Formato on-line traz desafios, mas permite ampliar o público e qualificar ainda mais a programação
Parece uma eternidade, mas foi em 21 de março, há pouco mais de seis meses, que o Governo do Estado de São Paulo anunciou o início da quarentena motivada pela pandemia de Covid-19. De lá para cá, diversos foram os efeitos do isolamento não apenas entre os paulistas, mas em todo o Brasil. Empresas fecharam, diversos setores se viram sem apoio e empresários dos mais diferentes portes tiveram que se reinventar para seguir vivos em 2020.
Além do turismo, houve outro setor que sentiu os efeitos mais fortes da pandemia do novo coronavírus: o de eventos. Com diversos adiamentos logo de início, quem atuava no setor precisou convencer clientes a não cancelar contratos e a manter os pagamentos, impedindo que, logo de imediato, houvesse uma falência generalizada de CNPJs.
Quem trabalha com eventos não detinha caixa suficiente para sobreviver a dois, três, quatro meses parados. Com alguns contratos sendo simplesmente quebrados, faltava verba para, inclusive, arcar com os compromissos mais básicos do mês.
O cenário de dificuldades chamou a atenção também a força do setor de Eventos na economia brasileira. Segundo dados da Ubrafe (União Brasileira dos Promotores de Feiras), o segmento de eventos corporativos representou 4% do PIB do Brasil em 2019. O que mais gerava medo nos profissionais do setor era a incerteza quanto ao fim da pandemia. Cerca de 400 eventos foram inicialmente transferidos do primeiro para o segundo semestre de 2020, mas o prolongamento da pandemia colocou em dúvida, inclusive, a realização das programações adiadas.
Com isso, muitos fornecedores ligados a eventos passaram a atuar da mesma forma que em diversos outros setores em meio à pandemia: de forma on-line. Mas como transportar o porte, o conteúdo e a elegância dos eventos presenciais para transmissões on-line sem perder todas essas características? A solução (e a única resposta possível) foi inovar.
Com o Seminário da Reposição Automotiva não foi diferente. Organizado pelo Grupo Photon, o evento é realizado anualmente pelas entidades que compõem o Grupo de Manutenção Automotiva (Sindipeças, Sicap, Andap, Sincopeças e Sindirepa Nacional) e está em sua 26ªedição. Neste ano, ocorrerá nos dias 10 e 11 de novembro.
A partir da recomendação das principais autoridades de Saúde para evitar aglomerações e eventos em locais fechados, o Seminário ganhou programação on-line, sem perder espaço para as tradicionais palestras e debates que todos os anos abordam os temas de maior relevância para o setor automotivo.
Tradicionalmente, o evento reúne presencialmente cerca de 500 profissionais das fábricas de autopeças, da distribuição, dos varejos, das oficinas mecânicas, fornecedores, prestadores de serviços e de segmentos afins, trazendo à tona questões cruciais que impactam os negócios do mercado independente de reposição e reparação automotiva. O formato virtual, inédito, entretanto, ampliará de maneira exponencial a participação de empresários do Brasil e de países que mantêm negócios no mercado brasileiro.
Desafios
São muitos os desafios impostos aos eventos on-line. Um dos mais frequentes e ao mesmo tempo mais complexos é o problema de conexão. Com tantas frentes participando ao mesmo tempo, é muito comum que em algum momento a internet de alguns dos palestrantes fique lenta, instável ou até mesmo caia. Com o modelo home office sendo adotado por boa parte das empresas no Brasil, a demanda por internet de qualidade e confiável aumentou de forma significativa, expondo até mesmo as dificuldades de conexão em zonas periféricas das grandes metrópoles.
Outro desafio é prender a atenção de todos durante o evento em sua totalidade. Isto porque, novamente, o home office obrigou as pessoas a se adaptarem de modo forçado ao formato. Ainda assim, ninguém está imune a distrações pessoais ou pequenos contratempos que podem surgir em meio ao evento.
Há um outro ponto que teve de ser estudado por todos que trabalham com eventos, seja em sua organização, seja em sua programação. Com tantas mudanças ocorrendo no mundo de forma simultânea, impossível não repensar as temáticas que são discutidas nos principais eventos do País. Nesse sentido, voltar o olhar para outros mercados é essencial para todos que têm dificuldades em enxergar cenários mais claros para o mercado brasileiro. Além disso, a força da digitalização e do formato on-line – não apenas para eventos, mas para negócios, reuniões e trabalho em si – ficou ainda mais evidente. Nem é preciso curvar-se a este novo cenário, já que essas características já são realidade e extremamente necessárias para quem deseja sobreviver.
Maior alcance
A pandemia, no entanto, também trouxe uma série de oportunidades para quem trabalha com eventos. Uma das principais vantagens observadas no novo cenário é a possibilidade de ampliar de forma significativa o público que tem acesso ao conteúdo apresentado. Anteriormente, a participação inclusive de lideranças em eventos corporativos era sujeita à disponibilidade de agendas, deslocamentos entre diferentes regiões do País e possibilidade de ausentar-se de suas principais funções por dois, três e até quatro dias, em alguns casos.
Com o modelo on-line de eventos, foi possível ampliar o raio de alcance do setor. Assim, mais lideranças puderam disponibilizar parte de sua agenda para a programação, já que o tempo despendido em cada um deles passou a ser consideravelmente menor. Isso permitiu, inclusive, que alguns palestrantes e promotores de conteúdos pudessem se dedicar a mais de um evento por dia. A multiplicação de participações era algo completamente inviável anteriormente, ainda que os encontros ocorressem na mesma cidade.
O público também aumentou. Afinal, para ter acesso ao conteúdo abordado em determinado evento ou live, ninguém mais é obrigado a deslocar-se para outra cidade ou estado. Isso não impede que as organizações mantenham a cobrança para o ingresso e disponibilização on-line dos conteúdos, já que esse tipo de evento também tem consideráveis custos atrelados. Mas o gasto do público é consideravelmente menor, uma vez que o transporte deixa de ser um item gerador de despesas.
Inovar também se tornou uma opção mais viável, pois os organizadores puderam investir em conteúdo produzido em diferentes localidades, permitindo o diálogo entre diferentes pensadores, que dificilmente ocorreria em um cenário de eventos presenciais.
Futuro dos eventos
Assim como em diversos setores, é simplesmente impossível traçar previsões concretas sobre o mercado de eventos. Afinal, a pandemia segue em evidência e, até que ocorra a descoberta (e aplicação em massa) das vacinas, é extremamente difícil supor que a reunião de grandes públicos voltará a ocorrer sem restrições.
Ainda assim, é possível observar (em algumas temáticas) o aumento no número de eventos on-line e lives proporcionadas ao público. Se o número de opções ao público aumenta, é preciso investir também em diferenciais para o conteúdo que você irá apresentar, porque o público consumidor poderá se tornar cada vez mais exigente para selecionar o conteúdo que deseja vivenciar.
Além disso, outro desafio será adaptar o tradicional networking dos eventos presenciais para a modalidade on-line. Em alguns encontros antes da pandemia, muitos participantes entendiam esse tipo de relacionamento com importância até superior ao conteúdo em si ministrado pelos palestrantes.
Não será nada fácil promover essa adaptação, mas os organizadores podem pensar em uma programação “menos solta” para esse networking. Promover provocações, temas atuais e assuntos de amplo interesse comercial podem ser decisivos para que as pessoas deixem de lado o papel de público apenas receptor e busquem promover um relacionamento mais estreito com os demais participantes (e possíveis parceiros comerciais futuramente).
De todo modo, é preciso atentar-se ao fato de que este cenário de eventos on-line não deverá mudar tão cedo. Se inicialmente os organizadores apenas adiaram em um semestre os eventos vindouros, desta vez muitos estão simplesmente transferindo a realização para a temporada seguinte, de modo a garantir sua ocorrência. Se até mesmo as Olimpíadas de 2020 foram adiadas para 2021, é impossível supor que eventos com menor aporte e capacidade de readaptação inferior possam simplesmente voltar a ocorrer nos últimos meses de 2020.
Ao invés disso, outra opção que tem sido adotada por produtores e promotores de eventos é oferecer conteúdo extra ao público. O evento presencial ficaria “restrito” à programação daquele único dia. No entanto, a pandemia permitiu, de alguma forma, que novas palestras e pequenas exposições fossem oferecidas a todos. Diante de uma enormidade de opções de encontros on-line e lives, o oferecimento de conteúdo extra (na maior parte das vezes gratuitamente) pode ser um importante diferencial para fazer com que seu público-alvo vire os olhos (o celular ou o mouse) para o que você oferece.
Os cenários são diferentes e não há nada que impeça as mudanças que já se tornaram uma realidade para diversos setores. Que os eventos permaneçam, enriquecendo suas programações com conteúdo de qualidade e atrativos, mantendo e ampliando o interesse do público consumidor.
Francisco De La Tôrre, presidente do Sincopeças-SP, vice-presidente da FecomercioSP e presidente da 26ª edição do Seminário da Reposição Automotiva – O Seminário da Reposição Automotiva já está consolidado, amplamente bem aceito no nosso mercado, tanto que já estamos na 26ª edição, e o desafio de entregar algo da envergadura que o evento merece é ainda maior. Abordaremos e trataremos de temas atuais e pertinentes que nos ajudarão a ter um olhar mais acurado para o futuro e para qual direção a biruta dos ventos tomará nesses novos tempos. Um aspecto interessante é que no seminário tradicional estávamos limitados ao número de cadeiras do auditório. Com esse novo formato, o seminário pode ser visto a qualquer tempo, a qualquer hora, em qualquer parte do mundo. Portanto, as possibilidades de acesso ao seminário são muito maiores e seus conteúdos terão maior penetração.
Escrito por: Redação