Em livro, psiquiatra explica como é possível usar sentimentos como tristeza, medo e raiva a seu favor.
Na era das redes sociais, o ser humano passou a valorizar cada vez mais apenas os sentimentos considerados positivos. É como se o normal (e desejável) fosse ser feliz o tempo todo. Obviamente, no entanto, um cenário assim é inviável. Ao longo de um mesmo dia, uma pessoa comum sente raiva, tristeza, medo e outras emoções negativas. A forma como lida com esses sentimentos é que fará a diferença.
Para abordar esse assunto, o psiquiatra e professor Daniel Martins de Barros lança agora o livro O lado bom do lado ruim (Editora Sextante, R$ 40, 160 páginas). A obra é curta e utiliza uma linguagem simples para mostrar que as emoções desagradáveis não podem ser tratadas como sons incômodos a serem silenciados. Em vez disso, devem ser considerados alertas preciosos para algo mais profundo que não vai bem em nossas vidas.
A ideia do autor, como ele próprio expõe no livro, não é ensinar uma forma de “domar” ou de se livrar das emoções negativas. “Ninguém consegue se colocar acima das emoções. Nem se livrar da tristeza, da raiva ou do que quer que seja”, explica o especialista.
“Não sendo possível (nem saudável) acabar de vez com as emoções negativas, é preciso aprender a identificá-las, encará-las, e chamá-las pelo nome. Pode parecer algo simples, mas, de tanto tentarmos ignorá-las, muitas vezes temos dificuldade em dizer exatamente o que estamos sentindo. E as pessoas com mais dificuldade para distinguir as emoções negativas não apenas sofrem mais – elas também têm maior risco de desenvolver depressão, pois, se não compreendem a mensagem enviada pelas emoções, não conseguem saber exatamente como resolver a situação”, complementa.
Um dos conceitos interessantes abordados pelo autor no livro diz respeito à carga pejorativa imposta às emoções. Ao longo do tempo, passamos a ver as emoções como algo que deveria ser deixado de lado no processo de tomada de decisões. Ou seja, toda e qualquer decisão deveria ser tomada apenas a partir do pensamento racional. Barros ressalta, entretanto, a ironia de sugerir a alguém que reflita sobre um relacionamento amoroso de forma apenas racional. Ainda que, antes de qualquer coisa, se trate de uma relação afetiva, temos a tendência de não confiar na emoção.
O especialista explica ainda que nossa compreensão muda bastante em virtude de estarmos sendo racionais ou emocionais. Se estamos de “cabeça fria”, não mobilizados por emoções, temos uma visão muito imprecisa sobre como reagiremos em momentos de grande comoção, dominados por sentimentos. No entanto, de “cabeça quente” temos dificuldade de mensurar até que ponto as emoções estão influenciando nosso comportamento.
“Esse é um tema que vem sendo cada vez mais estudado na área de tomada de decisão – suas consequências interessam a muita gente, de profissionais de marketing ávidos por compreender (e moldar) as decisões de compra dos consumidores até militares que precisam treinar soldados a decidir sob pressão. Existem várias experiências que demonstram cabalmente que não somos capazes de saber como vamos agir quando estamos emocionados”, explica o autor.
Outra abordagem interessante utilizada por Barros é que ele não aborda de maneira direta as emoções negativas, logo no início do livro. Justamente para desmistificar essa ideia de que o emocional não deve influenciar em nossas decisões, o psiquiatra procura explicar porque a razão não é o único fator que deve influenciar no processo decisório.
Somente na sequência é que Barros passa a falar das emoções negativas, quando o leitor já entendeu que a emoção não deve receber essa carga negativa diante das decisões. É aí que ele explica o que podemos tirar de momentos de tristeza, de raiva, de medo ou de nojo, por exemplo.
“Acreditamos que para ter sucesso precisamos conseguir nos livrar dessas emoções. Aí é que nos enganamos. (…) Veremos que todas as emoções existem por uma razão e que, sejam agradáveis ou não, seus sinais são importantes para o autoconhecimento e para nos ajudar a navegar no mar das relações interpessoais. Sim, das nossas relações. Porque uma das funções mais importantes da expressão das emoções é fazer com que a gente consiga se comunicar com os outros, transmitir informações. E, como as notícias que precisamos dar nem sempre são boas, não ter emoções negativas seria como perder parte do nosso vocabulário”, explica o autor.
Outra vantagem de Barros no livro é sua experiência com um público diversificado e massificado. O autor tem participado com frequência de programas de auditório, nos quais interage com o público da plateia e também com os telespectadores, que enviam dúvidas a respeito de sua área de atuação.
Assim, o leitor terá acesso a uma linguagem simples, semelhante a um bate papo casual, ilustrado por imagens que facilitam a compreensão de determinado termo técnico. Além disso, Barros faz uso frequente de exemplos do dia a dia, facilmente assimilados por qualquer um que estuda ou trabalha. Vale a leitura, especialmente em um período em que o ser humano parece querer esquecer que também sente emoções negativas. Mais ainda, para saber o que pode extrair de bom de momentos ruins.
Escrito por: Redação