Em entrevista à revista Mercado Automotivo, Marcelo Rosa, head de Aftermarket da Dana na América do Sul, destaca os motivos que fazem o Brasil ser um país tão expressivo para os negócios da marca. O executivo também ressalta as expectativas da Dana para o mercado brasileiro nos próximos anos. Confira a seguir!
Mercado Automotivo – A instabilidade política e econômica dos países da América do Sul afeta de alguma forma as estratégias da Dana na região? Como superar esses constantes (e praticamente imprevisíveis) desafios?
Marcelo Rosa – A Dana conta com centros de distribuição na Argentina e na Colômbia há muitas décadas. São mercados importantes para a nossa região e os ciclos econômicos têm seus altos e baixos. Observamos a região com visão de longo prazo, onde temos uma participação importante de mercado e ajustamos nossa estratégia de acordo com cada um desses ciclos. Quando analisamos a performance da região num período mais amplo, a região tem apresentado resultados muito positivos, com crescimento das vendas em mais 100% nos últimos 4 anos.
MA – Qual é o peso do mercado brasileiro para a Dana? É possível ampliar essa participação?
MR – O mercado brasileiro tem um peso expressivo para a Dana, representando cerca de 65% das vendas da empresa na América do Sul, mesmo considerando a forte presença da companhia em países fora dessa região.
A Dana vê o Brasil como um mercado estratégico, sendo ele o 4º maior mercado de reposição do mundo, o que atrai a atenção global da empresa. Com base nesse potencial, a Dana acredita ser viável dobrar sua participação nos próximos três anos, impulsionada pelos novos projetos que serão lançados.
MA – A Dana é otimista com os próximos 3 anos de atuação no Brasil? Por quê?
MR – Como comentado acima, estamos otimistas com o mercado brasileiro e acreditamos que começaremos a colher os frutos de nossos investimentos dos últimos anos.
Nestes últimos 4 anos, reorganizamos nossa rede de distribuidores, ajustamos nosso posicionamento de preços e redefinimos nossa estratégia de produtos, concentrando esforços em nossas linhas principais – eixos cardans, eixos diferenciais, eixos dianteiros, produtos de vedação e seus derivados. Para o mercado de reposição, lançamos uma linha de rolamentos e lubrificantes para eixos diferenciais, barras, pivôs e terminais sob a marca Spicer, além das juntas de motor Victor Reinz, um passo importante na internacionalização da marca.
Além disso, estamos lançando um novo pacote de serviços, chamado Universo Dana, que conta com programas de relacionamento para cada um dos elos da cadeia.
Dentro desse pacote, temos dois projetos muito importantes para o nosso negócio: o Garagem Spicer, projeto para identificar e homologar oficinas especializadas em manutenção de eixo cardan, e o Dana Experience, em que resgataremos projetos importantes de relacionamento com clientes diretos e indiretos, que marcaram a história de nossa empresa e do mercado.
Com base em tudo isto, sim, estamos muito otimistas não só com os próximos 3 anos, mas com os próximos 10, 20, 30 anos.
MA – Gostaria que falasse sobre inovação no ambiente da Dana. O senhor entende que esse é um dos fatores que diferenciam as empresas mais bem sucedidas das demais?
MR – Com certeza. Na Dana, enxergamos a inovação como um pilar essencial para a sustentabilidade e o sucesso contínuo da empresa. Prova disso é que hoje somos um dos poucos sistemistas a oferecer soluções completas e versáteis, adaptadas a qualquer tipo de energia que nossos clientes escolham – desde motores a combustão interna com combustíveis renováveis até veículos híbridos, 100% elétricos ou movidos a hidrogênio.
Ao integrar produtos como motores e inversores elétricos, eixos cardans, eixos diferenciais e tecnologias que se conectam perfeitamente aos sistemas das montadoras, nos consolidamos como um dos líderes na transição para a era da descarbonização. A inovação não é apenas um diferencial, é o que nos posiciona à frente em um mercado em constante evolução.
MA – Qual é o maior gargalo atualmente do setor de aftermarket automotivo no Brasil?
MR – O gargalo logístico e a complexidade tributária ainda seguem sendo um grande entrave para a economia brasileira, não somente para o aftermarket automotivo, mas para com a economia em geral.
Se analisarmos o quanto de dinheiro existe parado nos estoques da cadeia, somado aos impostos em antecipado que são recolhidos por conta da substituição tributária, teremos uma noção do quanto isto impacta em consumo de caixa desnecessário, afetando diretamente na geração de empregos e investimentos.
MA – A Dana contempla uma série de marcas em seu guarda-chuva. Quais são os desafios de lidar (e promover) tantas marcas diferentes no mercado brasileiro?
MR – A Dana opera na região com cinco marcas distintas: Spicer, Victor Reinz, Albarus (Brasil), Thompson (Argentina) e Transejes (Colômbia). Entre elas, Spicer e Victor Reinz se destacam como marcas globais, cada uma direcionada a um segmento específico – Spicer voltada para produtos de transmissão e força, e Victor Reinz especializada em soluções de vedação, como juntas de motores. Ambas carregam mais de um século de história e tradição. Por outro lado, Albarus, Thompson e Transejes são marcas regionais, líderes em seus respectivos países de origem, com mais de 50 anos de mercado.
O desafio de gerenciar e promover esse portfólio diversificado é abordado pela Dana com uma estratégia clara: cada marca é trabalhada de forma independente, respeitando seu nicho específico e proposta de valor única. Essa abordagem permite uma convivência harmoniosa entre elas, garantindo que atendam às necessidades de seus públicos sem sobreposições ou conflitos.
MA – Como a Dana avalia o processo de capacitação e atualização técnica dos mecânicos no Brasil atualmente? Evoluímos ou ainda há um gap considerável quando pensamos na variedade de novos modelos que chegam às ruas constantemente?
MR – A Dana considera a capacitação e a atualização técnica contínuas como pilares essenciais e, por isso, investe em treinamentos de alta qualidade para toda a cadeia – distribuidores, varejistas e mecânicos –, abordando tanto aspectos técnicos quanto comerciais. Esse compromisso se intensifica com a crescente complexidade dos novos modelos de veículos que chegam às ruas, demandando conteúdos cada vez mais abrangentes e especializados.
A empresa adota uma abordagem dupla para oferecer essa qualificação: online e presencial. No formato online, realiza treinamentos ao vivo quase semanalmente e disponibiliza a plataforma global Dana Training Academy (DTA), com conteúdos sob medida para cada região. Ao acessar a plataforma e selecionar a bandeira do Brasil, o usuário encontra materiais específicos sobre veículos leves, pesados e sistemas de vedação de motores, adaptados ao mercado local.
Já no presencial, a Dana utiliza o Caminhão Escola – conhecido como Frota Diamante Spicer –, que percorre o país levando peças e sistemas das marcas Spicer, Victor Reinz e Albarus para treinamentos práticos e teóricos. Essa iniciativa é especialmente voltada para empresas de frotas, que frequentemente enfrentam dificuldades para acessar experiências diretas com fabricantes.
Embora haja evolução na capacitação, a Dana reconhece que o ritmo acelerado de inovação nos veículos ainda pode gerar lacunas, e por isso mantém um esforço constante para reduzir esse gap com soluções acessíveis e direcionadas.
MA – Gostaria que falasse sobre os catálogos digitais da Dana. De que forma eles facilitam o trabalho de mecânicos e revendedores?
MR – A Dana oferece duas plataformas digitais integradas – Ideia 2001 e Inteliauto (Fraga) – que, juntas, atendem mais de 120 mil usuários únicos em todo o Brasil. Essas ferramentas são projetadas para simplificar o acesso a informações técnicas e de aplicação, conectando as fábricas da Dana aos mecânicos de forma clara e prática. A ideia é que, com dados alinhados e acessíveis, toda a cadeia de distribuição – de revendedores a aplicadores – saia ganhando.
Disponíveis tanto para computadores quanto para celulares, os catálogos permitem consultas rápidas e precisas, seja por código de produtos concorrentes, placa de veículo, tipo de veículo ou produto. Os usuários encontram facilmente soluções das marcas Dana, com detalhes como descrições, imagens, diagramas explodidos e links para plataformas complementares, como o YouTube e o Dana Training Academy (DTA). Com atualizações constantes, essas plataformas não só agilizam o trabalho de mecânicos e revendedores no Brasil, mas também foram exportadas com sucesso para operações da Dana na Argentina e na Colômbia (Ancom).
MA – Pensando no tamanho continental do Brasil, o que é mais desafiador para a Dana atualmente: manter os estoques atualizados ou lidar com os problemas de infraestrutura e logística para entregas no país?
MR – O maior desafio para a Dana atualmente está na gestão da acuracidade dos estoques, devido à ampla variedade da frota circulante e à dinâmica de giro de cada componente. Quando falamos em logística e infraestrutura, conseguimos mitigar as dificuldades graças à nossa rede estratégica de distribuidores, presentes nos principais centros de consumo do país, que garantem a disponibilidade imediata dos nossos produtos aos clientes.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem a todos os colaboradores da Dana para este ano de 2025.
MR – Mantenham o foco em nossos clientes – os diretos, como nossos distribuidores, e os indiretos, como varejistas e reparadores. Sem o compromisso deles conosco, não estaríamos aqui. Vamos trabalhar juntos, com dedicação e energia, para fortalecer essas parcerias. Eles são a razão de tudo o que fazemos.
Escrito por: Redação