançadas. Em geral, são soluções de baixo custo, considerando a relação custo-benefício que entregam.
Conhecendo algumas dessas ferramentas:
Murf.AI – este aplicativo permite converter texto para narração em áudio em diversos idiomas (inclusive português). Também possibilita clonar ou alterar vozes, disponibilizando um plugin para inserir narração em apresentações do Google Slides. É muito útil para criar demos de produtos, vídeos do YouTube, apresentações etc.
NeuralText – este serviço não é muito barato, mas permite automatizar toda a produção de conteúdo de marketing. Isso reduz o tempo de pesquisa em 90%, com análise de páginas de resultados de busca (SERP, search engine results pages) para palavras-chave relevantes, fazendo a otimização para buscadores (SEO), e gerando textos (copywriting).
Synthesia – trata-se de uma plataforma de criação de vídeos que usa apresentadores virtuais baseados em atores reais de diversas etnias, sendo capaz de produzir vídeos narrados em 120 idiomas e sotaques regionais. Os vídeos são criados sem necessidade de nenhum equipamento, como câmeras, microfones ou iluminação.
Lalal.AI – ferramenta que consegue limpar áudios removendo o barulho ou a música de fundo, deixando apenas a voz. Também é possível separar vocais e instrumentos individuais em faixas de música. A plataforma oferece gratuitamente processar até 10 minutos de gravação, ou comprar pacotes de 90 ou 300 minutos.
Jasper – plataforma de criação de texto, baseada em GPT-3, o modelo de linguagem do ChatGPT, mas direcionada para a criação de textos publicitários e de marketing. É possível criar textos em 26 idiomas (inclusive português) e até mesmo criar as ilustrações para esses textos, com o módulo Jasper Art. O Jasper possui mais de 50 templates de AI, incluindo blog posts, e-mails, textos de marketing, releases e gerador de anúncios para Facebook e Google. A ferramenta é reconhecida pela qualidade do material gerado, mas o preço é um pouco salgado.
Fireflies – plataforma que grava, transcreve, busca e analisa conversas de voz, automatizando as anotações de reuniões do Zoom, Google Meet, Teams e outros aplicativos. O sistema organiza os tópicos abordados, possibilita a colaboração entre os membros da equipe e o compartilhamento de notas em plataformas de colaboração como Slack, Notion, Asana e outros. É possível pesquisar as anotações dialogando com o AskFred, um assistente AI baseado em GPT-3.
Pictory – este aplicativo permite criar automaticamente clips curtos a partir de vídeos de formato longo, autossumariza vídeos longos, gera vídeos a partir de scripts ou blog posts, cria automaticamente as legendas dos vídeos e faz a transcrição dos vídeos. O sistema pode ser testado gratuitamente, dando direito a 3 vídeos de até 10 minutos.
Beatoven.ai – plataforma que cria músicas originais de até 15 minutos, livres de direitos autorais, em estilos variados, para uso em vídeos e outras aplicações. O sistema analisa as imagens ou vídeos fornecidos para adequar o clima da composição ao visual. Tem um plano gratuito que permite baixar 15 minutos mensais de música, e planos pagos com mais funcionalidades, que dispensam a atribuição do crédito de autoria.
O uso de ferramentas de IA permite a reestruturação das atividades pela automatização de processos, gerando mais agilidade nas conclusões das tarefas, aumento da produtividade e melhores resultados.
Além disso, com a IA é possível analisar uma grande quantidade de dados de forma sistemática, para identificar padrões e traçar previsões com base no histórico das informações e de análises estatísticas. Essas previsões têm se revelado cada vez mais eficientes, com “insights” que permitem ao gestor uma base sólida para a tomada de decisões.
Resta às empresas investir também na formação de profissionais para tirar o melhor da inteligência artificial para seu dia a dia. As tecnologias já estão muito mais acessíveis, mas se não houver esforço de imersão e aprendizagem, o uso dessas inovações se perde simplesmente numa empolgação de primeiro momento, que jamais se concretiza nas operações das empresas.
*Com informações do Sebrae
Escrito por: Redação