Em entrevista à revista Mercado Automotivo, o economista Darci Piana, vice-governador do Paraná na gestão de Ratinho Júnior, falou sobre suas expectativas para a economia local e nacional em 2021. O empresário expôs sua visão tanto no âmbito da política quanto no âmbito de sua valiosa trajetória profissional no empresariado brasileiro. Confira a seguir:
Mercado Automotivo – Qual é o peso e o impacto da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para as empresas brasileiras, principalmente as que têm estrutura mais enxuta? Há preocupação sobre este assunto?
Darci Piana – A Lei Geral de Proteção de Dados será um grande problema para o empresariado brasileiro. Temos uma série de dificuldades envolvidas. As empresas não estão preparadas para essa lei da forma como ela está estabelecida. E há uma controvérsia muito grande, pois grande parte das empresas hoje tem compliance, uma unidade que se confunde com a LGPD. Há certa preocupação com relação, por exemplo, à questão da informação cadastral. O cadastro que registra que a pessoa tem determinado número de identidade, determinado CPF, salário, enfim, tudo isso faz parte de uma empresa. A partir de agora, quando essa empresa contratar alguém, como deve ser feito? E se algum funcionário repassar isso para terceiros? Qual é a responsabilidade da empresa? Como é que a empresa consegue controlar todos esses dados?
Imagine um funcionário, por exemplo, que faz um curso no Senac. Ao disputar uma vaga de emprego, ele informa à empresa, que entra em contato com o Senac para saber se ele está de fato cursando. A empresa então está infringindo a lei? Há uma preocupação muito grande e vamos ter muitos problemas daqui em diante com relação à LGPD.
MA – Qual sua expectativa quanto à reforma tributária no Brasil? O senhor é otimista em relação à aprovação de algum dos projetos em análise?
DP – Lamentavelmente não tivemos em 2020 a aprovação da reforma tributária. Esse desencontro de informações que está existindo entre o ministro Paulo Guedes e o Congresso Nacional trouxe dificuldades para a aprovação no último ano. Já se comenta nos bastidores que isso será assunto para o terceiro ou quarto mês de 2021. Então vamos esperar que essa reforma seja efetivamente aprovada nesse período.
Nenhuma das propostas de reformas que podem ser votadas trazem grandes novidades. No entanto, se essa reforma pelo menos simplificar os processos, juntar vários impostos em um único, se ajudar o empresário, de modo geral, a simplificar sua atuação e ter a segurança de que está agindo corretamente no pagamento dos seus encargos, já seria um grande passo. O que acontece hoje é que, com todas as leis complementares e as novas que surgem todos os dias, o empresário gasta um grande tempo e ainda não tem a certeza de que está fazendo isso corretamente, e isso pode gerar um passivo extraordinariamente grande.
MA – Qual é o peso atualmente dos impostos para as empresas brasileiras? O senhor considera que o caminho está na desoneração ou somente a reforma tributária pode alterar este cenário?
DP – A desoneração é uma simplificação de um processo e não a solução do processo. A solução é a reforma tributária. Ela deveria ser ampla e resolver os problemas de todos os segmentos em todas as áreas do País, para que a gente pudesse ter a tranquilidade de estar com uma legislação condizente com a economia atual deste país.
MA – Quais são as perspectivas do Estado do Paraná para 2021?
DP – Posso afirmar que nossa expectativa, apesar da pandemia de Covid-19, é que teremos uma performance muito boa em 2021. Temos um plano de retomada que conseguiu conversar com todas as Secretarias, todas as autarquias, com as empresas associadas ao Estado. Conseguimos fazer os empréstimos necessários e os recursos de que o Estado dispõe estão sendo colocados nas obras de infraestrutura, principalmente naquelas que irão utilizar mão de obra e gerar empregos. Nós teremos quase R$ 10 bilhões em investimentos com recursos do próprio governo, mais R$ 23 bilhões que conseguimos com a iniciativa privada no primeiro ano de mandato e mais os novos investimentos que o Estado está recebendo a partir de empresas de outros estados, de outros países, e do próprio Paraná, graças à força econômica do Estado e a sua questão produtiva.
MA – A América Latina tem enfrentado diversas mudanças atualmente, especialmente quanto às políticas econômicas de cada país. Ainda assim, a região é um importante parceiro comercial do Brasil, principalmente para o setor automotivo. O senhor entende que essa importância será mantida pelos próximos anos?
DP – Nosso grande parceiro na América Latina é a Argentina, que vem passando por grandes dificuldades novamente. O país já está com dificuldades para adquirir produtos brasileiros do mesmo porte que adquiria anteriormente. Então vemos uma possibilidade de diminuição de negócios com os argentinos. Ainda que Paraguai e Uruguai consigam crescer no nosso Mercosul, não terão capacidade de suprir as demandas que a Argentina tinha. Vejo como uma grande dificuldade até porque a maioria dos países da América Latina está passando por dificuldades econômicas, financeiras, e também com a pandemia que ainda assola a todos. A tendência é uma diminuição nesses negócios, que pode ser compensada com aquilo que está sendo vendido para a China, para os asiáticos e para os países do Leste Europeu, principalmente pelos resultados do agronegócio e da exportação de carnes.
MA – Qual sua avaliação hoje sobre o acesso ao crédito para pequenas e médias empresas do setor automotivo no Brasil? Principalmente do setor de varejo.
DP – O governo federal se disponibilizou nessa pandemia a liberar alguns recursos através do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa, e acrescento que o próprio Governo do Estado fez sua parte, colocando recursos em fundos garantidores e ampliando o volume disponível para as micro e pequenas empresas do Paraná. No entanto, é necessário muito mais. Também os pequenos e micro empresários precisam fazer sua parte. Precisam fazer seu balanço de forma analítica para que a instituição financeira consiga fazer uma avaliação corretamente e promover um empréstimo que tenham capacidade de receber.
Porque a maioria das empresas tem condições de receber o empréstimo, só não consegue porque seus balanços, muitas vezes, não são analíticos. Por ser um pequeno empresário, ele não tem muita noção disso. Quer pagar pouco para o contador fazer o balanço ou fazer uma contabilidade reduzida e essa contabilidade não traz as informações necessárias para que a instituição financeira consiga fazer o empréstimo. Estamos trabalhando aqui no Paraná com todo o Sistema S, integrado ao Sebrae, e o próprio governo tem colocado condições para orientar nossos micro, pequenos e médios empresários, melhorando sua condição de contabilidade e garantindo que consigam os empréstimos necessários.
MA – Gostaria que falasse sobre seu ingresso efetivo na política. Como ocorreu a decisão de concorrer ao Governo do Estado do Paraná? Qual sua avaliação nestes primeiros dois anos?
DP – Sempre fui um defensor, nos meus discursos, que o empresário deveria participar da política para que pudesse ter conhecimento mais amplo de como funciona um governo, inclusive para melhorar a relação entre as partes. Partindo dessa premissa, fui questionado para fazer parte desse processo, relutei durante 10 meses para aceitar, mas uma das condições que observei era a qualidade do nosso governador. Minha preocupação principal era que ele tivesse condições, qualidades e principalmente conhecimento para ser um bom governador. Tudo isso ele tem, até de sobra. Sua capacidade, seu raciocínio, seu conhecimento vêm também do sistema empresarial. Ganhamos o governo no primeiro turno e a experiência que está acontecendo hoje é fundamental, é muito boa.
A minha chegada permitiu que o governo se aproximasse do empresariado do Paraná de modo geral. Criamos um Conselho de Desenvolvimento de Infraestrutura com 35 participantes, sendo sete de governo, sete de grandes instituições empresariais do setor produtivo, um integrante de cada uma das seis regiões geoeconômicas do Estado e mais 15 empresários de diversos setores, como Medicamentos, Hotelaria, Automotivo, Transportes, entre outros. Esse grupo se reúne uma vez por mês para conversar com o governador e com toda a estrutura de governo para orientar, trocar ideias, discutir o que é necessário, as prioridades e ajudar na busca de investimentos e na tomada das decisões. Isso tem funcionado muito bem, tem aproximado o empresariado do governo, e está ligado à minha chegada.
MA – De que forma a pandemia de Covid-19 afetou os paranaenses? Qual sua avaliação sobre o momento do Estado nesta pandemia? Gostaria que falasse de sua atuação no Comitê de Retomada Econômica Pós-Covid-19.
DP – Nos afetou como a qualquer outro estado brasileiro. Tivemos problemas, talvez um pouco menores do que a maioria dos outros estados, mas tivemos a felicidade de ter um Secretário da Saúde médico, um profundo conhecedor do assunto. Preparamos quatro novos hospitais, fizemos acordos com a maioria dos hospitais existentes, compramos equipamentos com preços condizentes com o mercado e resolvemos praticamente o atendimento em todas as regiões do Paraná. Temos um volume muito menor do que os outros estados brasileiros em relação às infecções e mortes geradas pela Covid. Isso permitiu que a gente mantivesse nossa economia, que é de grande parte oriunda da agricultura, em funcionamento. Não tivemos nenhum problema com a questão da produção de alimentos e isso permitiu que grande parte das empresas, cooperativas, produção agrícola e frigoríficos continuassem produzindo, ou seja, mantivemos a economia em boas condições.
MA – Gostaria que falasse sobre o Programa Feito Aqui. Qual sua importância e o que esperam com o programa?
DP – O governador tem uma consciência muito grande de que nossas empresas não podem parar e têm que continuar produzindo. Se os paranaenses comprarem produtos feitos no Paraná, conseguiremos manter os empregos e que essas empresas sigam atuando. Com isso, estamos divulgando produtos feitos no Paraná, mantendo empregos, mantendo o funcionamento das indústrias e isso ajuda a todos. A indústria vai seguir pagando impostos, pagando salários, produzindo; nós compraremos e o comércio receberá seus recursos. Todo mundo ganha e dá um incentivo a todos aqueles que têm produtos fabricados aqui, aumentando sua capacidade produtiva e tornando esse programa um sucesso absoluto.
MA – Que mensagem o senhor deixaria aos paranaenses para este novo ano?
DP – Nós aqui do Paraná, apesar de todas as dificuldades que passamos com a pandemia de Covid-19, dificuldades inerentes desse processo que assola o mundo inteiro, conseguimos manter o equilíbrio financeiro. Estamos cumprindo com todos os nossos compromissos, não temos atraso com nenhum dos fornecedores, estamos cumprindo com a nossa folha, pagando nossos encargos e os investimentos que estavam programados estão andando. Temos um plano bem feito para essa retomada da economia e o Estado está fazendo um esforço muito grande em relação aos recursos, para que as empresas tenham seus empréstimos necessários e garantam a continuidade dos investimentos. E temos tido a recíproca dos empresários, que têm investido muito em sua capacidade de produção e também em sua ampliação. Com isso, podemos dizer que estamos no bom caminho e com certeza teremos em 2021 um sucesso absoluto no Estado do Paraná.
Escrito por: Thassio Borges