Com mais de 30 anos de experiência no setor automotivo e mais de 20 anos de atuação na Motorservice, o executivo Luís Lipay tem uma ampla e rica avaliação do mercado, seus gaps e principais desafios daqui em diante.
Lipay é diretor Comercial do Brasil e América Latina da Divisão de Reposição do Grupo Rheinmetall, que comercializa os produtos das marcas KS e Pierburg no mercado de reposição. Confira a seguir a íntegra de sua entrevista à revista Mercado Automotivo.
Mercado Automotivo – A Motorservice, que comercializa as marcas KS e Pierburg, é uma das empresas que mais investem atualmente na capacitação de profissionais do setor da reposição automotiva no Brasil. Por quê? Qual é a importância de seguir investindo neste tema?
Luís Lipay – Para nós, colaborar na capacitação dos profissionais de reparação é um compromisso que assumimos para contribuir com o desenvolvimento do mercado. Temos o Centro de Treinamento em Nova Odessa (SP) com programação anual de cursos, além de realização de treinamentos presenciais e on-line em parceria com entidades e distribuidores para levar conhecimento e atualização das novas tecnologias em motores para veículos leves e pesados, utilitários e agrícolas. Não basta apenas apresentar lançamentos ao mercado, existe a necessidade de levar conhecimento técnico e orientação de aplicação e manutenção, procurando garantir assertividade nos serviços de reparação. Utilizamos nossos canais nas redes sociais com vídeos que contam com a participação da nossa equipe técnica e também dos influenciadores parceiros para esclarecer dúvidas que são apresentadas pelos reparadores, muitas delas inclusive recebidas no dia a dia através do nosso 0800.
MA – Nos últimos 10 anos, a capacitação de profissionais em diversos setores passou a ser feita também de forma virtual ou através de outros formatos, diante das diferentes demandas que chegaram desses profissionais. Como a empresa lida com essas mudanças no cenário de capacitação?
LL – Há algum tempo já disponibilizamos para os nossos clientes, além dos treinamentos presenciais, o formato on-line e híbrido. Além de investirmos constantemente na atualização e no compartilhamento de conteúdo através das nossas redes sociais, como YouTube, e de forma inédita somos a primeira subsidiária do Grupo a ter um canal no Instagram regional. O canal foi lançado em outubro do ano passado com muito conteúdo e com uma significativa participação e interação dos profissionais do mercado. O canal com menos de seis meses já conta mais de 7 mil seguidores.
MA – Lipay, você já tem mais de 20 anos de atuação na Motorservice, certo? Em sua opinião, quais foram as principais mudanças enfrentadas pelo setor de reposição automotiva no Brasil nessas últimas duas décadas?
LL – Sim, já atuo há mais de 30 anos no setor automotivo e estou na Motorservice desde 2002. De forma geral, vejo que o nosso mercado vem evoluindo e se reinventando sempre. O mercado de reposição brasileiro é um exemplo da capacidade de superação, geração de emprego e bons resultados mesmo perante as inúmeras crises econômicas e políticas já enfrentadas pelo nosso país. Não posso deixar de mencionar a pandemia, que foi um acelerador de muitas mudanças, e que, junto com as novas tecnologias vêm mudando tanto a nossa forma de nos relacionar, como de capacitar as pessoas e até mesmo de comercializar os nossos produtos. Podemos citar alguns exemplos como os eventos e treinamentos on-line, híbridos e a venda de peças pelas plataformas digitais. Outro fator muito relevante de mudança é em relação à diversificação da frota, as tecnologias empregadas em seus componentes e os novos conceitos de mobilidade. E para que o nosso mercado consiga acompanhar toda essa transformação e evolução tecnológica, as empresas precisam investir constantemente em tecnologia e capacitação tanto dos seus profissionais, como os da ponta.
MA – O que a pandemia de Covid-19 trouxe de mudanças para o relacionamento entre as marcas e o mecânico? No seu entendimento, esse relacionamento passou a ser mais direto, mais objetivo?
LL – Com todas as dificuldades impostas pelo isolamento social que refletiram em diversos problemas em todas as áreas, aprendemos que mesmo não estando fisicamente presentes, o mais importante é sempre permanecer atento ao cliente e suas demandas e manter-se ativo na entrega de soluções. O que ficou de toda essa situação é que um relacionamento sólido e construído na base da confiança e transparência é capaz de superar os fatores adversos e imprevistos e até mesmo fortalecer as parcerias.
MA – É possível dizer que 2023 foi o primeiro ano, de fato, pós-pandemia. Ou seja, com vacinação consolidada e isolamento social praticamente superado. Qual o balanço que você faz dos resultados obtidos pela empresa em 2023?
LL – O mercado de reposição continuou aquecido em 2023, o que foi muito bom. Devido ao aumento da demanda e à ampliação da nossa participação no mercado, a operação no Brasil ganha ano a ano expressivo grau de relevância no mercado brasileiro e na América Latina.
MA – Qual é a importância do mercado de reposição brasileiro para a Motorservice? É possível aumentar essa fatia de negócios?
LL – O Brasil e a América Latina são mercados consolidados. Pela última referência que temos, estima-se que a frota brasileira esteja entre a sexta maior do mundo. Portanto, o Brasil é o foco dos nossos negócios na venda e distribuição da linha hardparts e mecatrônica com as marcas KS e Pierburg. O nosso objetivo é seguir nos próximos anos investindo para disponibilizar ao mercado de reposição um amplo e diversificado portfólio, com produtos de alta qualidade, e também na capacitação de todos os elos da cadeia.
MA – Ainda nesse sentido, qual é o peso da América Latina para a empresa? As expectativas são positivas para os próximos 5 anos?
LL – A América Latina é um importante mercado para a companhia e o Brasil é ponto focal desta operação. Por isso, temos uma ampla estrutura para suportar a expansão dos negócios e a implantação de processos padronizados da matriz da Alemanha para dar impulso e atender a demanda do mercado.
MA – Qual seria, em sua avaliação, o gargalo mais urgente para o setor do aftermarket no Brasil?
LL – O reparador, que tem o carro na oficina para manutenção, precisa da peça no menor tempo possível. Considerando a diversificação de marcas e modelos de veículos da frota, que envolvem milhares de aplicações, o desafio é ter na ponta a peça específica com qualidade e alto desempenho, além de proporcionar informações em tempo real para garantir a melhor forma de utilização e aplicação dos produtos.
Com toda essa complexidade para atender a frota circulante, há uma exigência maior da área de logística para atender as necessidades de cada um deles.
MA – Qual é o impacto dos veículos elétricos para a reposição automotiva do Brasil atualmente? O movimento ainda é incipiente ou já dedica maior atenção?
LL – No Brasil, com a tecnologia do etanol, combustível de energia limpa, o avanço do carro elétrico tende a ser mais lento do que em países da Europa, por exemplo. Mas, independentemente do ritmo, os veículos elétricos e principalmente os híbridos, já estão presentes na nossa frota, mesmo que em menor escala, demandando uma capacitação profissional e equipamentos específicos. É muito importante que o setor de reparação esteja preparado para atender a essa nova demanda. Iniciativas como o programa de pós-graduação em veículos híbridos e elétricos da Faculdade Senai-SP Ipiranga, lançado no final de 2023, para formar especialistas com uma visão atualizada dos conceitos gerais da eletromobilidade e das tecnologias disponíveis nestes veículos, são muito bem-vindas.
Como uma empresa especialista e tradicional em componentes para motor a combustão com a marca Kolbenschmidt (KS), há alguns anos temos investido fortemente na linha de produtos mecatrônicos que comercializamos com a marca Pierburg, itens voltados para a circulação de água e ar e refrigeração térmica e que se aplicam tanto nos motores modernos elétricos e híbridos, como também em alguns modelos convencionais movidos a gasolina, diesel e flex.
Portanto, considero que somos um exemplo de como a cadeia produtiva está se adequando a essa nova realidade, se movendo através da ampliação de portfólio, apoio e participação em encontros e eventos que promovam o conhecimento técnico sobre eletrificação e se atualizando às novas tecnologias aplicadas nesses novos motores, para continuar atendendo com excelência e qualidade o mercado de reposição.
Muito embora o mercado de reposição comece a se preparar para as novas tecnologias de mobilidade, seguindo a evolução tecnológica, a frota, que em 2023 deve ter ultrapassado os 47 milhões de veículos, tende a aumentar e ainda será predominante nas próximas décadas no Brasil.
Escrito por: Redação