Em entrevista à revista Mercado Automotivo, Evandro Tozati, Head of Sales & Marketing
Aftermarket South America da Mahle, destaca a participação do aftermarket brasileiro nos
negócios do grupo. Confi ra a seguir:
Mercado Automotivo – Como se deu o surgimento da MAHLE e sua vinda ao Brasil? Qual é a estratégia de crescimento da empresa para o mercado da América do Sul?
Evandro Tozati – Atualmente, a MAHLE possui 160 fábricas em mais de 30 países, nos cinco continentes, com 12 Centros Tecnológicos e mais de 72.000 colaboradores. A empresa foi fundada em 1920 na Alemanha pelos irmãos Hermann e Ernst Mahle, em um contexto conturbado e impactado pela Primeira Guerra Mundial, dentre outros fatores.
Por meio do espírito empreendedor dos fundadores, no entanto, a MAHLE se apresentou de forma inovadora ao mercado mundial com o pistão de liga leve, com qualidade muito superior aos modelos de ferro fundido, o que permitiu ganho de performance e potência aos motores de combustão. Os pistões MAHLE ganharam a preferência das montadoras e se tornaram o padrão da indústria mundial. Até hoje, o grupo se mantém como principal fabricante mundial de pistões.
Em 1950, a MAHLE chegou ao Brasil através de um dos fundadores, Ernst, que ajudou a fundar a Metal Leve e forneceu tecnologia através de uma parceria de longos anos. A história da MAHLE e da Metal Leve voltou a se cruzar em 1996, quando esta foi adquirida e houve a integração das empresas.
A estratégia de crescimento da MAHLE foi suportada por aquisições locais, permitindo ganho de escala e diversificação do portfólio. Atualmente na América do Sul são mais de 9.000 colaboradores, distribuídos em 11 unidades de negócios, sendo sete de produção para componentes de motor, filtros, sistema de ar-condicionado e gerenciamento térmico, três dedicadas ao Aftermarket no Brasil, na Argentina e no Panamá, e o Centro Tecnológico.
MA – Qual é o peso do mercado brasileiro para os negócios da MAHLE atualmente? É possível ampliar essa fatia de mercado em curto prazo?
Evandro Tozati – A MAHLE na América do Sul tem posição estratégica para os negócios globais da empresa, fornecendo componentes para os mercados OEM/OES e Aftermarket na região e também para a Europa e América do Norte.
As vendas da MAHLE são divididas em três pilares de negócios: 44% em fornecimento para OEM/OES local, 30% em Aftermarket e 26% em exportações para OEM/OES, o que permite o crescimento sustentável da empresa e a balança comercial positiva. Nos últimos anos a empresa tem conquistado novos negócios na exportação de filtros e componentes para os sistemas de arrefecimento e térmico.
No Brasil, a MAHLE continuará sendo estratégica para o desenvolvimento e fornecimento de componentes de motor a combustão para as outras regiões, bem como um centro de excelência com foco na redução de emissão do CO2. Em 2021, conquistamos novos negócios para fornecimento no canal OEM, o que é muito importante para os negócios futuros no Aftermarket. Com as aquisições e a integração dos negócios de ar-condicionado e térmico, a MAHLE tem posição de liderança no fornecimento para o mercado original, criando oportunidades de crescimento em novos negócios para a reposição.
MA – Falando especificamente sobre a reposição automotiva, gostaria que comentasse a participação do mercado brasileiro nos resultados atuais do grupo.
Evandro Tozati – Para se ter uma ideia da importância do mercado de reposição para a MAHLE, a unidade localizada em Limeira é totalmente dedicada ao Aftermarket. São 32.000 m² de área construída de um espaço total de 100.000 m2. A nova sede do Aftermarket foi construída e inaugurada em 2014, sendo 100% planejada para atender às necessidades do mercado de reposição, com time de engenharia dedicado para o desenvolvimento de produtos para a reposição, além de equipamentos modernos na área logística como o Míni Load. No local também funciona um centro de treinamento por onde passam centenas de mecânicos em busca de conhecimento técnico.
O Aftermarket é muito importante para a MAHLE, representando 30% das vendas no Brasil, e, em relação ao Aftermarket Global, é a segunda região em volume de negócio, representando 20% das vendas.
MA – Como a MAHLE está se preparando para as mudanças que estão ocorrendo no mercado de reposição e o que considera importante para atender as demandas do mercado?
Evandro Tozati – Nos dois últimos anos dedicamos a maior parte do nosso tempo para ouvir o mercado, entender as demandas e suas expectativas em relação à MAHLE. Tudo isso resultou em um plano de transformação da nossa estrutura de vendas, marketing e assistência técnica, para atender melhor as demandas do mercado e com foco da empresa em geração de demanda junto ao canal.
O plano de implantação teve início no segundo semestre de 2021 e foi concluído em fevereiro de 2022, criando a nova estrutura de GTM (go-to-market) que envolve as áreas de vendas, marketing e assistência técnica. O foco do programa de geração de demanda são varejistas, aplicadores, retíficas e frotistas, oferecendo suporte e capacitação técnica para o mercado.
Entendemos que, mais do que oferecer peças, o compromisso da MAHLE é entregar qualidade, confiabilidade e solução para nossos clientes. Para isso ser possível, precisamos estar próximos dos varejistas e dos mecânicos e entender suas necessidades.
Devido à evolução tecnológica dos veículos, precisamos oferecer ferramentas para a capacitação dos aplicadores. No ano passado foi implementado um projeto-piloto de treinamento EAD, sendo emitidos mais de 1.000 certificados.
MA – Por que a MAHLE direciona tantos investimentos à inovação? É possível dizer que a inovação é hoje o fator mais determinante em relação à sobrevivência das empresas em setores tão concorridos como o automotivo?
Evandro Tozati – Inovação e velocidade serão os fatores mais relevantes para a sobrevivência das empresas. A inovação sempre esteve presente no DNA da MAHLE. A empresa tem 12 Centros Tecnológicos ao redor do mundo, sendo um deles no Brasil, em Jundiaí. É o segundo maior centro tecnológico privado do País, com um time de aproximadamente 200 engenheiros e mais de 150 mil horas de testes em desenvolvimento de novos produtos e tecnologias.
Em 2021 foram realizados investimentos em pesquisa e inovação no Brasil, os quais são extremamente importantes para que a MAHLE continue na vanguarda da inovação tecnológica e qualidade dos produtos desenvolvidos para o mercado. Um exemplo deste resultado são as soluções desenvolvidas na região para a evolução tecnológica do motor a combustão, com objetivo de reduzir as emissões de CO2 e de consumo.
MA – O senhor considera que o pior da crise global gerada pela pandemia de Covid-19 – e consequente retração econômica – já passou? É possível ser otimista para os próximos 2 anos?
Evandro Tozati – Mesmo com a pandemia, 2020 e 2021 foram anos de crescimento e retomada de market share para a MAHLE no Brasil. A ruptura na cadeia logística e a indisponibilidade de produtos provocada pela pandemia foram os principais impactos para todos os elos da cadeia e ainda estamos vivendo alguns reflexos deste cenário. De forma geral, o nível de abastecimento está melhor, mas ainda há gargalos, seja por restrições de matéria-prima, logística ou aumento de produção não planejado.
Estamos vivendo um momento em que é necessária atenção devido à crise entre Rússia e Ucrânia, que está impactando a disponibilidade de produtos e aumentando os custos das matérias-primas.
Os negócios no Brasil se desenvolveram através dos anos com cenário de incerteza econômica, política e inflação. Acreditamos que as empresas no Brasil possuem conhecimento para lidar com estes cenários. Um dos fatores importantes para o crescimento do Aftermarket é a frota circulante. Mesmo com índices menores que em anos anteriores, a frota continuará crescendo nos próximos anos e sofrerá envelhecimento, o que é um bom fator para a reposição. Aproximadamente 60% da frota brasileira tem menos de 10 anos, o que significa que muitos veículos ainda não fizeram manutenção nos sistemas de ar-condicionado e motor.
Nosso principal desafio como fabricante é reduzir o tempo de lançamento de novos produtos para atender a frota circulante. Outro desafio para toda a cadeia é a gestão do ciclo de vida dos produtos, renovação dos estoques e precificação conforme a depreciação do veículo.
MA – A MAHLE tem desenvolvido pesquisas relacionadas aos veículos elétricos e autônomos. O senhor entende que estes modelos ainda estão muito distantes da realidade brasileira?
Evandro Tozati – Os veículos elétricos são uma realidade e estarão presentes nas frotas ao redor do mundo, mas a participação estará relacionada às características de cada região. As políticas energéticas é que irão determinar a rota tecnológica da região. Não haverá uma solução global.
O Brasil possui a matriz energética mais renovável que o restante do mundo e o foco da legislação nacional está em Emissões Locais, Eficiência Energética e Energia Renovável com metas estabelecidas até 2032.
Há 3 programas definidos pela legislação brasileira: ROTA2030 – Meio Ambiente –, com redução dos gases de efeito estufa e introdução de tecnologias nacionais; Proconve – Saúde Pública –, com redução dos gases nocivos; e Renovabio – Energia Renovável –, com aumento da participação de combustíveis renováveis para o transporte. E outros 2 em discussão – Programa Combustível do Futuro com Baixa Emissão de CO2, com foco em biocombustíveis, e o Programa Nacional do Hidrogênio. Para a nossa região, a aplicação de novas tecnologias e os biocombustíveis garantirão a aplicação do motor a combustão interna a médio e longo prazos. A previsão para 2035 é que os motores de combustão interna para linha leve irão representar 85% dos veículos produzidos no Brasil, e na linha pesada representarão 91%.
No Brasil, a previsão é que a evolução da frota elétrica será lenta até 2035 e na linha pesada haverá nicho nas grandes cidades com ônibus e VUCs para entregas, mas a MAHLE está criando competência local sobre o tema. A empresa tem apoiado a construção da mobilidade sustentável do futuro para a região sul-americana, oferecendo soluções tecnológicas para as diversas aplicações.
Escrito por: Redação