Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, José Angelo Bonarette Sturaro, diretor da Cobra Rolamentos, fala sobre os desafios em atuar num país de dimensões continentais, em meio a um público cada vez mais exigente e com estrutura burocrática cada vez mais confusa. “Chegamos ao absurdo de muitas vezes termos mais gente na contabilidade do que nas vendas”, avalia o diretor. A Cobra Rolamentos tem, atualmente, um portfólio com mais de 20 mil itens de rolamentos e autopeças de diversas marcas para suprir uma carteira superior a 18 mil clientes nos segmentos automotivo (linhas leve e pesada), agrícola e industrial. Confira a entrevista a seguir.
Mercado Automotivo – A Cobra Rolamentos conta atualmente com 27 filiais em todo o Brasil, certo? Quais são os desafios de manter e desenvolver uma estrutura tão robusta e diversificada em um país continental como o Brasil?
José Angelo Bonarette Sturaro – De fato, a Cobra Rolamentos tem atualmente uma estrutura de 27 filiais em todo o Brasil. São vários os desafios que temos, e o principal deles, em um país continental como o nosso, é o da logística. Estamos investindo muito para termos o produto certo, na hora certa e no lugar certo.
MA – A empresa afirma que todas essas unidades são interligadas. Levando em consideração que o brasileiro está cada vez mais exigente com o que adquire, quais são os desafios na logística e na operação para manter o mesmo nível de qualidade em todos esses locais?
JABS – Sim, todas as unidades são interligadas com todo o sistema concentrado em um data center localizado em São Paulo. Todas as nossas unidades seguem o mesmo procedimento na operação logística, gerido pelo ERP SAP. Temos coletores de dados desde 1999 e nos últimos anos estamos investindo fortemente na automatização dos processos de separação e armazenagem das mercadorias com tecnologia de voz (voice picking). Em 2018 adotamos uma solução de análise preditiva com inteligência artificial para reposição do estoque. Tudo isso para suprir essa demanda de agilidade que só aumenta em nosso setor.
MA – O que o senhor considera mais urgente em termos de políticas públicas (pensando na evolução da reposição automotiva): uma reforma tributária ou uma política de investimentos maciços e coordenados em infraestrutura/logística? JABS – Para empresas de atuação nacional, como a Cobra, uma reforma tributária seria altamente positiva para termos um crescimento sustentável. Simplificando os impostos teríamos condições de aperfeiçoar nossas operações.
Atualmente, com a diversidade de alíquotas que temos com ICMS, IPI, ST, PIS e Cofins, e com cada Estado legislando, chegamos ao absurdo de muitas vezes termos mais gente na contabilidade do que nas vendas.
MA – Atualmente ainda observamos discussões a respeito de empresas generalistas “versus” empresas especialistas em determinado segmento. A Cobra Rolamentos conta com cerca de 30 mil itens em seu portfólio. Gostaria que falasse dos benefícios em adotar uma estratégia que contemple uma ampla e variada gama de produtos em detrimento de se especializar apenas em algo.
JABS – A Cobra, desde o início, se propôs a fazer a diferença em rolamentos e isso se mantém até hoje. Nisso somos especialistas, procuramos atender todas as necessidades dos mercados: automotivo, agrícola, industrial e motos. Na parte de autopeças somos generalistas. Temos uma grande gama de produtos que atendem a expectativa de nossos clientes.
MA – Em sua opinião, qual é o principal gap da reposição automotiva brasileira atualmente?
JABS – Além da parte tributária que falei acima, acho que vale citar a falta de uma integração maior do varejo com o distribuidor, e também a falta de padronização na codificação dos produtos. Com a padronização, conseguiríamos automatizar as cotações, deixando os vendedores com o tempo livre para oferecer produtos e soluções.
MA – O ano de 2019 representa o início da adoção do programa Rota 2030 no setor automotivo brasileiro. Qual sua avaliação sobre o programa? De que forma ele poderá contribuir com o desenvolvimento da reposição brasileira?
JABS – O programa trará maiores benefícios para as montadoras que se adequarem aos compromissos de eficiência energética. Com as novas tecnologias de segurança teremos mais eletrônica embarcada e com isso o mercado de reposição terá que se especializar ainda mais e viver em constante aperfeiçoamento. Também estimularão novos desenvolvimentos de veículos híbridos e elétricos, direção autônoma, nanotecnologia, entre outros, impactando toda a cadeia, principalmente fornecedores e produtores de autopeças.
MA – A Cobra Rolamentos investe em inovação e novas tecnologias? O senhor considera essencial esse tipo de investimento atualmente?
JABS – Sim, a Cobra é a empresa do setor que mais investe em tecnologia. Hoje a distância entre inovação tecnológica e sobrevivência está cada vez menor. Neste ano estamos investindo para ficar cada vez mais próximos de nossos clientes, tornando a experiência de compra cada vez melhor e mais facilitada.
MA – Quase 20 anos após criar sua própria linha de produtos, qual é o balanço que a Cobra Rolamentos faz do desempenho de seus produtos?
JABS – Sempre nos preocupamos com qualidade. Nossos produtos de marca própria têm a mesma segurança e garantia de produtos nobres.
MA – A Cobra Rolamentos entende que o pior da crise econômica brasileira já passou? É possível ser otimista para os próximos anos?
JABS – No início de 2019, tínhamos uma expectativa melhor para o ano, mas o que vemos, mês após mês, é a redução da estimativa do PIB (Produto Interno Bruto). Isso nos mostra que ainda não deslanchamos, todos estão no aguardo da reforma da previdência para fazer seus investimentos.
Não podemos deixar de ser otimista. A frota cresce e envelhece, e isso faz com que o aftermarket seja sempre muito interessante.
Escrito por: Redação