Brasileiros estão em alerta para as consequências da pandemia de coronavírus na saúde e na economia
Logo no início do ano, o mundo concentrou-se em um único assunto: a pandemia de coronavírus. Além dos efeitos na saúde global, com registros de milhares de infectados e mortos, o vírus passou a representar uma verdadeira ameaça às economias de diversos países, inclusive do Brasil.
A força de trabalho e o mercado consumidor em diversos países foi fortemente impactado pelas políticas de isolamento das populações, necessariamente impostas para frear o avanço da doença. Com isso, a expectativa dos especialistas é que os índices oficiais relativos ao primeiro trimestre de 2020 já apresentem números sensivelmente negativos.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, ressaltou que o mercado de trabalho formal brasileiro deu sinais de recuperação no trimestre encerrado em janeiro. No entanto, as tendências analisadas deverão ser modificadas pela pandemia do corona. Os pesquisadores indicaram, entretanto, que ainda é cedo para medir o tamanho do impacto a ser sentido pela economia.
De acordo com Maria Andrea Parente, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, a economia brasileira deverá ser afetada pela desaceleração global e também pela disseminação do vírus no país.
“Neste momento, a gente não sabe precisar, porque a gente não sabe ainda a intensidade nem a duração dessa crise. A gente vinha em um cenário de expectativas muito positivas para 2020 e, neste momento, essa melhora das expectativas está um pouco suspensa”, avalia.
Para chegar à conclusão de que o mercado de trabalho brasileiro estava iniciando sua recuperação, os técnicos do Ipea consideraram, por exemplo, o índice de retenção dos trabalhadores. Cerca de 90% dos empregados formais do último trimestre de 2019 já estavam na formalidade no trimestre anterior. É o melhor resultado desde 2012.
Houve alta também no fluxo de trabalhadores que trocaram a informalidade pela formalidade, com o índice chegando a 13,7%. Para o Ipea, a formalização indica confiança, já que envolve mais custos de contratação e vínculo entre empregadores e empregados.
“A economia primeiro volta, depois volta o mercado de trabalho via colocação informal e conta própria. E o último passo é o mercado formal. E a gente estava chegando a esse último passo”, ponderou Andrea.
OS efeitos do coronavírus ainda serão dimensionados nos próximos meses e trimestres de análise, mas as autoridades tiveram de se movimentar para tentar, ao menos, reduzir o impacto em algumas frentes. O Conselho Monetário Nacional (CMN), por exemplo, aprovou em reunião extraordinária duas medidas para ajudar a economia brasileira a enfrentar as adversidades da pandemia.
Ambas as medidas permitem que os bancos facilitem a renegociação de dívidas de pessoas físicas e jurídicas e aumentem a capacidade de utilização de seu capital. A primeira delas facilita a renegociação de operações de créditos de empresas e de famílias que detêm boa capacidade financeira e mantêm operações regulares e adimplentes ativas. A medida dispensa que os bancos aumentem o provisionamento (reserva de valor) no caso de repactuação de operações de crédito realizadas nos próximos seis meses.
A segunda medida expande a capacidade de utilização de capital dos bancos para que tenham melhores condições para realizar eventuais renegociações e manter o fluxo de concessão de crédito. De acordo com a Agência Brasil, na prática, a medida amplia a folga de capital (diferença entre o capital efetivo e o capital mínimo requerido), dando mais espaço e segurança aos bancos para manterem seus planos de concessões de crédito ou mesmo ampliá-los nos próximos meses.
Ainda no âmbito do coronavírus, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que os cinco maiores bancos do país estão abertos e comprometidos em atender a pedidos de prorrogação, por 60 dias, dos vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas para os contratos vigentes em dia e limitados aos valores já utilizados.
Se os números ainda não estão consolidados, é possível traçar projeções sobre os próximos resultados da economia brasileira. Em março, pela quinta semana consecutiva, as instituições financeiras consultadas pelo Banco Central reduziram a estimativa de crescimento econômico do Brasil este ano. A projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 1,99% para 1,68%. As instituições financeiras também reduziram a projeção para a inflação em 2020. A previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 3,20% para 3,10%.
Dentre outras medidas anunciadas pelo governo no âmbito da redução de danos da pandemia está a antecipação, para abril, do pagamento de R$ 23 bilhões referentes à parcela de 50% do 13º salário dos aposentados e pensionistas. Tudo para tentar, ao menos, reduzir as consequências do vírus.
Mais do que os números mostram, entretanto, os próprios brasileiros sentem no dia a dia que as consequências da pandemia deverão perdurar ao longo de 2020, ainda que a propagação do vírus seja monitorada. A preocupação, dessa forma, ultrapassa a questão da saúde e volta seu olhar também ao impacto direto que as pessoas sofrerão no mercado de trabalho e na economia que praticam diariamente.
*Com informações da Agência Brasil
Escrito por: Redação