Dados de entidades diversas refletem incertezas econômicas no Brasil em 2022
Números e índices divulgados recentemente por instituições distintas ajudam a entender a oscilação de humor que mercado, indústria e setor de serviços vêm demonstrando em relação à recuperação da economia brasileira ainda em 2022. Não bastasse um certo pessimismo natural diante da corrida eleitoral no último trimestre e também da ocorrência da Copa do Mundo de futebol, no último mês do ano, parte do empresariado já demonstra preocupação com o momento atual do cenário econômico.
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a confiança da indústria caiu em 22 dos 29 setores monitorados em março. O maior recuo ocorreu na indústria de transformação, no segmento de máquinas, aparelhos e materiais elétricos. Nele, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) passou de 58,7 pontos em fevereiro para 53,3 pontos em março.
O levantamento apontou ainda que, em março, os setores menos confiantes foram o de obras de infraestrutura e móveis, ambos com o Icei ficando em 52,6 pontos; produtos têxteis (53); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (53,3) e produtos de limpeza, perfumaria e higiene pessoal (HPPC), cujo Icei ficou em 53,4 pontos.
Já os setores cuja confiança se mostrou mais forte foram os de produtos diversos, com Icei em 60,7 pontos; calçados e suas partes (58,8); produtos farmoquímicos e farmacêuticos 58,8; confecção de artigos do vestuário e acessórios (58,2) e produtos de madeira (58,1 pontos).
A CNI disse ainda que apenas seis de 29 setores avaliam positivamente as condições atuais das empresas e da economia brasileira na comparação com os últimos seis meses: couro, produtos farmacêuticos, máquinas e equipamentos, outros equipamentos de transportes, produtos diversos e biocombustíveis.
Apesar disso, a Confederação destacou que o índice de todos os setores permaneceu 50 pontos acima da marca que separa a confiança da falta de confiança. Para os próximos seis meses, a Confederação informou que as expectativas permanecem otimistas para os 29 setores analisados.
Projeção do mercado
As oscilações de humor também estão presentes em projeções do mercado financeiro para a economia nacional em 2022. Segundo o último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central em março, houve projeção de aumento da inflação pela 11ª vez para este ano.
Para o mercado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar 2022 em 6,86%. A projeção anterior do mercado era de que a inflação este ano ficasse em 6,59%. Em fevereiro, a previsão era de 5,6%.
O Boletim Focus reúne a projeção de mais de 100 instituições do mercado para os principais indicadores econômicos do País e também indicou, para 2023, aumento na variação do IPCA. Com isso, a última projeção apontou para uma inflação de 3,8% ante os 3,75% projetados anteriormente. Em fevereiro, a projeção era de uma inflação de 3,51% no próximo ano. Para 2024, o mercado também aumentou a estimativa: inflação de 3,2%, ante os 3,15% do boletim anterior.
Para o PIB, ao menos, a projeção do Boletim Focus foi mantida, fechando o mês em 0,5% para 2022. Para 2023, o mercado também manteve a previsão anterior, de crescimento na economia de 1,3%. Para 2024, a projeção ficou estável, em 2%.
Outro índice cuja projeção não sofreu alteração foi a taxa básica de juros (Selic), que deverá ficar em 13% neste ano. Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic, de 10,75% para 11,75% ao ano, como forma de reduzir a atividade econômica e conter a alta nos preços.
Empreendedorismo menor
Outro dado com tendência negativa neste momento diz respeito aos novos empreendedores no Brasil. Após ter perdido 9,4 milhões de empreendedores ao longo de 2020, o País voltou a registrar queda da taxa nacional de empreendedorismo total em 2021. Segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade, o número de pessoas entre 18 e 64 anos de idade que, no ano passado, tinham seu próprio negócio formal ou fizeram algo para abri-lo não passou de 43 milhões. Um ano antes, este resultado chegava a 44 milhões. E em 2019, a 53,4 milhões de pessoas.
Apesar de “ligeira” se comparada à de 2020, a queda verificada no último ano foi suficiente para que, em 2021, a Taxa de Empreendedorismo Total (TTE) chegasse ao patamar mais baixo desde 2013. A taxa indica o percentual da população adulta ocupada como empreendedor. Em 2021, a proporção foi de 30,4%, contra 31,6% em 2020 e 38,7% em 2019, quando foi registrado o mais alto índice após 2015 (39,3%).
Apesar do resultado negativo, o Brasil ascendeu duas posições no ranking global em termos de taxa de empreendedorismo total, subindo do sétimo lugar ocupado em 2020, para o quinto lugar em 2021, ficando atrás apenas da República Dominicana (45,2%); Sudão (41,5%); Guatemala (39,8%) e Chile (35,9%). Entre 47 países listados no relatório, o Canadá ocupa o oitavo lugar das nações com maiores taxas de empreendedorismo (27,4%); os Estados Unidos a 14ª posição (24,5%) e a Noruega, o último lugar, com apenas 6,6% da população adulta empreendendo.
Empreendedores estabelecidos
Um dado considerado positivo pelo Sebrae foi o crescimento dos “empreendedores estabelecidos”, ou seja, aqueles que estão à frente de um negócio há mais de 3,5 anos. Após dois anos em queda, a taxa teve um incremento de 1,2 ponto percentual e passou de 8,7% da população adulta, em 2020, para 9,9%, em 2021.
Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, o dado revela que parte dos empreendedores que abriram uma empresa pouco antes do início da pandemia de Covid-19 conseguiu sobreviver às consequências econômicas da crise sanitária.
Já a Taxa de Empreendedorismo Inicial (TEA), formada por quem abriu um negócio há menos de 3,5 anos e também por quem realizou alguma ação para ter seu próprio empreendimento ou o tinha inaugurado até três meses antes da data da pesquisa, recuou 2,4 pontos percentuais, passando de 23,4% em 2020 para 21% em 2021.
Isto apesar dos chamados empreendedores nascentes (os do segundo grupo, que tomaram alguma iniciativa para se tornar dono de um negócio), isoladamente, terem se mantido no mesmo patamar do ano anterior – o que, segundo o Sebrae, “evidencia que ainda há muitas pessoas procurando o empreendedorismo como alternativa de ocupação”.
Maior escolaridade, renda parecida
Por outro lado, o relatório também aponta que, em 2021, diminuiu a taxa de empreendedorismo por necessidade. Enquanto em 2020, 50,4% dos entrevistados afirmaram ter investido em um negócio em busca de uma fonte de renda, no ano passado este percentual recuou para 48,9%.
Além disso, a pesquisa aponta que os novos empreendedores têm maior grau de escolaridade que aqueles que os precederam neste setor, pois ao menos 28,5% dos entrevistados concluíram o ensino superior (em 2020, eles eram 24,4%).
O aumento da escolaridade, contudo, ainda não se reflete em maior ganho de renda: 57% dos empreendedores ganharam, em 2021, menos de três salários mínimos. Em 2019, eram 52%. Na outra ponta, 10% deles afirmaram ganhar mais de nove salários mínimos. Em 2020, eram 10,3%.
Escrito por: Redação