Orientações de autoridades da saúde procuram estabelecer diretrizes a diversos setores da economia para o período pós-isolamento
Após meses de isolamento obrigatório, diversos países pelo mundo passaram a suspender as limitações e anunciaram a retomada de determinadas atividades. No Brasil não será diferente, embora os prazos possam variar de lugar a lugar, a depender da gravidade da crise de saúde que acomete cada região do País.
Se não há certeza em relação ao prazo de retorno, as dúvidas quanto às práticas que devem ser adotadas na retomada são ainda mais expressivas. Para minimizar as questões e apontar as diversas possibilidades e dificuldades que aguardam as empresas no Brasil daqui em diante, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) elaborou na segunda quinzena de abril o Plano de Retomada da Atividade Econômica após a Quarentena. O extenso documento tem a intenção de apontar os caminhos possíveis após a suspensão da quarentena, inclusive com base no que outros países vêm fazendo nas últimas semanas.
De acordo com a Fiesp, o guia tem o objetivo de orientar e não de determinar o reinício das atividades. A ideia é que segmentos da sociedade estejam melhor estruturados para retomarem seus trabalhos quando houver essa permissão, sempre preservando a saúde da população.
Para o desenvolvimento do documento houve a contribuição de alguns dos cerca de 40 membros do Conselho Superior Diálogos pelo Brasil, formado por empresários de diversos setores.
“Esse trabalho foi realizado em respeito à saúde dos cidadãos e busca alternativas de retomada das atividades. São as autoridades competentes que decidem sobre o momento da reabertura. O que estamos falando é que, quando voltarmos, temos que voltar com cuidado”, afirmou, à época do lançamento, o presidente da Fiesp e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf.
Para tornar as orientações mais objetivas e claras, a Fiesp apoiou-se nos critérios apontados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os países que desejavam retomar suas atividades ao mesmo tempo em que mantinham a saúde da população como prioridade.
São seis os pilares estabelecidos pela organização para que a suspensão do isolamento tenha início:
1 – A transmissão do vírus deve estar controlada;
2 – O sistema nacional de saúde deve ter a capacidade de detectar, testar, isolar e tratar cada caso, e acompanhar a rede de contágios;
3 – O risco de um surto deve ser minimizado, em especial em ambientes como instalações de saúde e asilos;
4 – Medidas preventivas devem ser implementadas em locais de trabalho, escolas e outros locais onde a circulação de pessoas seja essencial;
5 – O risco de “importação” do vírus deve estar sob controle;
6 – A sociedade deve estar plenamente educada, engajada e empoderada para aderir às novas normas de convívio social.
Além dessas diretrizes, a OMS divulgou uma série de medidas que podem contribuir para manter o coronavírus afastado do ambiente de trabalho quando o isolamento social for suspenso.
O ambiente de trabalho deve ser higienizado e desinfetado com frequência, e isso inclui todas as superfícies, mesas, objetos, telefones e teclados. Para incentivar que os funcionários lavem as mãos regularmente, a OMS recomenda a adoção de pôsteres e avisos com a recomendação, bem como a promoção de workshops e treinamentos de segurança e prevenção.
É necessário também garantir que máscaras faciais ou lenços estejam disponíveis no ambiente de trabalho, e que sejam todos descartados corretamente em lixeiras fechadas. Deve-se ressaltar a todos os funcionários que observem sintomas como febre ou tosse e que permaneçam em casa se apresentarem um quadro como este, ainda que seja algo leve.
As recomendações da OMS e da Fiesp chamam a atenção também para hábitos e mudanças que derivam da pandemia. O isolamento forçou a adoção da comunicação via e-mail e da realização de reuniões virtualmente. Dessa forma, após a retomada das atividades, é preciso questionar, antes de reuniões ou eventos, se o encontro presencial é mesmo necessário. Ele pode ser diminuído? Todas as pessoas convidadas são realmente necessárias? São questões que naturalmente deverão ser abordadas daqui para frente e que devem, inclusive, otimizar a dinâmica de trabalho.
Com o retorno das atividades, será necessário atentar-se também às medidas de prevenção em casos de viagem. A OMS recomenda que sejam verificadas as informações mais atuais sobre o estágio da pandemia no local da viagem para que, a partir disso, sejam calculados seus riscos e benefícios. Deve-se evitar que funcionários em condições de risco façam as viagens, e, caso algum colaborador retorne de uma zona onde a pandemia ainda esteja se expandindo, é necessário monitorar seus eventuais sintomas por pelo menos 14 dias. Outras orientações referem-se a cenários de contaminação ou de iminente contaminação de algum dos funcionários:
− Isolar a pessoa infectada dos outros colegas de trabalho em uma sala;
− Identificar as pessoas infectadas sem estigmatizá-las ou causar discriminação;
− Promover o home office na organização, sempre que possível;
− Ter um plano que mantenha o negócio funcionando, mesmo que uma parte considerável dos funcionários não possa trabalhar. Dar amplo conhecimento desse plano;
− Garantir que esse plano também cuide da saúde mental dos funcionários e dos impactos sociais que a pandemia pode causar;
− Para as pequenas e médias empresas, desenvolver parcerias com provedores locais e clientes;
− As autoridades nacionais e locais podem ajudá-lo.
Quanto ao cenário brasileiro, a Fiesp recomenda que o período final da quarentena seja utilizado para terminar de organizar dados e planos, e também que a população de maior risco seja identificada e o sistema de saúde seja reforçado. Os casos de Covid-19 não desaparecerão por completo de forma imediata, mas a retomada das atividades só ocorrerá quando os sistemas de saúde público e privado estiverem prontos para lidar com o vírus sem o risco de colapsar.
Nesse sentido, o plano da Fiesp inclui o início, o mais breve possível, do distanciamento social seletivo. Grupos de risco e infectados permaneceriam em quarentena domiciliar e o uso generalizado de máscaras em ambientes públicos seria fomentado. A ideia é iniciar o processo de reabertura gradual das atividades segundo o grau de essencialidade, de maneira que todos os segmentos sejam abrangidos em 45 dias a partir do início da medida. Além disso, deve-se incentivar que os estabelecimentos funcionem com horários alternados para diminuir a concentração do fluxo de pessoas no transporte coletivo.
Mesmo num cenário como o descrito, a Fiesp sabe que as pessoas, diariamente, ao retornarem a seus domicílios, correm o risco de transmitir o vírus a familiares dos grupos de risco que seguem isolados em quarentena. Por isso, é extremamente importante que as pessoas não reduzam as medidas individuais já adotadas atualmente para conter o vírus.
Tanto a Fiesp quanto a OMS recomendam que todos tomem banho imediatamente ao chegar do trabalho. É preciso também tirar os sapatos fora de casa e higienizá- -los imediatamente. Celulares e óculos também devem ser higienizados, assim como embalagens que tenham sido trazidas de fora.
São ações rígidas, mas que evitam a disseminação do vírus e que tornam-se ainda mais relevantes quando a casa é coabitada com algum familiar ou amigo que estão nos grupos de risco. No ambiente doméstico, é preciso ampliar a frequência em que toalhas, lençóis e roupas são lavadas.
Manter os ambientes ventilados é essencial. Justamente por essa razão, não se imagina um retorno completo de empresas que trabalham em escritórios fechados, sem circulação de ar natural, a não ser através do ar-condicionado. Muitas companhias e escritórios cogitam um retorno escalonado, em esquema de rodízio, de modo que a distância física entre os colaboradores seja respeitada.
Quem lida com atendimento ao público – grande realidade de parte do setor automotivo – deve manter uma rotina de higiene com procedimentos rígidos e eficazes. O descuido com determinadas ações de higiene e limpeza neste tipo de estabelecimento pode resultar na transmissão do vírus para uma grande quantidade de pessoas.
Mesmo após a retomada, as entidades seguem com a recomendação de uso de máscaras. O uso de objetos comuns não deve ser incentivado, de modo a preservar a saúde dos próprios colaboradores.
Na distribuição, um dos pontos mais importante é garantir a higiene dos locais de saída e de chegada. Os procedimentos de higiene devem ser reforçados e seguidos à risca para garantir que os produtos estejam aptos ao contato com o consumidor final ou o revendedor. Outras ações recomendadas pela OMS e Fiesp:
- Realizar treinamento com os funcionários para revisar os novos requisitos e diretrizes no primeiro dia de retorno ao trabalho e periodicamente para reforçar;
- Implementar medidas de comunicação em pontos estratégicos no ambiente de trabalho;
- Utilizar o Termômetro Digital Infravermelho de Testa para aferir a temperatura dos colaboradores na chegada ao ambiente de trabalho;
- Manter uma distância mínima segura entre as pessoas e, onde não for possível, utilizar barreira física ou protetor mais potente;
- Alternar dias de comparecimento entre os funcionários nas equipes;
- Considerar jornadas de trabalho menores nos primeiros meses;
- Modificar o layout das salas de descanso e lanchonetes para atender às necessidades sociais de distanciamento – por exemplo, através da redução do número de mesas ou cadeiras e de barreiras físicas quando possível;
- Modificar qualquer serviço de café/cantina/sala de almoço para eliminar pontos de maior aglomeração de pessoas;
- Colocar sinal indicativo de número máximo de pessoas permitido para garantir o distanciamento social nos ambientes;
- Em um primeiro momento, fechar todas as salas de ginástica e os espaços de convivência, se houver;
- Escalonar os horários e intervalos de início e término do turno. A expansão de operações de 5 dias para um período de 7 dias é outra possibilidade;
- Para forças de trabalho maiores, se possível, estabelecer zonas para separação dos funcionários em grupos de trabalho isolados;
- Rever a lotação de elevadores em prédios comerciais de forma a garantir o distanciamento;
- Aumento das estações de lavagem e da disponibilização de álcool em gel para as mãos;
- Instalação de estações de lavagem das mãos fora do edifício, ou dispensador de álcool em gel, orientando a todos que utilizem antes de entrar no prédio
Ao setor lojista, as entidades trazem outras recomendações específicas:
- Limitação de acesso às lojas, com controle do número de entradas;
- Disponibilização de pontos com dispensadores de álcool em gel;
- Utilização de canais on-line para continuar atendendo clientes que ainda tenham movimentação restringida;
- Se possível, isolar áreas dos estabelecimentos para facilitar o controle da operação e reduzir custos;
- Disponibilizar produtos e tecnologias para a higienização e desinfecção dos sapatos na entrada dos estabelecimentos;
- Evitar atividades promocionais que possam causar aglomerações;
- Vetar o uso de sacolas reutilizáveis;
- Implantação, quando possível, de corredores de uma via só para coordenar o fluxo de clientes nas lojas;
- Evitar aglomeração nos caixas e sinalizar o distanciamento necessário;
- Não oferecer serviços e amenidades adicionais que retardem a saída do consumidor do estabelecimento, como oferecer café, poltronas para espera, áreas infantis etc.;
- Dispor de comunicados que instruam os compradores e funcionários sobre as normas de proteção que estão em vigência no estabelecimento
Medidas que certamente demandam muita atenção e esforço de todos os envolvidos na retomada das atividades na economia brasileira.
Escrito por: Redação