Em entrevista à revista Mercado Automotivo, o novo presidente do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva –, Claudio Moyses fala sobre os principais desafios e objetivos que identifica em seu mandato, que compreende o biênio 2021-2023. Moyses tem mais de 25 anos de experiência no setor automotivo e assume o cargo em sucessão a Ingo Pelikan, que presidiu o instituto por oito anos, mas deixou o cargo por motivos de saúde.
Ao assumir o instituto, Moyses ressaltou que a qualidade deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar uma necessidade primária no setor automotivo, imposta pelo principal ator do mercado: o consumidor. Confira a seguir a íntegra da entrevista do executivo à Mercado Automotivo.
Mercado Automotivo – De início, gostaria que falasse sobre seus principais desafios e objetivos para este mandato à frente do IQA.
Claudio Moyses – Primeiramente, o IQA já tem uma atuação como organismo de certificação de produtos, sistemas e serviços, treinamentos, estudos e publicações técnicas, além de ensaios laboratoriais, então o primeiro ponto é mantermos essa qualidade de trabalho e expandir estas atividades dentro desse perímetro. É o que chamamos de Motor 1, que são atividades que nós já realizamos, fazemos muito bem e somos reconhecidos no mercado especializado e na indústria automotiva.
E temos o que chamamos de Motor 2, que envolve toda a transformação pela qual a indústria vem passando, que engloba conectividade e sustentabilidade, eixos-chave que estamos trabalhando, discutindo e focando nosso planejamento em ações nessa área, que vão permitir preparar toda a cadeia automotiva para a transformação digital, por meio de oportunidades, inovação e qualificação técnica e prática.
O propósito do IQA é promover qualidade, competitividade e sustentabilidade para todo o universo automotivo e é esse o ponto-chave em que estamos focando.
MA – Gostaria que falasse sobre a atuação do IQA no tema da Sustentabilidade. Por que é necessário ampliar essa atuação? Qual é a importância desta seara para o IQA?
CM – Nesse caso específico temos dois focos. Primeiro temos que atuar na questão ambiental como um cliente, em todas as ações de redução de carbono e eletrificação por exemplo. Também temos ações voltadas aos veículos híbridos/etanol e programamos vários temas interessantes para oferecer apoio ao setor para essas transformações.
E depois temos todas as questões de sustentabilidade sob o ponto de vista social, de diversidade, de inclusão, com base nestes princípios, que são temas também muito relevantes para o IQA.
MA – O IQA completou 26 anos em 2021. Em sua opinião, qual é a principal conquista do Instituto nesse período? E qual desafio permanece para os próximos anos de atuação?
CM – São vários pontos marcantes, começando no contexto do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, participamos da estruturação inicial dos regulamentos para certificação de produtos automotivos. Também trabalhamos bastante com a discussão da qualidade com os fóruns específicos e, mais recentemente, a aquisição de nossa sede, uma conquista da qual muito nos orgulhamos. Considero que o IQA vem tendo um papel muito importante para o setor e hoje é realmente uma referência.
MA – O senhor diz que a qualidade deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar uma necessidade primária. Por quê? O consumidor brasileiro está muito mais consciente da importância de contar com produtos de qualidade e confiáveis?
CM – Hoje, cada vez mais a qualidade está colocada como estratégia das empresas e cada vez se fala mais sobre a experiência do cliente. Se quisermos realmente pensar em satisfação e atender às expectativas dos clientes temos que ter um desempenho em todos os eixos que permitam realmente satisfazer cada etapa da jornada do cliente e em todos os momentos. Este é um ponto-chave que estamos vendo e na medida em que avançamos para toda essa transformação da indústria, nos encontramos mais e mais com os serviços digitais e temas de cibersegurança. É um mundo novo e temos que entender a experiência do cliente nesse novo contexto.
MA – A pandemia de Covid-19 trouxe e segue trazendo uma série de mudanças para diversos setores da indústria. Em sua opinião, é possível apontar qual é a principal mudança vivenciada pelo setor automotivo nesse cenário?
CM – O que vejo inicialmente é toda essa atuação remota, que é algo que poucas empresas faziam e que abriu uma possibilidade muito grande de se estar desenvolvendo um trabalho até com mais produtividade à distância por meio do uso das diversas ferramentas digitais hoje disponíveis.
MA – Com a profusão de marcas e modelos de veículos nas últimas décadas, muitos players do setor de reposição optaram por se especializar em determinado segmento, deixando para trás aquele perfil “generalista”. Gostaria da sua opinião: é possível trabalhar com um amplo e diversificado portfolio sem deixar que a qualidade do serviço seja afetada?
CM – Acredito muito que é, sim, possível fazer bem as duas coisas. Podemos ter as duas possibilidades. Um especialista que tem excelente qualidade geral, como também um generalista que sistematiza padrões e, no seu próprio sistema de qualidade, produz diferentes produtos e serviços.
MA – Como o IQA pretende fomentar a qualificação dos profissionais do setor automotivo brasileiro nos próximos anos? Como o Brasil está em termos de qualificação de profissionais na comparação com outros mercados?
CM – O IQA está sempre buscando melhorar a qualidade do serviço prestado e pensando sempre no cliente e, por isso, estamos focados em criar projetos para capacitar ainda mais a mão de obra do setor automotivo.
No Brasil, é muito comum termos profissionais que aprenderam suas profissões na prática, que não tiveram acesso à educação formal e estamos focados em mudar esse parâmetro, trazendo mais qualidade para os serviços e para os trabalhadores. A certificação IQA para reparadores automotivos, cuja primeira edição ocorrerá agora em outubro, é nosso próximo passo nesse sentido.
MA – Quais são os principais desafios que precisam ser superados para que os players do mercado consigam fazer o movimento contrário em suas atuações: da jornada do consumidor para a fábrica?
CM – Para fazer esse caminho contrário é necessário que os players realmente se coloquem no lugar do consumidor e entendam qual experiência eles estão proporcionando e qual querem proporcionar. A qualidade do serviço e dos produtos, sob a ótica do cliente, deve sempre ser o foco primordial dos players do setor.
MA – E sobre o iQMX, quais são as perspectivas de novas soluções nesta marca?
CM – O nosso grande desafio é desenhar o modelo de qualidade do futuro, a começar pela definição do papel da qualidade nos produtos, processos produtivos, administrativos e de serviços. Ao mesmo tempo também avaliar a forma como as pessoas lidarão com a qualidade dos produtos do futuro, como carros autônomos e/ou elétricos, a mobilidade, a automação de processos, a digitalização, entre outras mudanças que já estão impactando o setor automotivo.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem a todos os clientes e parceiros do IQA em relação aos próximos dois anos.
CM – Gostaria de agradecer muito aos clientes e parceiros que confiaram a nós o trabalho do IQA desde o primeiro momento e espero que essa parceria que temos continue forte e rendendo muitos frutos, que continuarão a ser colhidos por toda a comunidade automotiva, na lógica atual de mobilidade.
Escrito por: Redação