Pandemia de Covid-19 interrompe recuperação em diversos setores da economia
Quando a pandemia de Covid-19 passar – e ela irá passar – será a hora de contar os estragos. Por enquanto, todos estão apenas sobrevivendo. A sensação é generalizada. Seja entre os donos de pequenos negócios, seja entre aqueles que trabalham no setor privado. Nesse momento, é extremamente difícil contabilizar os prejuízos e até mesmo elaborar planos de recuperação.
Diferentemente de outras crises recentes, o aspecto emocional tem peso primordial no cenário que o Brasil e outros países enfrentam atualmente. Em primeiro lugar, pois a quarentena impõe uma série de limitações às pessoas e consequentemente impacta a saúde emocional de todos que se veem forçados a ficar em casa, enfrentando um inimigo invisível.
Além disso, causa aflição a muitas pessoas o fato de que não temos uma data para retornar as atividades que antes entendíamos como normais. Ao olhar para o restante do mundo, vemos dificuldades em todos os locais, em gradações distintas, graças também à interligação das economias.
Os números também são incertos porque a crise afetou a maior parte dos países nos meses de março a maio, justamente no intervalo entre a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro e do segundo trimestre do ano. Assim, os resultados dos primeiros três meses de 2020 ainda contemplam dois cenários: a recuperação que muitos setores já vivenciavam em janeiro e fevereiro, e o início da trajetória de queda devido à pandemia e ao isolamento em março.
E os números já chamam a atenção. O PIB do Brasil do período que compreende janeiro a março recuou 1,2% na comparação com o último trimestre de 2019. A queda interrompeu a trajetória de crescimento trimestral que teve início nos primeiros três meses de 2017. O dado faz parte do Monitor do PIB, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Quando se leva em consideração, entretanto, apenas o mês de março, a queda é mais expressiva. Na comparação com fevereiro de 2020, o recuo do PIB é de 5,3%. Frente ao mês de março de 2019, a queda é de 1,1%.
“É inegável que o ano de 2020 será marcado pela forte desaceleração econômica em decorrência da pandemia de Covid-19; passamos do lento ritmo de crescimento observado nos três últimos anos à acelerada retração, que está apenas no início”, avalia o coordenador do Monitor do PIB da FGV, Claudio Considera.
Conforme avançava a epidemia e consequentemente o período de isolamento nas maiores capitais brasileiras, o mercado financeiro revisava para baixo a estimativa de queda da economia nacional neste ano. Em maio, o mercado ultrapassou a marca de dez semanas seguidas de revisão negativa das expectativas, através do boletim Focus, publicação divulgada semanalmente pelo Banco Central com a projeção para os principais indicadores econômicos.
A previsão de queda anual foi estimada em 5,12%. Enquanto isso, a previsão de crescimento do PIB para 2021 segue em 3,20% e para 2022 e 2023 continua em 2,50%. O cenário, entretanto, é completamente incerto, pois envolve a real retomada da atividade econômica, com expectativas distintas para cada setor.
As dificuldades do cenário atual são vistas também através de outros índices. Em abril, a arrecadação das receitas federais no Brasil registrou queda de 28,95% na comparação com o mesmo mês de 2019, e ficou em R$ 101,154 bilhões. Foi o menor valor para o mês de abril desde 2006.
As receitas administradas pela Receita Federal, como impostos e contribuições federais, chegaram a R$ 93,332 bilhões, resultando em queda real (descontada a inflação) de 28,79%. A Receita declarou que o resultado do mês e do acumulado do ano foi “bastante influenciado” por medidas de enfrentamento aos efeitos da pandemia de Covid-19.
De acordo com Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, o crescimento das compensações tributárias no período (25% em abril e 46% no acumulado do ano) é resultado da necessidade de liquidez (recursos disponíveis) das empresas.
“As empresas perdem o faturamento, perdem liquidez e passam a lançar mão do seu direito creditório efetuando as compensações tributárias. Esses direitos foram adquiridos no passado, as empresas têm isso na sua contabilidade e podem utilizar no momento em que for oportuno. Com o advento das medidas de isolamento social, queda na atividade econômica e nos faturamentos, as empresas passaram a utilizar mais o recurso das compensações”, explicou.
Um índice que ainda não reflete substancialmente as dificuldades atuais, no entanto, é o de endividamento das famílias. O dado é medido pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
De acordo com a CNC, o número de famílias com dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro ficou praticamente estável em maio na comparação com abril, passando de 66,5% para 66,6%. Em maio de 2019, o índice estava em 63,4%.
“Mesmo com as incertezas impostas pela pandemia, a inadimplência não mostra trajetória explosiva, pelo menos não ainda. Com medidas de auxílio à renda, como o coronavoucher, as famílias mostram alguma resiliência na quitação de seus compromissos financeiros”, afirmou, em nota, a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira.
Importante mencionar, no entanto, que o total de famílias que se declaram muito endividadas aumentou em maio e chegou a 16%. Trata-se do maior percentual desde setembro de 2011, quando o índice ficou em 16,3%.
“Apesar da pequena queda no mês, o endividamento das famílias está em proporção elevada, sendo importante também viabilizar prazos mais longos para os pagamentos das dívidas, como forma de evitar o crescimento da inadimplência nos meses à frente”, disse o presidente da CNC, José Roberto Tadros, em nota.
*Com informações da Agência Brasil.
Escrito por: Redação