Em livro, executivo analisa os valores que formam o coração de um negócio bem-sucedido
brasileiro que colocasse os pés nos Estados Unidos ao final da primeira década dos anos 2000 muito provavelmente faria uma parada estratégica em alguma das lojas da marca Best Buy para adquirir eletrônicos e similares por preços inferiores aos praticados por lojas semelhantes no Brasil. Não era apenas pelo preço. A marca varejista era sinônimo de assistência técnica e suporte para aqueles que não faziam ideia sobre o modelo de computador, notebook ou celular que mais atenderia suas demandas. Tratava-se essencialmente de um modelo de vendas em lojas físicas, baseado na variedade de produtos, bons preços e atendimento especializado.
Em um curto espaço de tempo, no entanto, não apenas a Best Buy, mas diversas outras varejistas nos EUA se viram diante de um concorrente voraz. O fortalecimento da Amazon fez com que uma fatia considerável do mercado consumidor migrasse para o e-commerce, principalmente em razão de preços mais baixos, condições de entrega mais flexíveis e satisfatórias, além de uma variedade ainda maior de itens disponíveis.
Foi neste cenário que o executivo francês Hubert Joly assumiu a Best Buy em 2012. Era necessário promover uma reviravolta na empresa para superar um cenário de fortes quedas nas vendas das lojas e de desvalorização da marca como um todo. Para isso, Joly se valeu do que chamou de “mágica humana”. Ou seja, colocar as pessoas e o propósito no coração do negócio.
É essa trajetória que o executivo conta agora no livro O Coração do Negócio – Princípios de liderança para uma nova era do capitalismo (Editora Sextante, 240 páginas, R$ 50), escrito em parceria com Caroline Lambert. Foi sob a gestão de Joly que a Best Buy saiu da posição de empresa cuja falência era dada como certa para a de uma marca líder em sustentabilidade, inovação e considerada uma das melhores para se trabalhar nos EUA. “Durante meu tempo na Best Buy, consegui pôr em
prática aprendizados anteriores e também adquiri um gigantesco novo aprendizado – sobre trabalho, sobre a natureza e o papel das empresas e sobre o que é capaz de acender entre os funcionários aquele tipo de chama que resulta em desempenho excepcional”, escreve o executivo no livro.
Em sua obra, Joly destaca ter compreendido que boa parte do que lhe fora ensinado até então não seria suficiente para salvar a Best Buy naquele momento. Para isso, foi preciso romper alguns dogmas que até hoje são amplamente respeitados compartilhados no mundo dos negócios.
“Aprendi que muito do que me haviam ensinado sobre negócios quando estudante, quando consultor e quando jovem executivo estava errado, ultrapassado ou incompleto. Aprendi que o propósito de uma empresa não é ganhar dinheiro, ao contrário do que Milton Friedman quis que acreditássemos. Aprendi que o antigo modelo de gestão vertical – em que uns poucos executivos formulam uma estratégia e seu plano de implementação para então dizer a todas as outras pessoas da empresa o que fazer enquanto elaboram incentivos para motivá-las – raramente funciona. E aprendi que o modelo do líder super-herói brilhante e poderoso está ultrapassado”, complementa. A partir de seu trabalho de recuperação da Best Buy, Joly
afirma ter compreendido que o verdadeiro coração do negócio é formado por “propósito” e “conexão humana”, e que são estes valores que devem estar no coração da “urgente refundação dos negócios”. Em seu livro, Joly faz uma crítica ao modelo de capitalismo tradicional. No entanto, trata-se mais de um ensaio crítico do que de uma obra que valoriza algum tipo de utopia econômica. O autor “apenas” reconhece o que o mundo já sente há tempos: o capitalismo como o conhecemos nas
últimas décadas está em crise.
“Cada vez mais o sistema vem sendo apontado como responsável por fraturas sociais e degradação ambiental. Funcionários, clientes e até mesmo acionistas esperam das corporações muito mais do que uma busca cega por lucros. A desmotivação no trabalho é uma epidemia global. Recentemente, um novo movimento por direitos civis e a pandemia de Covid-19
aceleraram a necessidade de repensarmos nosso sistema se quisermos vencer os enormes desafios que temos diante de nós”, avalia o executivo. Apesar do formato da narrativa, não se trata de um livro biográfico. De acordo com o autor, também não é simplesmente um relato detalhado da reestruturação e transformação da Best Buy – embora contenha várias histórias deste cenário. Para Joly, sua obra é a articulação de princípios-chave de liderança para a próxima era do capitalismo e de como colocá-los em prática tanto em tempos prósperos quanto nos mais difíceis.
“Tais princípios são destilados de minha jornada, minha experiência profissional (não apenas na Best Buy) e leituras. […] Esses princípios-chave de liderança e sua aplicação se desdobram ao longo das quatro partes do livro. Para mudar nossa visão de negócios, precisamos começar mudando a visão que temos da natureza do trabalho”, escreve o autor, que detalha, na introdução de seu livro, o público que espera atingir com sua obra. “Se a excessiva busca por lucro como principal objetivo das empresas o deixou desencantado ou desestimulado, este livro é para você. Se está buscando uma perspectiva
alternativa que ajude a fazer dos negócios uma autêntica forma para o bem, este livro é para você. Se busca liderar – em qualquer nível – com propósito e humanidade para gerar um desempenho extraordinário que beneficie todas as partes interessadas, este livro é para você. E, se quer compreender melhor como propósito e conexão humana levam a um sucesso a longo prazo que desafia expectativas racionais, este livro é para você”, completa.
Vale a leitura!
Escrito por: Redação