Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Paulo Gomes, diretor Comercial do Mercado de Reposição das Empresas Randon, fala sobre os desafios e as oportunidades que o mercado da reposição automotiva deverá enfrentar nos próximos anos. Dentre as empresas do Grupo está a Fras-le, que comercializa materiais de fricção e componentes para sistemas de freios para mais de 120 países. O executivo também aborda os mercados mais promissores à empresa neste momento. Desafios e oportunidades no horizonte.
Mercado Automotivo – Com a queda nas vendas de carros novos, você considera que os próximos anos deverão reservar uma atenção especial à reparação automotiva? É possível ser otimista com o setor?
Paulo Gomes – Acredito que sim. Também trabalho com essa premissa. Nós acompanhamos a evolução das vendas de Automóveis novos e também a evolução da frota brasileira de automóveis. Principalmente no Brasil, acredito que o mercado de reposição terá um cenário muito otimista, pois, se menos carros novos chegam ao mercado, há evidentemente o envelhecimento da frota atual e isso gera uma retensão. Percebemos também que o brasileiro, com esse momento da pandemia, acabou mudando um pouco os hábitos e não está viajando, por conta das restrições de locomoção da pandemia. Assim, acabou investindo mais na manutenção de seus carros e casas. Então, acredito sim que a redução da venda de carros novos aumentará o mercado de reposição de carros usados. Os carros ficam mais velhos e estão rodando mais,
haja vista que o transporte público está bastante afetado por conta da pandemia. E isso vai nos ajudar na reposição. Acredito plenamente que a reposição vai conseguir capitalizar isso de forma bem inteligente. Sou bastante otimista com essa situação.
MA – Qual é o principal gap do setor para aproveitar essa demanda que deve aparecer a partir de agora? Seria o investimento em inovação, logística do setor?
PG – Não sei se é um gap, mas entendo que as indústrias precisam se adequar rapidamente ao novo momento. Temos uma redução de pessoas na indústria por conta da Covid-19. São milhares e milhares de pessoas infectadas que não estão indo trabalhar por conta da doença, então as empresas estão com redução do seu efetivo por conta da pandemia.
Além disso, é preciso entender que, como a pandemia começou na Ásia, foi para a Europa e depois ao continente americano, as importações daquela região foram afetadas. O aumento do dólar e a desvalorização do real fi zeram, ainda, com que as importações ficassem mais caras. Com isso, o mercado, de forma geral, recorreu à indústria brasileira, que não tinha
capacidade para atender toda a demanda. A indústria precisa se readequar rapidamente para essa nova demanda. Para capitalizar e cativar esse mercado que se abriu e absorver esse volume.
MA – Recentemente, a Empresas Randon, controladora da Fras-le, completou 70 anos. Que lições a empresa tira de seu passado longevo para superar uma crise sem precedentes como esta?
PG – A Randon completou 70 anos na gestão da mesma família e não é por acaso que é uma empresa de sucesso, que vem crescendo ano após ano. Foi por conta da expertise que a família Randon se desenvolveu, contratando executivos de mercado e desenvolvendo executivos internamente. No entanto, acho que o grande aprendizado diante de tantas crises que o grupo passou foi a preservação e gestão do nosso caixa. Costumamos dizer que o caixa é nosso rei. Para estar preparado para as crises, que podem acontecer de forma muito rápida, precisamos nos atentar ao caixa da empresa.
Nesse momento de crise, a Randon comprou a Nakata. Foi a maior aquisição da história da empresa, em um investimento de quase R$ 460 milhões. Investimos em automação industrial, compramos 260 robôs em 2020, criamos a RTS (Randon Tech Solutions), que é nossa empresa para automatizar as fábricas e ganhar em produtividade. Ao invés de investir em novas
máquinas, em construir prédios, estamos investindo em automação. Por que fi zemos isso? Porque nós temos um caixa saudável. É obvio que outras coisas também fazem a diferença, como a qualidade dos produtos. A Randon não lança um produto no mercado sem antes testar, testar e testar. Temos também o atendimento diferenciado ao cliente, promovendo proximidade com ele. São quatro pilares importantes: gestão de caixa, qualidade dos produtos, atendimento diferenciado e o quarto pilar é a diversificação de mercados. O Grupo está no segmento de automóveis, motos, na linha pesada, agrícola e
ferroviária. São esses os quatro pilares do sucesso da Randon nesses 70 anos de história.
MA – A preocupação com a inovação no setor de reposição automotiva tornou-se mais urgente durante a pandemia? É possível dizer que a inovação será um dos principais diferenciais para determinar quais players do setor conseguirão sobreviver ao pós-crise?
PG – Com certeza. Se estudarmos a história das crises mundiais, elas sempre trouxeram algo inovador para o pós-crise. E neste momento a indústria precisa buscar a inovação em seus processos. Temos um processo de transformação digital nas empresas como um todo, e na Randon isso não é diferente. Trata-se de um processo de transformação digital e cultural das empresas. Quando falo em transformação digital temos que fazer a transformação cultural também, pois elas caminham juntas. As pessoas têm que entender e absorver esse novo jeito de trabalhar. Por exemplo, continuamos presentes
nos clientes há mais de um ano sem visitá-los. Estamos presentes em reuniões on-line, por telefone. Nossos catálogos de produtos são todos digitais para facilitar o acesso ao cliente. Temos um portal de pedidos para que eles tenham facilidade em identificar os produtos disponíveis em nosso portfólio. A inovação veio para ficar e nós precisamos inovar nos processos, nos produtos e no nosso jeito de fazer as coisas.
MA – Como tem sido o apoio da Fras-le ao processo de adaptação de reparadores à tecnologia digital?
Você considera que a maioria dos reparadores já se adaptou a essa nova realidade?
PG – Com certeza. A Fras-le lançou seu catálogo digital para nos aproximarmos do balconista (varejista) e do aplicador (mecânico). Semanalmente temos novos produtos, e como comunicamos isso rapidamente ao mercado? Através do catálogo digital. Quando lançamos um novo produto, o cadastramos no catálogo e automaticamente todos os nossos clientes já o tem disponível on-line. O catálogo impresso é muito bonito em cima do balcão, mas, hoje em dia, se equipara ao
ato de ler o jornal de ontem. Já está desatualizado. O catálogo digital é atualizado on-line, permitindo que o balconista e o mecânico tenham o produto atualizado em tempo real. Trata-se de um processo de divulgação, de convencimento dos usuários para que usem nosso catálogo digital, pois ali tem informação rápida e atualizada. A plataforma é adaptável para tablet, smartphone e desktop, mas é um processo de convencimento. Percebemos o uso moderado da ferramenta, mas está sendo usada. Nosso mercado ainda é muito paper work, as pessoas ainda gostam muito de movimentar o papel, mas
percebe-se uma mobilização gradativa no setor. Lenta, mas gradativa. A digitalização veio para fi car e para ajudar cada vez mais as empresas, os mecânicos, balconistas e usuários em geral.
MA – E qual é o peso do mercado externo para os negócios da Fras-le?
PG – O mercado externo é muito importante ao Grupo. Hoje, 45% da receita da Fras-le vem da exportação. Ou da exportação a partir do Brasil ou das nossas operações no exterior. Nós temos fábricas no Uruguai, nos Estados Unidos, na Índia e China. Temos centros de distribuição na Argentina, nos EUA, na Europa e escritórios de venda no Chile, na Colômbia e no México. A exportação é essencial para nós e percebemos como um grande impulsionador de crescimento das empresas do grupo,
principalmente da Fras-le. Temos uma presença muito importante no mercado americano e também no sul-americano, mas o mundo realmente é muito grande. Temos uma excelente participação de mercado no Brasil, mas fora do país
temos muito para crescer ainda. Enxergamos os mercados da América do Norte e da América do Sul como regiões mais promissoras de crescimento.
MA – Que mensagem gostaria de deixar aos colaboradores da Fras-le no Brasil neste momento delicado?
PG – Pediria paciência com o momento que estamos vivendo, porque tudo passa. Essa não foi a primeira e nem a última crise pela qual passaremos. A empresa está num momento muito bom, tivemos um 2020 excelente e 2021 tem tudo para ser um ano bom também. E pedir, não apenas aos nossos colaboradores, mas também aos clientes e amigos, que se cuidem.
Previnam-se. Iremos nos vacinar quando for possível e devemos manter o distanciamento social porque isso é primordial para evitar a disseminação desse vírus que veio para desgraçar muitas famílias. Temos que saber passar por esse momento com inteligência e sabedoria para que possamos voltar à vida normal.
Escrito por: Redação