Aumento de aplicativos de transporte ampliam financiamento de veículos.
Nos últimos anos, cidades dos mais variados portes do Brasil passaram a conviver com aplicativos de transporte em carros particulares. O aumento significativo do serviço (que gerou protestos de modelos mais tradicionais de transporte, como os táxis e até mesmo as empresas que operam o transporte público) está basicamente relacionado à crise econômica que afeta o Brasil desde, ao menos, 2012.
O novo modelo, entretanto, começa a gerar resultados também no setor automotivo propriamente dito, impactando índices de financiamento, aluguel e gerando expectativa pelo aumento da demanda por manutenção dos veículos.
São duas as vertentes que contribuíram para ampliar o cenário de maior demanda dos aplicativos de transporte nas cidades brasileiras: uma atrelada ao usuário e a outra relacionada ao motorista que opta por trabalhar com essa modalidade, muitas vezes sem qualquer experiência no transporte urbano.
O usuário é movido basicamente pelo bolso. Especialmente em seu início, os aplicativos de transporte chamaram a atenção dos consumidores por conta dos valores praticados em seus serviços, bem abaixo das tarifas médias de táxis e aluguéis de carros. Quando o preço começou a ficar mais equilibrado, o aumento da oferta de aplicativos com serviços semelhantes fez com que as tarifas novamente fossem repensadas, sempre para baixo.
Porém, o uso dos aplicativos foi além da economia financeira em si. Os usuários passaram a preterir os meios tradicionais
de transporte também pela praticidade, conforto e segurança que lhes eram oferecidos. Especialmente no início dos trabalhos, já que hoje todos os itens citados acima passaram a ser questionados por parte dos usuários, resvalando na própria imagem/reputação das empresas que oferecem os serviços.
Por outro lado, o brasileiro desempregado viu nos aplicativos de transporte uma oportunidade de trabalhar, com riscos menores e mais controlados, e um horário flexível de jornada. Novamente, nos últimos meses, tem aumentado o número de reclamações de motoristas em relação à baixa lucratividade, à rotina de trabalho muito extensa e à ausência de compromisso/suporte de alguns aplicativos.
Fato é que, mesmo diante das reclamações, os aplicativos de transporte seguem como a principal (e muitas vezes única) saída possível para muitos brasileiros que não conseguem se realocar no mercado de trabalho. E esses brasileiros têm buscado seus próprios veículos para evitar gastos ainda maiores com locação, por exemplo, ou na manutenção de veículos que já deixam de oferecer qualidade, conforto e segurança exigidos pelos usuários.
De acordo com levantamento da B3, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), os financiamentos para compra de carros, motos e caminhões cresceu 9,1% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2018. Com isso, essa modalidade de negócio permitiu a compra de 2,87 milhões de unidades, sendo que 1,06 milhão são veículos
novos – aumento de 9,7%. Os usados totalizaram 1,81 milhão de unidades, alta de 8,7%.
Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora da graduação em Economia do Insper, Juliana Inhasz, ressaltou a correlação entre a alta taxa de desemprego no Brasil e o aumento na demanda por financiamento de veículos. “Muita gente que fica desempregada enxerga no setor de transportes uma alternativa de renda e para isso precisa de um automóvel”, explicou.
Para o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, no entanto, esse movimento de crescimento envolvendo automóveis para motoristas de aplicativos já deu sinais relevantes em 2018. “Tem um impacto importante. Desde o ano passado isso é notório”, disse, também em entrevista à Agência Brasil.
Mas especialistas ponderam algumas questões em relação a esse cenário. Para Tingas, a aquisição do veículo através de financiamento está relacionada a um investimento direto daqueles que pretendem trabalhar nesse cenário. Ou seja, não se trata propriamente de um aumento do consumo, ou até mesmo da “simples” troca de um veículo usado por um novo.
“Para mim, esse tipo de financiamento indireto, via Uber, não é um consumo. Ele não comprou um carro para uso pessoal ou para lazer”, complementa Tingas. Já Inhasz ressalta que o crescimento deve ser observado também a partir de uma base de comparação baixa, resultado dos desempenhos negativos na venda de carros nos últimos anos.
“Apesar da alta ser significativa, a gente está falando de uma base muito ruim. Parece uma bruta de uma alta, mas, na verdade, é uma recomposição, a gente está tentando recuperar um setor que tinha sofrido muito com a crise”, disse a professora, que também ressaltou: “Tem uma melhora do mercado, porque a taxa de desemprego tem caído, devagar, mas tem caído”.
Ainda que a compra dos veículos seja direcionada ao trabalho em si, trata-se de uma oportunidade interessante para a indústria de autopeças. Quem trabalha diariamente com o carro (e enfrenta rotinas exaustivas na condução) tem uma preocupação até maior com a conservação de seu meio de trabalho do que o cidadão comum tem com seu meio de transporte.
Não apenas em relação à limpeza, mas o motorista do aplicativo precisa fazer manutenção adequada, reposição de qualidade com mão de obra qualificada em seu atendimento. Para ele, afinal, qualquer minuto com o carro parado representa prejuízo. Oportunidade e desafio para o setor de reposição automotiva.
*Com informações da Agência Brasil
Escrito por: Redação