Sabe por que eu não acredito no Inmetro? Ele é um órgão federal vinculado ao Ministério da Economia, encarregado de estabelecer padrões de qualidade e segurança dos produtos colocados à venda no nosso mercado.
No caso dos automóveis o Inmetro criou aquela etiqueta de consumo, sem dúvida uma boa referência para o consumidor e que até já existia há mais tempo nas geladeiras, por exemplo. Mas o órgão nem sempre é confiável e costuma dar umas perigosas derrapadas.
Uma delas foi ao certificar o pneu remoldado, uma espécie de recauchutagem que remove toda a borracha, de talão a talão, e aproveita a carcaça velha para fabricar um novo. Eu não tenho nada contra pneu recauchutado, aprovado até para aviões.
Mas e daí? Qual o perigo de não se mencionar essas características da carcaça original? Porque dois remoldados com, aparentemente, as mesmas propriedades e as mesmas medidas externas podem ter comportamento completamente distinto em situações de maior exigência, como freadas de emergência ou curvas mais apertadas, pois as duas carcaças podem ter sido projetadas para veículos tão diversos como um Porsche e a outra para um furgão de hot dog.
Outra escorregada do órgão foi elaborar as etiquetas para os pneus, que os classificam de acordo com três características: resistência ao rolamento, que dá maior ou menor consumo de combustível, aderência na pista molhada e ruído.
Lá ele é exigido, porque lá o consumidor merece respeito. Eu questionei na época o Inmetro e a resposta foi ridícula: “desgaste de pneu é item subjetivo e sujeito a muitas variáveis”.É claro, como se o consumo do combustível daquelas etiquetas de consumo também não fosse. Mas não param por aí as mal contadas histórias do Inmetro.
Outras do Inmetro
Ele decidiu com décadas de atraso certificar peças de reposição para os automóveis. Mas, das milhares delas aplicadas em um carro, elaborou uma ridícula lista com cerca de 20 componentes por um critério sujeito a chuvas e trovoadas e pressões das fábricas.
Mas a cereja do bolo da irresponsabilidade do órgão foi ceder à pressão dos fabricantes, dos famigerados engates bola, aqueles aplicados junto ao para-choque traseiro, que danificam não só o próprio automóvel no caso de um impacto traseiro, como também outros automóveis estacionados por perto durante as manobras. E pior, vai também a canela do pedestre desavisado.
O Inmetro, ao invés de exigir que o dispositivo se encaixe no interior do para-choque, ou desmontável, que só possa ser engatado ao rebocar alguma coisa, certificou o perigoso dispositivo quebra-canela desde que “aparadas as arestas” e outras exigências inócuas. E durma-se com umas arestas dessas.
Fonte: G1