A indústria automotiva brasileira fechou 2021 com quase 2,3 milhões de veículos produzidos, mas com a certeza de que os números poderiam ser melhores, se não fosse a falta de peças provocada pela crise dos semicondutores. Outro indicador, porém, não é tão positivo.
O ano de 2021 terminou com exatos 101.050 pessoas empregadas. É o terceiro ano seguido que a indústria fecha postos de trabalho, e o pior índice para um mês desde agosto de 2007, quando havia 100.674 trabalhadores nas fábricas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no Brasil.
Número de pessoas trabalhando na indústria automotiva
Ano | Número de empregados |
2002 | 83.400 |
2003 | 81.500 |
2004 | 83.800 |
2005 | 92.700 |
2006 | 94.000 |
2007 | 99.000 |
2008 | 110.000 |
2009 | 107.000 |
2010 | 114.100 |
2011 | 123.300 |
2012 | 129.200 |
2013 | 135.700 |
2014 | 130.600 |
2015 | 122.200 |
2016 | 115.300 |
2017 | 109.000 |
2018 | 112.200 |
2019 | 109.300 |
2020 | 104.600 |
2021 | 103.300 |
É preciso considerar a diferença tecnológica no processo produtivo nesse intervalo. De 2007 pra cá, por exemplo, diversas funções antes exercidas por pessoas passaram a ser feitas por robôs.
Mais fábricas, menos gente trabalhando
Fábrica da Toyota em Sorocaba foi inaugurada há poucos anos e trabalha perto da capacidade máxima de produção — Foto: Divulgação
“O horizonte das empresas é a busca da eficiência e da eficácia. Não resta dúvida de que a tecnologia e a robotização vêm sendo perseguidas por todas as empresas do mundo, seja em matrizes, seja nas subsidiárias”, disse o economista Antônio Jorge Martins, especialista em gestão estratégica de empresas automotivas na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Por outro lado, também é preciso apontar que o número de fábricas aumentou no Brasil desde então. Em 2007, eram 28 unidades. Hoje, são 34.
Algumas, inauguradas nos últimos anos, inclusive, funcionam perto de sua capacidade máxima. É o caso das unidades da Hyundai, em Piracicaba, e da Toyota, em Sorocaba, ambas no interior paulista.
Por outro lado, a Ford fechou todas as quatro fábricas que tinha em 2007. Outras, como a da Caoa Chery, em Jacareí (SP), e a da Land Rover, em Itatiaia (RJ), operam com grande ociosidade, apesar da pequena capacidade.
Fábrica da Ford em São Bernardo Campo já está sendo demolida — Foto: André Paixão/Primeira Marcha/Reprodução
“Estamos apostando em um crescimento de 8,5% no volume de emplacamentos, quase 4% na exportação e, na produção, estamos falando em 9,4%. O emprego vai depender dessa retomada. Se ela for melhor, porque as reformas estruturais vão ser adotadas, se não tivermos volatilidade por conta das eleições, tivermos uma retomada nos mercados mais fortes, podemos ter um impacto positivo”, disse.
A produção em 2021 cresceu 11,6% na comparação com 2020. Para 2022, a entidade acredita que sejam feitos 2,46 milhões de veículos, 9,4% mais do que em 2021. Mesmo assim, a previsão não é criar novas vagas. “Esperamos que a gente mantenha esse nível de emprego que estamos vivendo hoje”, completou.
Martins, porém, discorda da posição da Anfavea. “O que está em jogo não é a empregabilidade acompanhar a produção. Uma empresa pode crescer, mas não ver um crescimento de pessoas. Isso tende a acontecer em qualquer setor que utilize a tecnologia. O setor automotivo, que não tinha um viés tecnológico, passou a ter”.
Os números também mostram que alta na produção não significa mais postos de trabalho. Em 2021, foram produzidos mais veículos do que em 2020. Porém, com menos gente empregada. Cenário semelhante foi visto em 2018 e 2019.
E 2022?
Além disso, a sequência da crise dos semicondutores em 2022 deve obrigar as empresas a concentrar seus esforços na produção de modelos mais equipados – que também são os mais rentáveis, apesar do menor volume de vendas.
“Na prática, produzimos menos e faturamos mais, com lucratividade. A estratégia que as montadoras têm adotado é utilizar os semicondutores que estão chegando em carros com maior conteúdo tecnológico, que geram maior nível de lucratividade” completou.
Mercedes vendeu fábrica em Iracemapolis (SP) para a Great Wall (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Para 2022, o economista da FGV acredita que o cenário deve se manter estável, com cerca de 100 mil pessoas trabalhando nas fábricas brasileiras. Nem mesmo o início da produção da Great Wall na unidade que era da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) no segundo semestre deve alterar esse quadro.
“A Great Wall deve começar com SKD, depois CKD. É um estágio ainda inicial, em que o foco ainda não é a empregabilidade, mas sim o de preparação da fábrica”, explica.
Fonte: G1