Além das centenas de vidas perdidas, os gaúchos contabilizam perdas econômicas em diversas frentes
O Rio Grande do Sul já contabiliza mais de 160 mortes provocadas pelas fortes chuvas e as enchentes que atingem o estado desde o fim de abril. Além disso, a tragédia na região ainda registra 56 desaparecidos e cerca de 800 pessoas feridas em decorrência de eventos provocados pelo mau tempo.
O problema, entretanto, é ainda maior quando se observam todos os demais impactos provocados pela chuva sem precedentes no estado. Mais de 2,3 milhões de pessoas foram afetadas de alguma maneira, enquanto 581 mil foram desalojadas de suas casas. Ainda permanecem em abrigos temporários cerca de 55 mil pessoas.
Devido às cheias dos diversos rios, córregos e lagos gaúchos, quase 80 mil pessoas ficaram ilhadas e precisaram ser resgatadas. Além disso, até o momento, mais de 12 mil animais foram resgatados.
Passadas diversas semanas do início das chuvas, os gaúchos olham agora para os impactos econômicos que derivam da tragédia. Diversos setores foram diretamente impactados, seja devido aos maquinários e produtos destruídos, seja devido à paralisação de produção e comercialização de diversos itens.
Além disso, mais de 100 mil pontos em todo o estado seguiam sem energia elétrica ao menos um mês após o início da crise. Sem contar as rodovias que ainda apresentam trechos com bloqueios totais ou parciais. Os números ajudam a dar a dimensão da tragédia que se abateu sobre os gaúchos nas mais diversas frentes.
Auxílio reconstrução
Uma das iniciativas do Governo Federal para minimizar os impactos gerados pelas chuvas e enchentes é o Auxílio Reconstrução. O benefício, no valor de R$ 5.100, será pago em uma única parcela, e será limitado a um recebimento por família afetada pelas cheias. O governo prevê que esta ajuda financeira servirá para a compra de móveis, eletrodomésticos e utensílios que as famílias perderam em decorrência das enchentes.
As famílias contempladas são aquelas residentes em áreas urbanas e rurais atingidas pelas enchentes no estado e identificadas pelas prefeituras. O benefício não alcança proprietários de comércios que sofreram danos.
Até o momento, estão contemplados pelo Auxílio Reconstrução 369 municípios gaúchos, que tiveram o estado de calamidade pública ou a situação de emergência reconhecido pela Defesa Civil Nacional até 15 de maio, conforme a lista divulgada pelo órgão.
Os beneficiários do programa federal Bolsa Família e quem estiver recebendo o Seguro-Desemprego que também tiveram residência atingida pelo desastre climático no Rio Grande do Sul poderão receber o Auxílio Reconstrução, pois não há restrição para acumular o benefício federal com outro auxílio federal ou estadual nesta situação.
Impactos nas montadoras
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, afirmou que ainda não é possível saber os impactos no setor automobilístico por causa das inundações no Rio Grande do Sul.
“Está difícil inclusive acessar a essas empresas. Sobre alguns fornecedores e empresas, a gente sequer sabe a profundidade do que ocorreu e, muitas vezes, nem eles mesmo sabem. Nesse momento, a gente não tem como avaliar a situação com maiores detalhes”, disse.
Leite ressalvou, no entanto, que, até o momento, o setor automobilístico não tem enfrentado problemas graves na produção decorrentes das enchentes.
“Até agora não foi um problema tão dramático, o setor está conseguindo se organizar com alguns itens de estoque. Mas, infelizmente, nós não temos um raio x e uma radiografia tão precisa quanto nós gostaríamos”, afirmou.
Segundo a Anfavea, o estado representa 7,5% do mercado de veículos automotores do país. É local de origem de cerca de 5% dos componentes comprados pelas fabricantes brasileiras.
Em 20 de maio, a Volkswagen colocou em férias coletivas de dez dias funcionários das fábricas da Anchieta, de São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP) e São Carlos (SP). Segundo a empresa, a paralisação ocorre devido ao impacto na produção causado pelos alagamentos no Rio Grande do Sul. “Alguns fornecedores de peças da Volkswagen do Brasil, com fábricas instaladas no Rio Grande do Sul, estão impossibilitados de produzir nesse momento”, informa a montadora em comunicado.
Outras medidas
O Governo Federal anunciou também um auxílio voltado às empresas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, através de Medida Provisória. A estimativa é de que sejam destinados R$ 15 bilhões em créditos oferecidos por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
De acordo com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), uma segunda MP, voltada para as cooperativas de crédito, está sendo elaborada.
“Foi liberado o recurso do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], a juros zero, à rede de bancos públicos e também às cooperativas. O Rio Grande do Sul tem um sistema de cooperativas de crédito muito forte, com grande capilaridade, e nasceram aqui as cooperativas de crédito”, disse.
“Além do Pronaf, o Pronamp [Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural] atenderá às médias empresas agrícolas, com juros real zero, e todos os recursos com Fundo de Garantia de Operações (FGO). O governo garante através do FGO e também incluindo, além dos bancos públicos, o sistema cooperativista, as cooperativas de crédito”, acrescentou. Já as médias empresas serão atendidas pelo Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Medição dos impactos
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quer fazer uma pesquisa amostral no Rio Grande do Sul para oferecer indicadores sobre os impactos das enchentes no estado. Segundo o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, a proposta, que já foi apresentada ao Ministério do Planejamento e Orçamento, está inserida na ampliação do plano de trabalho previsto para 2024.
Além disso, haverá a atuação de uma força-tarefa nacional criada pelo instituto para capacitar gestores municipais do Rio Grande do Sul no uso de ferramentas do órgão que vão permitir lidar com os efeitos do pior evento extremo que já atingiu o estado.
De acordo com Pochmann, o formulário com o questionário da pesquisa ainda está em formatação. A expectativa é poder realizar a pesquisa o mais rapidamente possível, à medida que o IBGE tenha uma sinalização do Ministério do Planejamento e Orçamento. “Não temos ainda as perguntas, o questionário fechado, mas há uma expertise dos colegas de concluir rapidamente o formulário e estamos dispostos a ir a campo tão logo haja uma resposta do orçamento solicitado”, completou.
Nas últimas semanas, entretanto, a divulgação de novos números, por diferentes setores, vem ampliando o entendimento da crise e seus impactos. Empresas de seguro que atuam no Rio Grande do Sul, por exemplo, já receberam 23.441 comunicados de acidentes decorrentes dos efeitos adversos dos temporais que atingem o estado. Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), somados, os avisos de sinistros já ultrapassam a casa dos R$ 1,67 bilhão a serem pagos em indenizações, mas ainda estão muito distantes de representar a real dimensão dos prejuízos da catástrofe.
“Neste momento, uma parte muito grande dos segurados sequer avisou os sinistros ocorridos. Sequer entraram com os pedidos de indenização. Isso é natural, porque as pessoas estão cuidando de questões muito mais prementes. Cuidando de suas sobrevivências e de salvar seus bens. Muitas pessoas vão deixar para fazer as notificações assim que as coisas se acalmarem mais”, disse o presidente da entidade, Dyogo Oliveira.
Para Oliveira, dada a extensão da área atingida e o fato de áreas densamente povoadas terem sido afetadas, esse será, provavelmente, o maior conjunto de indenizações já pago pelo setor segurador no Brasil em consequência de um único evento, superando o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), da mineradora Vale, em 2019.
*Com informações da Agência Brasil
Escrito por: Redação