Brasileiros empregados estão recebendo menos, em média
Os números podem “tentar enganar”, mas a situação econômica do brasileiro segue ruim à medida que o País se aproxima da conclusão do segundo ano da pandemia de Covid-19. Dados relativos ao desemprego, por exemplo, podem sinalizar leve melhora em determinado trimestre, mas quando consideramos a base de comparação e a qualidade da evolução, voltamos a um cenário sensivelmente negativo.
Um exemplo está relacionado aos paralelos entre a taxa de desocupação e o rendimento médio dos que obtiveram alguma forma de emprego. A taxa de desocupação fechou o trimestre móvel, encerrado em agosto, em 13,2%, o que representa queda de 1,4 ponto percentual na comparação com o trimestre terminado em maio, quando o desemprego ficou em 14,6% da população. Na comparação anual, o recuo chegou a 1,3 ponto percentual em relação a agosto de 2020 (14,4%). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Mensal, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a pesquisa, a população desocupada no Brasil caiu 7,7%, ficando em 13,7 milhões de pessoas, na comparação com o trimestre terminado em maio de 2021, e ficou estável na comparação anual. Já a população ocupada cresceu 4%, alcançando 90,2 milhões de pessoas na comparação trimestral. Em relação a agosto do ano passado, o aumento foi 10,4%, ou mais 8,5 milhões de pessoas.
Ocorre, no entanto, que é preciso considerar a base de comparação dos números, ou seja, o mês de agosto de 2020. “Os percentuais de variações nas comparações anuais estão bastante significativos, obviamente que pela recuperação em si do mercado de trabalho, que temos observado nos últimos meses, mas também a base de comparação com agosto de 2020, que foi o momento em que as condições de ocupação eram as mais baixas da série. Foi um ponto bastante deprimido da série de ocupação, com 81,7 milhões de pessoas. Agora, a gente tem 90,2 milhões de pessoas ocupadas”, explica Adriana Beringuy, analista do IBGE.
Adriana ressalta também que, apesar da expansão das pessoas ocupadas, o rendimento real habitual caiu 4,3% na comparação trimestral e 10,2% na anual, ficando em R$ 2.489 em agosto. Essas quedas percentuais são as maiores da série histórica, reflexo do aumento da informalidade.
“A gente tem um processo de crescimento significativo dos contingentes, então numericamente tem uma população ocupada que de fato avança bastante, mas por outro lado tem indicadores associados ao conjunto da força de trabalho que ainda apresentam um quantitativo que é desfavorável. A gente está operando com rendimento em queda, ou seja, embora haja mais pessoas trabalhando, a remuneração desse contingente maior é, em média, menor.”
O número de trabalhadores por conta própria ficou em 25,4 milhões de pessoas, recorde da séria histórica, com altas de 4,3% no trimestre encerrado em agosto e de 18,1% na comparação anual. A taxa de informalidade foi de 41,1% da população ocupada no trimestre, o que equivale a 37,1 milhões de trabalhadores informais no País. No trimestre encerrado em maio, a taxa ficou em 40% e no mesmo trimestre de 2020 estava em 38%.
O aumento da informalidade está diretamente associado a pessoas que não conseguiram se manter no mercado formal de trabalho e tiveram de buscar algum tipo de ocupação urgentemente. São empreendedores por ocasião, na maioria das vezes sem qualquer tipo de preparo para gerir um negócio próprio, mas que precisam recorrer à informalidade para gerar uma renda mínima mensal.
Nível de ocupação
Ainda em relação ao trimestre encerrado em agosto, o IBGE aponta que o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, o chamado nível da ocupação, foi estimado em 50,9%, o que representa aumento de 2 pontos percentuais no trimestre e 4,1 pontos percentuais no ano.
A taxa de subutilização caiu 1,9 ponto percentual no trimestre, e 3,2 pontos percentuais na comparação anual, ficando em 27,4%. São 31,1 milhões de pessoas subutilizadas, o que representa queda de 5,5% na comparação trimestral e de 6,6% no ano. Por outro lado, a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas cresceu 4,7% no trimestre, e subiu 29,2% no ano.
A parte da população fora da força de trabalho está em 73,4 milhões de pessoas, queda de 3,2% no trimestre e de 7,3% na comparação anual. A população desalentada soma 5,3 milhões de pessoas ou 4,9%, queda de 6,4%, ante o trimestre anterior, e de 8,7% em relação a agosto de 2020.
Atividades
Por grupamentos de atividades, houve alta no número de empregados na comparação trimestral na indústria geral (5,3%), na construção (10%), no comércio (7,8%), no transporte, em armazenagem e correio (4,9%), alojamento e alimentação (10,2%) e serviços domésticos (9,7%). Foram observadas quedas de 2,2% na administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e em serviços sociais.
Na comparação anual, as altas foram observadas na agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (9,2%), indústria geral (9,4%), construção (24,7%), no comércio, em reparação de veículos automotores e motocicletas (11,1%), transporte, armazenagem e correio (12,9%), alojamento e alimentação (23,9%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (8,9%), outros serviços (7,8%) e serviços domésticos (21,3%). Os demais grupamentos ficaram estáveis.
Confiança empresarial
Na esteira dos índices de ocupação e informalidade, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou o Índice de Confiança Empresarial (ICE), que teve alta de 0,4 ponto de setembro para outubro deste ano e chegou a 100,3 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. O crescimento veio depois de uma queda de 2,5 pontos registrada na passagem de agosto para setembro.
O indicador consolida os índices de confiança dos empresários brasileiros dos setores da indústria, do comércio, de serviços e construção. O aumento da confiança dos empresários em outubro foi provocado por altas no Índice da Situação Atual Empresarial, que mede a percepção sobre o presente e que subiu 0,2 ponto, para 99,5 pontos, e do Índice de Expectativas, que mede a confiança em relação ao futuro e que cresceu 0,4 ponto, para 100,3 pontos.
A alta foi puxada principalmente pelo setor de serviços, cuja confiança subiu 1,8 ponto e chegou a 99,1 pontos. O índice do comércio variou apenas 0,1 ponto e passou para 94,2 pontos.
Por outro lado, dois segmentos tiveram queda na confiança. A construção recuou 0,3 ponto e chegou a 96,1 pontos. Já a indústria caiu 1,2 ponto, mas continuou tendo o maior índice entre os quatro segmentos: 105,2 pontos.
Mais do que os números demonstram em si, o empresariado espera que o avanço da vacinação no País estimule o consumo dos brasileiros neste final de ano. Setores fortemente impactados pela pandemia, como os de economia criativa, turismo e bares e restaurantes, torcem para que a flexibilização nas restrições incentive boa parte dos brasileiros a “voltar às ruas”, principalmente depois de mais de um ano e meio de isolamento social.
Escrito por: Redação