Para especialista, depois de passar o buzz da tecnologia, é preciso analisar quais iniciativas são capazes de criar um impacto econômico consistente
Com um comando ou dois, um chat que consegue elaborar respostas complexas para qualquer pergunta mostrou parte do potencial de uso da inteligência artificial (IA) no dia a dia. Para o mundo dos negócios, a IA também promete e já vem facilitando muitos processos que, antes, exigiam o esforço de várias pessoas. “Para nós humanos ficarão as funções criativas, de relacionamento, e de projeção de um futuro que o histórico de dados ainda não mostra”, afirma Luis Camisasca, fundador do BizHub, ecossistema de inovação e tecnologia da A&M no Brasil. Apesar do potencial da tecnologia, a ampliação dos investimentos na área depende de alguns fatores.
No Brasil ainda há pouca oferta de tecnologias complexas com uso de inteligência artificial no mercado. Para Camisasca, conforme novas iniciativas e projetos concretos forem capazes de criar impacto econômico consistente, haverá maiores investimentos. “Com a consolidação da IA essas empresas devem atrair mais CVCs, o capital de risco corporativo. Porém, é importante ter em mente que as tecnologias emergentes têm a tendência de chegar com o buzz messiânico para resolver todos os problemas da sociedade. Sabemos que não é assim. Historicamente, quebramos a cara rápido e passamos a adotá-la num passo mais ‘humano’ ao longo do tempo, compreendendo de que forma aplicar essas novas tecnologias adequadamente para a solução de problemas”, comenta Camisasca.
Uma das grandes vantagens do uso de inteligências artificiais pelas empresas está na velocidade de leitura e interpretação de dados. A automatização do processamento de qualquer quantidade de informação pela IA consegue aumentar a eficiência dos serviços e ainda diminuir custos de produção. A tendência tem sido utilizada em diversos setores. Na área da saúde, por exemplo, a biotech InsilicAll, apoiada pelo BizHub, faz uso de inteligência artificial para encolher pela metade o tempo de descoberta de novos medicamentos em relação a uma farmacêutica tradicional.
Negócios fechados na área de marketing digital
A tecnologia tem movimentado a aquisição de empresas no Brasil. Recentemente, a Exact Sales, empresa que desenvolve o principal software de sales engagement da América Latina, o Exact Spotter, adquiriu a startup Magic Write, com o objetivo de agregar e ampliar recursos de inteligência artificial à plataforma que acelera vendas em negócios de diferentes segmentos. A ferramenta ajuda times de marketing e vendas a criar, em segundos, conteúdos em texto para sites, blogs, redes sociais e anúncios, utilizando uma tecnologia baseada em modelos de linguagem como o GPT3, da empresa OpenAI, base para ferramentas como ChatGPT. Além de incluir recursos de inteligência artificial na plataforma Spotter, a Exact levará a oferta da startup para sua base de mais de 15 mil usuários.
Segundo Théo Orosco, CEO da Exact, a Inteligência Artificial é uma revolução no mercado capaz de fazer as pessoas terem mais produtividade e desenvolver trabalhos melhores, fazendo com que cheguem mais longe a partir da tecnologia.
“A IA é uma tendência mundial e vai se desenvolver cada vez mais, proporcionando maior acesso de empresas ao marketing digital, permitindo que agências possam escalar os redatores, tendo melhor produtividade. Eu só vejo usos positivos para a área de marketing e vendas. A integração com o software da Exact vai proporcionar respostas mais rápidas e o cliente da Exact vai ganhar muita eficiência para atrair o lead, prospectar mais agilmente e conseguir em menor tempo informações de melhor qualidade”, observa o CEO.
A aquisição trará ainda para a Exact uma outra plataforma desenvolvida pela startup: o Magic Pages, que permite a criação de landing pages (páginas de conversão) inteligentes e personalizadas, de forma automática, com conteúdos e recursos a partir de contextos. Esses recursos serão incorporados ao Spotter para clientes que querem ampliar a geração de leads com estratégias de marketing digital, integrando nativamente com o fluxo de atividades para qualificação e vendas que os clientes já utilizam na plataforma da Exact.
“As aplicações são diversas, seja dando velocidade e assertividade na criação de uma página da empresa, de um conteúdo para o Instagram, ou mesmo de um e-mail de prospecção. Este tipo de tecnologia não substitui o profissional, e, sim, faz com que ele ganhe três a quatro vezes mais velocidade em tarefas de média e alta complexidades”, completa Orosco.
Aplicação sólida em diferentes setores
Apesar das novidades em relação à utilização da IA para criação de conteúdo, a tecnologia já está consolidada em diversas áreas. A coleta e o processamento de dados ajuda na tomada de decisões em segmentos como varejo e cadeia de suprimentos. Abaixo, confira dois exemplos do impacto da IA nesses setores:
Integração do varejo e indústria
Até um produto chegar na cestinha do shopper, há um longo caminho que impacta diretamente a experiência final do consumidor. Durante esse percurso, há uma lista de possíveis falhas que podem ocorrer e causar prejuízos para a indústria e o varejo físico. Para evitar problemas comuns no abastecimento, exposição e reposição de produtos, a inteligência artificial é uma importante aliada.
“Desde o centro de distribuição até a cestinha do consumidor, há vários problemas na jornada do produto que podem gerar prejuízo para a marca e para o supermercado, além de causar problemas para o shopper, como a venda de produtos vencidos e precificação errada. A inteligência artificial entra nesse caminho para detectar esses problemas e disparar alertas automáticos para agilizar o trabalho da equipe de reposição de produtos”, explica André Krummenauer, CEO da Involves, empresa que desenvolve o Involves Doors, solução que usa inteligência artificial e reconhecimento de imagem para monitorar pontos de venda como supermercados.
Em 2022, o Involves Doors emitiu 787.846 alertas de problemas identificados nas lojas, metade deles representavam um problema na gôndola. A correção das ocorrências representou mais de R$ 3,5 milhões de recuperação em vendas, ou seja, se não fossem identificadas, esse valor seria perdido. “Outra funcionalidade é o Controle de Validade, que permite um planejamento melhor das equipes de reposição e evita descarte de produtos”, completa André. O módulo lançado em 2022 permite que os times calculem a chance de vencimento de qualquer produto e passem a monitorá-lo diariamente.
O impacto da IA na cadeia de suprimentos
A automação lógica dos armazéns tem ganhado cada vez mais importância na estratégia de administração da cadeia de suprimentos. Com o aumento da robotização, o Machine Learning (ML) e o guarda-chuva maior de Inteligência Artificial (IA) desempenham papéis importantes, ajudando a garantir que os pedidos sejam despachados no prazo e que as promessas para o cliente sejam cumpridas.
Segundo o diretor de Vendas e Customer Success da Manhattan Brasil, Marco Beczkowski, para processar e enviar pedidos de última hora, os ganhos que a IA e o ML fornecem dentro do ambiente de armazém fazem toda a diferença. “O conceito de separação de pedidos em ondas pode aumentar a densidade do trabalho em um armazém, alocando pedidos e liberando tarefas em lotes de tarefas otimizadas, mas se esta onda de tarefas for gerada muitas horas antes da efetiva separação e os pedidos sofrerem mudanças, a operação não consegue reagir rapidamente às novas demandas. Tecnologias de IA e ML podem ajudar a dar mais dinamismo ao processo e assim deixar a operação mais flexível e resiliente”, explica.
Basicamente, ambas ajudam a aumentar a eficiência operacional. Outro grande exemplo disso é comparar o perfil de pedido de hoje com os perfis de pedido do passado. Sistemas inteligentes de autoaprendizagem podem prever com maior precisão quais produtos serão pedidos, onde, quando e quanto tempo serão necessários para processar um pedido no estágio de armazém da jornada do produto. “À medida que vamos cada vez mais em direção ao software na nuvem e ‘sem versão’, mais empresas terão acesso imediato às últimas inovações. Em um ambiente com arquitetura 100% em microsserviços, atualizações caras e lentas são coisa do passado, mas isso também significa que as inovações em Inteligência Artificial e Machine Learning também estão mais acessíveis e disponíveis para mais pessoas e empresas”.
Escrito por: Redação