Como resultado de um mercado automotivo fechado, o Brasil contou durante muito tempo com apenas quatro montadoras, modelos limitados de veículos, fornecedores locais, pouca tecnologia e baixa competitividade no setor automotivo. Em 1990, 10 carros populares representavam 60% da frota. Em 2020, este percentual caiu para 36%, e em 2025 dever cair para 33%. “A diversidade de modelos causa impacto na manutenção, peças e gestão de estoque”, advertiu Marcelo Gabriel, da LA4B, no Seminário de Reposição Automotiva 2020, no dia 18 de novembro, lembrando que diversos modelos, como Gol, Uno, Palio e Celta tendem a desaparecerem das ruas.
Além da multiplicidade, os veículos contarão com diversos outros componentes devido aos elétricos e híbridos. “Necessitarão de sensores, conectores, compressores, entre outros itens, e de técnicos capacitados”, afirmou. Ocorrerão muitas mudanças nas oficinas mecânicas que atuam com motores. Apesar de haver tecnologia – IOT, Inteligência Artificial e Machine Learnig -, para maior conectividade dos veículos, para ele, ainda é preciso saber quando ocorrerá a mudança. Segundo Gabriel, há carência de infraestrutura, fundamental para o desenvolvimento de veículos autônomos.
Durante sua apresentação, falou sobre o fato da geração mais nova não querer a posse do carro e sim o uso, pontuando as mudanças trazidas pela jornada de servitização de montadoras tradicionais. No caso da posse, o relacionamento com o cliente é mais emocional, enquanto no caso da mobilidade como serviço é racional. A interação com o cliente é transacional na primeira situação e relacional na segunda. Já a intensidade de dados passa de baixa para alta, o ciclo de desenvolvimento e de vida, de longo para curto.
Felipe Martins, diretor do Grupo PMZ, rede de autopeças com 62 lojas, enfatizou que há necessidade de o setor de reposição se unir para oferecer melhor capacitação para vendedores e reparadores. Outra dificuldade é a concentração de informação com as montadoras, pois o fortalecimento da reposição depende do compartilhamento de informações. “É preciso disponibilizar o chassi para a reposição, criar regras de nomenclaturas de peças, repensar os catálogos para serem mais amigáveis e elaborar vídeos técnicos curtos para capacitação”, afirmou.
Antonio Fiola, presidente do Sindirepa-SP, ressaltou que o Brasil é o 6º mercado de aftermarket no mundo. Lembrou que na década de 90, o carro com injeção eletrônica foi um grande desafio, mas o setor de reparação superou. “Apesar de algumas dificuldades na hora de adquirir peças, diagnóstico por falta de dados, o reparador tem facilidade de comunicação, com internet e celular”, disse.
Ressaltou a importância do treinamento para o mecânico e da necessidade de passar confiança para o cliente. “O mecânico precisa se inteirar com o manual do proprietário e com o diagnóstico do scanner para passar tranquilidade e confiabilidade para o consumidor”, finalizou.
Mudanças no comportamento e na mobilidade trarão desafios ao mercado de reposição – A mobilidade elétrica já é uma realidade. No Brasil, 20 mil veículos elétricos ou híbridos foram comercializados em 2020 e, atualmente, já há 42 mil destes carros rodando no País. O veículo autônomo também não deverá demorar a estar nas ruas e até carros voadores já estão sendo desenvolvidos.
“A evolução tecnológica chega numa velocidade muito rápida, trazendo muitas mudanças não só com relação à mobilidade, mas também no comportamento das pessoas”, comentou Flavio Padovan, sócio-fundador da Padovan Consulting, no Seminário de Reposição Automotiva. No setor automotivo, a tecnologia trouxe grande evolução, com telemetria, conectividade, manutenção remota, mais segurança, redução no tráfego e nos acidentes. “Integrou veículo, smart city e usuários. É necessário estar antenado e aproveitar as oportunidades”, afirmou.
Disse que ocorreram diversas mudanças de comportamento das pessoas e na infraestrutura da mobilidade. “Nos últimos meses, houve êxodo de empresas e residências para áreas afastadas, mais atividades ao ar livre, maior utilização de transporte individual com a necessidade de menos aglomeração e também há preferência por veículos mais limpos do ponto de vista ambiental”, ressaltou. Entre as transformações trazidas pela tecnologia, citou o menor tempo no trânsito devido ao trabalho remoto, maior integração entre os diferentes modais de transportes, maior conectividade nos veículos, IOT, Inteligência Artificial, 5G – até 20 vezes mais veloz do que a rede 4G, além da digitalização que acelera o processo de mudanças.
Fatores relevantes para sucesso da reposição – Segundo Alberto Rufini, da ZF, há três pilares fundamentais para o sucesso do setor de reposição – o contato com os clientes, as ferramentas digitais e agregar outros produtos no portfólio já que, segundo Rufini, 30% dos veículos produzidos serão elétricos ou híbridos em 2030. Ressaltou também que o sucesso do mercado de reposição está ligado à sobrevivência das oficinas.
O coordenador do GMA – Grupo de Manutenção Automotiva, Elias Mufarej, disse que o fundamental é ter a peça certa, na hora certa e que, os desafios surgidos devido às inovações da mobilidade serão superados pelo setor como no passado. “Os veículos elétricos, híbridos, voadores, todos precisarão de manutenção, peças e, consequentemente, de mecânicos e técnicos. Não há desafio que o mercado de reposição nacional não possa aceitar mesmo com tantas inovações, mas há a necessidade do setor se voltar para a digitalização para se preparar e atender as demandas que virão”, finalizou Mufarej.
Como se preparar para o normal possível – Mesmo neste ambiente de pandemia, algumas empresas estão obtendo bons resultados, crescendo e se tornando mais fortes no mercado. E o que é preciso para estar preparado para ter sucesso em crises e sobreviver num novo normal, que trouxe instabilidade, insegurança e medo? Não se deixar paralisar pelo medo e mudar o ângulo que enxerga os problemas, buscar outros pontos de vista, aprender com as ilhas de produtividade, além de contar com ferramentas digitais e ações comportamentais, segundo Luciano Pires, palestrante, empreendedor digital e escritor, que conta com 26 anos de experiência como executivo de marketing. “É preciso ter visão para saber aonde quer chegar, habilidades, incentivos para se mover, recursos e um plano de ação”, completou o palestrante, que fechou o evento.
Pires salientou que, sem visão, há confusão, falta de habilidades gera ansiedade, falta de incentivos resulta em resistência, assim como falta de recursos ocasiona frustração, e sem plano de ação, há desordem. “Seja na normalidade ou anormalidade, é necessário examinar cada ponto deste e ter um propósito”, ressaltou. Ao final, Pires disse que os clientes sempre buscam valor, por isso é preciso avaliar o que agrega valor ao seu produto ou serviço.
Fonte: Verso Comunicação e Assessoria de Imprensa