Índices econômicos do final do semestre refletem incertezas sobre real recuperação do Brasil
A reação econômica do Brasil nos primeiros meses de 2018 fez com que um sentimento de otimismo tomasse conta do empresariado nacional. Ainda que todos estivessem atentos a possíveis reviravoltas e tormentos inesperados no ambiente financeiro, a sensação geral era de que o País começava a voltar aos trilhos, recuperando-se da crise mais severa já enfrentada até então.
A paralisação dos caminhoneiros durante a segunda quinzena de maio, no entanto, fez com que o empresário brasileiro voltasse a enfrentar velhos temores, relacionados à real capacidade de recuperação do País. Assim, aquela certeza de que o Brasil chegaria ao final de 2018 com números muito melhores em sua economia sofreu um forte abalo.
Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o Índice de Confiança Empresarial (ICE) de junho recuou 1,9 ponto em relação ao mês anterior. Na média do segundo trimestre de 2018 também houve queda de 1,9 ponto na comparação com o período anterior (janeiro a março).
A avaliação da FGV é de que a queda do índice decorre da piora da percepção dos empresários brasileiros tanto em relação ao momento presente quanto em relação às expectativas de curto prazo. O ICE consolida os índices de confiança dos quatro setores cobertos pelas sondagens empresariais realizadas pela Fundação: Indústria, Serviços, Comércio e Construção.
À Agência Brasil, o superintendente de Estatísticas Públicas da FGV, Aloisio Campelo Júnior, afirmou que o recuo da confiança empresarial em junho “aprofunda uma tendência esboçada nos dois meses anteriores”. O aumento do desânimo em junho, entretanto, está diretamente relacionado aos desdobramentos econômicos e políticos da greve dos caminhoneiros.
“A este efeito, aparentemente temporário, somaram-se outros fatores que vinham provocando quedas da confiança: insatisfação com o ritmo lento de retomada da economia, falta de confiança na política econômica e aumento da incerteza política e eleitoral”, explicou Campelo Jr.
O fato de que a greve foi o fator que mais contribuiu para a queda da confiança dos empresários pode ser evidenciada a partir de uma análise mais apurada dos números. Os setores que mais registraram recuo no índice foram o Comércio e a Construção, justamente dois dos segmentos que mais foram prejudicados com a paralisação dos motoristas e as consequentes incertezas geradas pelo cenário.
Outras consequências
Não foi apenas a confiança dos empresários que foi abalada pelo caos proveniente da falta de acordo imediato entre governo e caminhoneiros. Instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (BC) aumentaram novamente a estimativa de inflação para 2018. Foi a sétima semana consecutiva com alta no índice.
Segundo a pesquisa Focus, do BC, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 4% para 4,03%. É pouco, mas chama a atenção justamente por ser a sétima alta seguida da projeção, sinalizando que o otimismo verificado no começo do ano está se dispersando ao longo de 2018.
Já a projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu em 1,55%, após oito reduções em sequência. Para 2019, entretanto, houve nova queda na projeção do índice, de 2,60% para 2,50%.
Especificamente em São Paulo, houve aumento na inflação mensal, monitorada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Se em maio o índice fora de 0,19%, em junho chegou a 1,01%, resultado atrelado principalmente à greve dos caminhoneiros. No Estado, os setores que mais registraram aumento foram os de alimentos e transporte.
Setor automotivo
O setor automotivo pode, ao menos, comemorar uma notícia divulgada recentemente. De acordo com números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas de veículos novos aumentaram 14,4% no primeiro semestre de 2018, na comparação com o mesmo período de 2017.
No total, foram mais de 1,1 milhão de veículos novos comercializados de janeiro a junho. O resultado é bom especialmente porque o setor automotivo também foi muito prejudicado com a greve dos caminhoneiros. Ocorre, entretanto, que a maior parte dos danos ficou concentrada na produção de veículos. Com isso, consequentemente, o índice de vendas pode apresentar números mais discretos em julho e agosto.
Fato é que a divulgação oficial de números e índices econômicos tem sido uma verdadeira montanha-russa, já que tem alternado boas e más notícias ao empresariado brasileiro. O superávit comercial, por exemplo, vem registrando quedas, o que pode ser visto de duas formas. De um lado, a recuperação da economia tem contribuído para o aumento das importações. Por outro, indica que as indústrias brasileiras estão exportando menos.
Trata-se da velha máxima do copo meio cheio ou copo meio vazio. Começamos o ano acreditando que o copo estava se enchendo, que já havia passado da metade. Chegamos à metade de 2018, entretanto, com os pés no chão, percebendo que o copo só deverá se encher de forma gradual e (possivelmente) lenta. Os empresários, independentemente do setor, esperam ansiosos pelos próximos capítulos.
*Com informações da Agência Brasil
Escrito por: Redação