No dia 12 de setembro, durante a realização da Automechanika Frankfurt 2024, o engenheiro e gestor de negócios Reynaldo Contreira concedeu uma entrevista que a Mercado Automotivo traduziu e reproduz aqui.
Um dos objetivos da ZF é preencher a lacuna entre as necessidades de hoje e do amanhã, prevendo e provendo soluções para essas necessidades. Como vocês pretendem fazer isso em um mundo em constante e rápida evolução, onde políticas também mudam e afetam o mercado de acordo com a vontade dos governantes?
Reynaldo Contreira: Estamos em uma posição privilegiada, pois somos o principal fornecedor de peças para chassi. Isso significa que, para nós, não importa tanto o tipo de motor no veículo, pois sempre haverá peças nossas no chassi. Essa posição nos permite mais tranquilidade e conforto em comparação com outras empresas que precisam despender muito mais esforço para encontrar soluções adequadas às mudanças no mercado.
Talvez por isso conseguimos tempo para visitar oficinas e entender melhor as dificuldades que enfrentam. Descobrimos que, por parte das oficinas, o problema é muito mais sério e de difícil solução.
Tomando como exemplo o Brasil, um cidadão com carro elétrico ou híbrido possui ainda grande dificuldade em encontrar uma oficina capaz de oferecer manutenção adequada. Notamos que, a cada dia, as oficinas restringem os modelos que podem atender. Um dos motivos é que maioria delas não possui o conhecimento tecnológico ou o ferramental necessário para atender os novos veículos elétricos ou híbridos que chegam ao mercado. A consequência disso tem sido, de um lado, o enfraquecimento das oficinas, por falta de infraestrutura e conhecimento, e, de outro, proprietários desses veículos sem ter onde fazer a manutenção.
Acreditamos que a melhor forma de ajudar as oficinas é construir uma ponte para que oficinas acostumadas a realizar manutenção de carros com pouca tecnologia acessem as novas tecnologias, por meio de treinamentos e equipamentos adequados, permitindo um diagnóstico preciso e a manutenção correta de veículos mais sofisticados.
Hoje já desenvolvemos diversos produtos que têm auxiliado tanto as oficinas mecânicas quanto os usuários de veículos sofisticados. Como exemplo, destaco o diagnóstico do veículo, que considero um dos pontos-chave em todo o processo de manutenção. Neste momento, estamos lançando na feira nosso sistema de diagnóstico, que inclui a calibração tanto de veículos com tecnologia mais antiga quanto dos mais novos e sofisticados, tudo em um único equipamento.
Um dado curioso é que a frota americana é composta por aproximadamente 90% de veículos americanos e 10% de veículos europeus e asiáticos. Na Europa, ocorre algo semelhante, com veículos europeus ocupando cerca de 80% do mercado. Já no Brasil, o problema é bem mais complexo, pois nossa frota é uma das mais diversificadas do mundo, sem contar o mercado sul-americano, ainda mais diversificado, o que dificulta a montagem de infraestrutura e o treinamento necessários para atender um mercado extremamente diverso.
Os mecânicos sozinhos não conseguem, junto às montadoras, nem os equipamentos, que são caríssimos, nem o conhecimento tecnológico para interpretar os resultados. Como vocês conseguem isso?
RC: Somos os maiores provedores desses diagnósticos para todos os veículos, o que facilita bastante para podermos realizar essa parte.
Como vocês enxergam a introdução do carro elétrico em um mundo dominado pelo carro a combustão interna?
RC: Podemos nos considerar em uma situação confortável, visto que nossos produtos estão focados no chassi e nos sistemas de suspensão e amortecedores dos veículos, independentemente do sistema de combustão. Quanto ao carro elétrico, nós, da ZF, acreditamos na eletrificação e na adoção de novos sistemas de propulsão que não o puramente elétrico ou à combustão. Cada vez mais, os carros parecerão um computador sobre rodas. A China, de fato, lidera esse movimento em todos os sentidos, e acreditamos que será adotado, ao menos na Europa, embora num prazo muito longo. Além disso, há várias outras tecnologias, como o hidrogênio, que ainda estão em desenvolvimento e devem apresentar soluções impactantes para o mercado.
Fale um pouco sobre o Adas OE e o IAM.
RC: Os Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista (Adas) utilizam sensores e câmeras para auxiliar o motorista nas tarefas de direção e estacionamento, visando melhorar a segurança e evitar acidentes. Esses dispositivos podem ser instalados em diversas partes do veículo, como para-brisa, espelhos laterais e para-choques. O Adas inclui funções como freio de emergência autônomo, aviso de colisão, controle de cruzeiro adaptável, ajuste automático de farol alto, detecção de ponto cego, monitoramento da visão ao redor do veículo, assistência de manutenção de faixa, reconhecimento de sinais de trânsito e auxílio no estacionamento. Quando detecta uma situação de risco, o sistema alerta o motorista ou promove ações para evitar ou reduzir o impacto de uma colisão. A ZF é líder no desenvolvimento e fornecimento destas tecnologias para o Equipamento Original e ao mercado de Reposição e possui equipamentos de calibração e treinamento e suporte para mecânicos e oficinas.
Quais os principais desafios a serem enfrentados pela ZF no próximo ano para atingir os objetivos da companhia?
RC: Acreditamos fortemente na prática de ir a campo para estudar os problemas existentes em cada oficina ou loja, buscando soluções conjuntas que possam ajudar a resolver os problemas de todos os nossos parceiros. Sempre priorizamos o desenvolvimento pessoal de nossos clientes e colaboradores.
Escrito por: Jarbas Ávila