Para especialista, diversos fatores impedem o desenvolvimento da tecnologia no País.
Com certa frequência nos últimos anos, o carro autônomo foi palco de discussões diversas no setor automotivo brasileiro. No entanto, para o engenheiro Rogério Borili, vice-presidente de Tecnologia da Becomex, essa inovação não depende
apenas da boa vontade da indústria automobilística e da integração das novas tecnologias.
De acordo com ele, são tantas as variáveis e necessidades para que esta revolução ocorra no Brasil que ela soa “praticamente utópica nos dias de hoje”. “Existem seis níveis de automação padronizados pela indústria automobilística e eles vão da classificação 0 a 5, sendo que a 0 não possui nenhum tipo de automação – a maioria dos comercializados no mercado. As classificações 1 e 2 já possuem alguns sistemas auxiliadores, como aceleração, freio, motores e direção, como os tradicionais controladores de velocidade já muito utilizados atualmente. A partir da 3, os veículos passam, de fato, a ter um tipo de autonomia, podendo se movimentar por conta própria, mas ainda necessitando de intervenção humana, até chegar na classificação 5, no qual o carro é 100% autônomo”, explica o engenheiro, cuja empresa fornece consultoria e tecnologia especializada nas áreas tributária, fiscal e aduaneira.
Por conta do grande volume de dados necessários para o funcionamento de um carro autônomo, Borili chama a atenção para o uso da tecnologia 5G, que permitirá um avanço significativo.
Até este ponto ainda estamos falando da tecnologia que envolve a criação do carro autônomo, mas existem outras que são tão ou mais importantes para que ele funcione da maneira adequada. Uma delas é a capacidade de comunicação considerando grandes volumes de dados.
“Mais dados disponíveis para o processamento local, já que o feito em nuvem não é adequado devido à necessidade de decisões e respostas imediatas (definir se o obstáculo à frente é apenas fumaça ou um carro parado, por exemplo) e, consequentemente, mais velocidade na troca de informações e baixa latência”, explica. No entanto, é também nesse ponto que residem as principais dificuldades do desenvolvimento do veículo autônomo.
“Embora a Anatel já tenha definido as primeiras frequências para a instalação do 5G e diversas operadoras já iniciaram a fase de testes, a tecnologia só deve estar disponível comercialmente no País daqui alguns anos. Além disso, ainda não sabemos o nível de velocidade e de capacidade de transmissão de dados que será disponibilizado por aqui. É ver para crer”, completa.
Borili também destaca a (falta de) infraestrutura das vias. “Desde faixas da pista mal pintadas ou sem sinalização, passando pela disponibilidade de infraestrutura para os elétricos até a conexão de informações do tráfego com o veículo. Some isso à convivência de carros autônomos e veículos normalmente conduzidos […] e o caos será instaurado. Embora empresas diversas estejam empenhadas em desenvolver ferramentas para atender a todos esses mercados que envolvem a implementação do carro autônomo, este requer um ambiente formado por cidades inteligentes em um nível que ainda estamos bem longe de conquistar”, aponta.
Por fim, o especialista também ressalta as questões jurídicas como dificuldade de implantação do modelo no País. “Com a nova Lei de Proteção de Dados, quem será o proprietário das imagens coletadas pelas câmeras instaladas nas vias e no próprio veículo? Como decidir o grau de culpabilidade em casos de acidentes? São algumas das muitas questões que ainda não temos respostas, mas que precisarão ser definidas antes de termos este nível de inovação nas ruas”, conclui.
Escrito por: Redação