Em entrevista à Mercado Automotivo, José Arnaldo Laguna, presidente do Conarem (Conselho Nacional de Retífica de Motores), destacou o momento do movimento Right to Repair no Brasil e outros desafios do setor. Confira a seguir:
Mercado Automotivo – Qual sua avaliação sobre o atual momento do movimento Right to Repair no Brasil? Como avançamos nesses quase dois anos e o que ainda precisamos avançar?
José Arnaldo Laguna – As entidades que formam a Aliança do Aftermarket Automotivo, como Conarem, Andap, Sicap, Anfape, Sincopeças Brasil e Sindirepa Brasil, têm avançado com muitas atividades, seja no país e também internacionalmente, participando de reuniões com instituições de outros países, como aconteceu em setembro na Automechanika, em Frankfurt, na Alemanha, e recentemente em Las Vegas, EUA, durante a AAPEX-SEMA. Estamos acompanhando as novidades ao redor do mundo para entender como podemos aplicar aqui.
Recentemente, definimos o plano de ação da Aliança para 2025 que inclui diversas atividades, olhando para as principais necessidades do mercado, e o Right to Repair, Right to Connect são prioridades e estamos trabalhando para que os órgãos governamentais sejam impactados sobre essas necessidades.
MA – Gostaria que falasse sobre a importância do movimento Right to Repair para o Brasil. Quais são os principais benefícios para o consumidor e para o setor como um todo?
JAL – Sim, essa legislação protege o consumidor dando o direito de reparação do veículo em qualquer oficina. Para isso, as informações e os dados da parte eletrônica para a realização do diagnóstico precisam estar disponíveis para reparadores e não restrita às montadoras, como é hoje. Inclusive, esse tema foi bem detalhado durante o painel da reparação realizado no Seminário da Reposição Automotiva em outubro.
O que vemos são situações complicadas em que o reparador fica sem condições de mexer no veículo porque não tem acesso aos dados. É realmente muito preocupante se algo não for feito para mudar isso. E o consumidor que comprou o veículo acaba sendo o mais prejudicado, assim como atinge todo o mercado que não consegue fazer o serviço por falta de informação.
Os exemplos bem-sucedidos de outros países servem de base para traçarmos a nossa jornada aqui rumo a uma legislação específica. Um caminho longo, mas que já iniciamos e estamos empenhados em alcançarmos. A união do setor para garantir a mobilização de autoridades políticas é fundamental nesse processo.
MA – O Conarem esteve recentemente em uma Missão Empresarial pela Europa. Quais foram as principais lições aprendidas e como elas podem ser aplicadas ao setor de reparação brasileiro?
JAL – Todas as Missões Empresariais são um aprendizado importante. Desta vez não foi diferente, principalmente porque estamos num momento de muitas mudanças devido à toda transformação que o setor vem passando em função das mudanças da mobilidade.
Nosso objetivo numa Missão Empresarial é levar o associado para conhecer uma operação, onde terá contato com novidades em máquinas, equipamentos, ferramentas, métodos, processos e gestão, ou seja, iniciativas que poderá trazer para o Brasil, com adaptações.
Essa edição foi uma verdadeira lição para o setor de retíficas, pois conteve o aspecto comercial na Automechanika, técnico com olho no futuro, com as visitas às fábricas e também no aspecto cultural com algumas visitas turísticas.
Iniciamos em Rüdesheim, cidade produtora de vinhos à beira do Rio Reno para que os 15 retificadores e acompanhantes pudessem almoçar e ter o primeiro contato com a Alemanha, bem como para as pessoas do grupo se conhecerem melhor. Visitamos a Automechanika Frankfurt, maior feira do setor automotivo do mundo, exposição onde estão presentes os grandes fabricantes de máquinas, equipamentos, ferramentas, produtos e serviços.
O próximo destino foi Berlim, com visita à fábrica da BMW Motorrad, uma referência em qualidade de motocicletas para mostrar outro nicho, já que grande parte das retíficas são focadas nas linhas leve e pesada, poucos reparam motos, e visitar a fábrica dessa marca é um mergulho na alta tecnologia. O que chamou a atenção foi que lá não se usa EPIs, pois não há risco, os centros de usinagem são todos fechados e tudo automatizado.
Depois a missão seguiu para a Suécia, onde visitamos a fábrica de motores da Scania, em Estocolmo, uma experiência maravilhosa. Os motores praticamente são montados automaticamente, ficando apenas acessórios externos para serem colocados por seres humanos. A cada duas horas, a Scania para a produção para os líderes debaterem os problemas que aconteceram para implantar melhorias, resultando numa grande evolução nos processos, na qualidade e produtividade.
A viagem também incluiu Gotemburgo, onde ocorreu a visita à fábrica da Volvo Caminhões, realizada de trenzinho. Depois, o grupo foi ao World of Volvo, um centro de atrações da marca, onde pode-se ter diversas experiências interativas, acesso a testemunhos de pessoas que sobreviveram devido à invenção da Volvo – cinto de segurança entre outros sistemas de segurança desenvolvidos por essa marca e hoje utilizados na grande maioria dos veículos –, e um pouco de história. Finalizando, o grupo também conheceu a linha de montagem da Volvo Cars, que, hoje, é da companhia chinesa Zhejiang Geely Holding Group, porém com a base de produção na Suécia e administrada por suecos.
MA – Qual é a expectativa do Conarem para o Brasil nestes próximos dois anos? É possível ser otimista com o desempenho da economia nacional?
JAL – Vamos continuar o desenvolvimento do nosso trabalho, que reúne diversas frentes a partir de assessorias a serviço dos associados: jurídica, técnica, ambiental, tributária/contábil, financeira, cursos EaD com 62 mil inscrições, os podcasts Motores do Brasil e Conarem Tech, banco de dados técnicos, parcerias comerciais, informativo impresso e digital, suporte de marketing e campanhas de comunicação. Estamos representando o setor na Aliança, o aftermarket brasileiro no MBCBrasil, e ocupamos um cargo no conselho Setorial do Senai. Portanto, entendo que há muito por falar e temas que podem gerar interesse nos meios de imprensa, como, por exemplo, nos podcasts Motores do Brasil e Conarem Tech.
MA – Desde 2022, o Conarem promove um curso EaD para Retificador de Motores. Quais têm sido os resultados dessa ação e qual é sua importância?
JAL – Os resultados superaram as expectativas iniciais. Já ultrapassamos mais de 62 mil inscritos no EaD inédito para formação de profissionais na área de retíficas. Essa iniciativa em parceria com o Senai é fundamental para suprir a falta de renovação da mão de obra e partiu de uma necessidade do mercado, gerando oportunidades para milhares de pessoas que procuram trabalho e para as empresas que buscam profissionais. Com a plataforma Vagas Automotivas, criamos o caminho para unir as duas pontas: profissionais e empresas.
É importante destacar que o EaD faz parte da campanha setorial criada pelo Conarem e que tem o apoio dos principais fabricantes e fornecedores parceiros do setor: KS Kolbenschmidt (Motorservice e Pierburg), Mahle, MWM, Riomaq, RIO (Riosulense), Sabó e Takao.
MA – Gostaria que falasse também sobre o aumento de carros elétricos no Brasil. Estamos preparados para esse novo cenário? O senhor acredita que o modelo híbrido seria mais recomendável ao mercado brasileiro?
JAL – Como membro do Mobilidade de Baixo Carbono do Brasil – MBCB –, acompanho de perto essa questão e enxergo que o Brasil tem características únicas e que o híbrido é o caminho mais viável devido às fontes energéticas que temos, como etanol e biodiesel. Além disso, temos outras questões ligadas à infraestrutura que não são simples de resolver em um país com longas distâncias e muitas diferenças regionais. O Brasil está desenvolvendo um modelo diferente da maioria dos países, o domínio que temos da tecnologia flex, a capacidade de produção de etanol e biodiesel determinarão a larga escala da frota circulante, utilizando propulsores a partir do uso de biocombustíveis ao invés do elétrico puro. A Fenatran deste ano apresentou os caminhões em todas as versões, incluindo o biogás, esse será, com certeza, o melhor caminho para a descarbonização no Brasil.
MA – De que forma o Conarem avalia o investimento em inovação e práticas sustentáveis no setor brasileiro? Estamos evoluindo de forma consistente?
JAL – Sim, estamos evoluindo seja nas indústrias e no setor como um todo vem acontecendo um trabalho de forma consistente para adoção de práticas sustentáveis. O Conarem mesmo conta com serviço de gestão ambiental aos associados em parceria com a Judi, assessora de gestão ambiental, que tem 23 anos de experiência no mercado automotivo e 8 anos, especificamente, no setor de retíficas e reparação para ajudar as empresas a seguir as exigências das legislações, que vão desde licença ambiental, cadastros nos órgãos ambientais pertinentes, à atividade, contratação de empresas homologadas para o descarte de resíduos sólidos contaminados e do Oluc (Óleo Lubrificante Usado ou Contaminado) até a conscientização do time para os cuidados destes resíduos contaminados dentro da retífica.
As legislações do setor avançam a cada dia e o Conarem sempre estimulou as boas práticas ambientais nas retíficas de motores. Com as leis cada vez mais rigorosas, que podem gerar, além de pesadas multas, até reclusão do dono da retífica e paralisação da atividade, resolvemos contratar uma consultoria de gestão ambiental, que está disponível, gratuitamente, aos nossos associados.
MA – Por fim, gostaria que enviasse uma mensagem às mais de 500 empresas associadas ao Conarem.
JAL – Em seus 25 anos de atividades, o Conarem vem desenvolvendo amplo trabalho de prestação de serviço e representatividade para o setor de retíficas, como já comentado acima, com inúmeras atividades. Somos uma das entidades que mais entrega serviços para o retificador no mundo. Há banco de dados, assessoria técnica, jurídica e de meio ambiente, parcerias com fabricantes de máquinas e diversos produtos, entre outros. Buscamos tudo o que entendemos ser importante para o setor. Contamos até com assessoria de comunicação e marketing sob medida.
E para comemorar os 25 anos da rede de retíficas credenciadas no Conarem, preparamos para 2025 um pacote de benefícios comerciais com os principais parceiros do setor de retíficas de motores, tornando a nossa rede mais competitiva e lucrativa.
Para quem ainda não faz parte do Conarem, oferecemos uma experiência gratuita de 60 dias para os retificadores para conhecerem melhor todos os benefícios que a entidade oferece.
Escrito por: Redação