O setor automotivo ligado à fabricação de peças, rodas, componentes e estruturas de carros, caminhões e ônibus foi bastante impactado pela pandemia do coronavírus. Com mais pessoas trabalhando em casa para manter o distanciamento social, a demanda por automóveis diminuiu e as empresas do segmento viram as margens ficarem ainda mais estreitas.
Um levantamento exclusivo feito pela plataforma Economatica, a pedido do E-Investidor, mostra que os papéis estão em queda média de 19,72% em 2020. O destaque negativo fica com as ações da Plascar Part (PLAS3), com retração de 42,28% no ano. As ações da empresa iniciaram o ano negociadas a R$ 7,45 e até o fechamento desta quarta-feira (30) valiam R$ 4,30.
Na ponta positiva, aparece a Wetzel S/A (MWET4), fabricante de componentes automotivos. As ações começaram janeiro negociadas a R$ 6,20, preço 15,96% maior do que o patamar atual, de R$ 7,19. Para Pedro Serra, gerente do Research da Ativa Investimentos, o setor automotivo brasileiro já sofria reflexos negativos com a crise econômica na Argentina, um dos mercados de exportação mais importantes para o segmento.
“A indústria doméstica ficou machucada com essa questão e logo depois veio a pandemia, que pesou ainda mais”, diz. “O segmento de carros novos já demonstra recuperação, mas está muito aquém dos níveis pré-pandemia.”
Essa também é a visão de Elcio Ito, Global CFO da Iochpe-Maxion (MYPK3), líder mundial em produção de rodas e componentes automotivos. Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, o executivo revelou que o setor deve terminar o ano com uma queda em torno de 30% em relação a 2019. “O País tem mostrado uma recuperação maior nos últimos dois meses, mas ainda muito abaixo dos volumes que a gente viu no ano passado”, diz.
A própria Iochpe apresentou queda de 56% na receita durante o segundo trimestre de 2020, saindo de R$ 2,6 bilhões no mesmo período de 2019, para os atuais R$ 1,17 bilhão. Os papéis da multinacional também sentiram o impacto da pandemia: a queda anual é de 38.78% .
Crise abriu oportunidades
O setor de automóveis no Brasil é considerado estável e consistente. Isso significa que, em condições normais, o investidor não deveria esperar grandes solavancos no mercado ou saltos expressivos nas ações das empresas no curto prazo.
“O segmento automotivo era melhor antes ainda do governo Dilma Rousseff, quando tivemos uma crise com inflação e juros altos, que são ruins porque tornam os financiamentos mais caros”, diz Serra. “Então já vem de uma situação não muito brilhante, mas é um setor maduro no País, que tem espaço para crescer.”
Entretanto, a crise do coronavírus pressionou com força os preços para baixo, o que pode ter aberto uma janela de oportunidades. Pensando na recuperação global do setor automotivo, o Bradesco BBI, por exemplo, elevou na última semana as recomendações para os papéis da Iochpe-Maxion de neutro para compra, com preço-alvo de R$ 18 ao final de 2021. A estimativa representa uma valorização de 31,38%, se considerado o preço de R$ 13,70, negociado nesta quarta-feira (30)
“Nenhuma razão é aparente para a desconexão entre o preço das ações da Iochpe e a recuperação da produção global de veículos. A Iochpe é a maior fornecedora global de rodas para a indústria automotiva e, em 2019, 34%, 30% e 27% de sua receita veio da Europa, América do Norte e América do Sul, respectivamente, e os 9% restantes da Ásia e outras regiões”, diz o relatório do Bradesco.
De acordo com José Cataldo, head de research da Ágora Investimentos, a recomendação de compra vem da retomada mais rápida que o esperado para o setor e, no caso da Iochpe-Maxion, o corte de custos. “Isso vai fazer com a margem EBITDA [lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização] da empresa melhore e impulsione a alavancagem da empresa, ou seja, deve reduzir a dívida rapidamente”, afirma.
Outra empresa que está no radar dos analistas é a Randon Participações (RAPT4), em queda de 12,31% no ano, passando de R$ 13,40 no último pregão de 2019, para R$ 12,17 desta quarta (30). A companhia produz implementos para veículos ligados ao setor agrícola, principalmente caminhões, e também está entre as recomendações de compra da Ágora. Segundo Cataldo, o preço-alvo para os papéis é de R$13, um salto de 6,82%.
A Randon Participações também é a principal recomendação da Guide Investimentos para o setor automotivo. “Preferimos a empresa porque acreditamos que o cenário vai ficar mais favorável para o setor de caminhões, com as vendas puxadas pelo agronegócio”, explica Luis Salles, analista da Guide Investimentos. “Agora para o segmento de carros, o cenário de consumo ainda está incerto, apesar de estarmos em recuperação.”
Já a Ativa Investimentos tem indicação para Usiminas (USIM5) para aproveitar a recuperação do segmento auto. “Existem algumas empresas que se beneficiam do setor de automóveis, como a Iochpe e a Tupy, mas sempre acreditamos que a Usiminas iria conseguir surfar melhor nessa onda de reaquecimento”, explica Serra.
A Usiminas, apesar de não ser uma fabricante direta de peças, fornece insumos para a indústria automotiva, como aços planos laminados a frio e a quente, bobinas, placas e revestidos. A ação da companhia sobe 6,25% no ano – passando de R$ 9,43, no dia 30 de dezembro de 2019, para R$ 10,02 nesta quarta.
Veja o ranking com as ações
Notícia: e | investidor
Fonte: Estadão