Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Wilson Bricio, presidente da ZF América do Sul, fala sobre os 60 anos da empresa no Brasil. Uma das mais importantes sistemistas do País, e eleita em 2018 a melhor empresa nesse segmento para se trabalhar no Brasil, a ZF registra força em sua atuação nacional. Confira a seguir:
Mercado Automotivo – A unidade brasileira da ZF foi a primeira planta da companhia fora da Alemanha. Para o Grupo, como um todo, o que representa chegar aos 60 anos de atuação no País?
Wilson Bricio – É, sem dúvida, um marco de grande importância. Nos anos 1950 a empresa tomou a decisão estratégica de se internacionalizar e o foco já era se estabelecer no Brasil, um gigante com forte potencial para o setor automotivo.
A história comprovou que foi uma decisão muito acertada. Depois desse importante passo, a ZF seguiu em franca expansão em todo o mundo. Nossa atuação aqui no Brasil, desde o início, em 1958, foi muito bem-sucedida. Chegamos praticamente no início da indústria automotiva no País, quando as montadoras estavam começando a produzir aqui seus veículos. E desde
então sempre oferecemos produtos confiáveis e de alta tecnologia. Chegar aos 60 anos demonstra o quanto nossa decisão foi acertada em todos os sentidos. A ZF é hoje uma das maiores sistemistas do mundo, uma empresa global que oferece soluções tecnológicas para a mobilidade do hoje e do amanhã.
MA – Por estar no Brasil há tantos anos, a ZF acompanhou e foi parte importante no desenvolvimento da indústria automotiva brasileira. Que avaliação a ZF faz atualmente do setor de autopeças do País?
WB – A indústria automotiva como um todo vem protagonizando um acelerado processo de renovação e inovação para oferecer, à sociedade, mobilidade eficiente com foco especificamente na segurança e no respeito ambiental. No Brasil,
a despeito dos atuais problemas de ordem econômica e social, esse processo também vem acontecendo, ainda que de maneira mais lenta. A indústria de autopeças no País, tanto as multinacionais, como a ZF, como as nacionais, estão muito
atentas e ativas neste contexto. O Brasil tem forte tradição no setor automotivo, a indústria aqui instalada é atuante, mas ainda carente de um ambiente de negócios que permita a competitividade. Mas certamente o que é preciso é o governo
olhar com mais sensibilidade para esse setor a fim de facilitar o processo de inovação tecnológica e o melhor caminho é a abertura do mercado brasileiro.
MA – Com a expertise que a ZF detém em relação ao trabalho feito no Brasil, o que pesa mais atualmente para sua atuação: os impostos (e suas complexidades regionais) ou o déficit na infraestrutura nacional?
WB – Estamos há 60 anos no Brasil e temos cátedra para afirmar que o País oferece excelentes oportunidades; e há aqui um potencial extraordinário. Exatamente por isso que as grandes marcas do setor automotivo mundial se estabeleceram no País e é certo que outras marcas aqui chegarão. Sabemos muito bem o que é necessário para que as empresas sejam mais sustentáveis no Brasil. Diversas reformas, como política, trabalhista, tributária e previdenciária, precisam ser amplamente discutidas e colocadas em prática para permitir que as empresas que atuam aqui sejam mais competitivas no âmbito mundial. E isso certamente vai gerar mais emprego, vai arrecadar mais impostos e vai tornar o ambiente econômico nacional muito mais saudável.
MA – O que a ZF espera do mercado automotivo brasileiro daqui para frente? Os veículos híbridos e a direção autônoma finalmente serão uma realidade?
WB – No curto prazo, veículos autônomos serão realidade apenas em ambientes rigorosamente controlados como dentro de empresas, ou mesmo condomínios, e também em aplicações agrícolas mais específicas. E não há nada que impeça que essas inovações cheguem ao Brasil. Inclusive na área agrícola, veículos autônomos já estão sendo utilizados aqui no País.
No caso de carros de passeio, os híbridos também têm espaço para crescer no Brasil como uma solução de transição para um futuro 100% elétrico. Contudo, isso só será viável se forem adotadas tecnologias com aceitação global; e não soluções
puramente locais – como é o caso do etanol – para as quais não temos escala nem competitividade no cenário internacional.
MA – Gostaria que falasse sobre a importância dos investimentos em inovação no setor. É um dos diferenciais da ZF?
WB – Toda inovação no setor assegura duas grandes vantagens: mais segurança para as pessoas e maior eficiência operacional. As pessoas precisam de mobilidade e nossa responsabilidade é suprir essa necessidade com tecnologias de qualidade, segurança, respeito ambiental e eficiência. Para tanto, temos que seguir investindo maciçamente em inovação.
E quem não o fizer estará fadado ao fracasso. A ZF vem crescendo extraordinariamente, exatamente por ter se transformado em uma empresa de inovações tecnológicas e sistemas inteligentes. No ano passado, a empresa encerrou o ano fiscal com um recorde de vendas global de € 36,4 bilhões registrando crescimento de 6% em comparação com o ano anterior. No mesmo ano, a ZF investiu € 2,2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, um aumento de quase 15% quando comparado com
2016. Para este ano de 2018 cerca de dois bilhões de euros serão destinados ao trabalho de desenvolvimento em todo o mundo. Isso significa que a parcela do orçamento alocada a P&D aumentará de 6,1% para quase 6,5%, neste ano. Esse é o grande diferencial da ZF. Somos uma empresa de tecnologia de ponta e não medimos esforços em oferecer o estado
da arte em inovações para a mobilidade do futuro.
MA – Nesse ano, a ZF foi considerada a melhor empresa sistemista para se trabalhar no País, de acordo com pesquisa da plataforma de empregos Indeed com o apoio da Revista Forbes Brasil. Qual a importância desse reconhecimento?
WB – Demonstra claramente que estamos no caminho certo. Se somos uma empresa que investe maciçamente em tecnologia a favor da vida, nada mais natural que sejamos também uma empresa que valorize os profissionais, que são os grandes responsáveis por nosso sucesso. É o que fazemos em todas as nossas unidades no Brasil. Entendemos que só podemos oferecer produtos da mais alta qualidade oferecendo a nossos colaboradores um ambiente positivo, respeitoso e seguro. Além disso, na condição de empresa que lida com alta tecnologia e inovação, também buscamos incessantemente
reciclar e capacitar nossa equipe.
Temos, por exemplo, a UniZf que implementei já em 2004 e é hoje um moderno e bem equipado centro de treinamento e capacitação profissional, que desde a sua fundação vem oferecendo mais de cem diferentes tipos de treinamentos aos
nossos colaboradores.
MA – Quais razões levaram a ZF a ser considerada a melhor sistemista para se trabalhar no Brasil?
WB – Entendemos que nossos colaboradores são os grandes responsáveis por nosso sucesso no mercado. Por essa razão,
investimos constantemente no aperfeiçoamento profissional de nossa mão de obra. Além disso, e o mais importante, é que a ZF valoriza, motiva e respeita individualmente cada profissional. Essa é uma política mundial da empresa.
Acreditamos que essa política de valorização e respeito não seja só sentida mas reconhecida por nossos colaboradores.
MA – O senhor já afirmou que, noentendimento da ZF, 100% das áreas urbanas no Brasil contarão com a circulação de veículos elétricos, enquanto as estradas receberão os híbridos. Como se chegou a essa conclusão?
WB – Esse estudo que a ZF desenvolveu é mais global e não envolve especificamente um país. E a conclusão a que chegamos é que, para aplicações urbanas, é mais indicado veículos 100% elétricos. Já para aplicações rodoviárias, envolvendo longas distâncias, o mais indicado são veículos híbridos. A razão é simples: em médio prazo, nas grandes cidades a infraestrutura
para recarregar veículos elétricos será melhor, enquanto que, nas estradas, até mesmo por se tratar de longas distâncias, não haverá essa facilidade. É importante deixar claro que não estamos dizendo que as áreas urbanas contarão com 100% de veículos elétricos. O que estamos dizendo é que, veículos 100% elétricos são mais indicados para operarem em áreas urbanas. Enquanto que nas estradas, entendemos que que serão os veículos híbridos.
MA – Qual é a importância do mercado brasileiro para a ZF em relação a volume de negócios? É possível ampliar essa participação?
WB – O mercado brasileiro sempre foi importante para a ZF. Basta lembrar que a primeira planta da ZF fora da Alemanha foi exatamente no Brasil. Além disso, o Brasil reúne uma série de características positivas que são muito atraentes para toda indústria do setor automotivo. É um país de dimensões continentais com forte vocação rodoviária, há um imenso potencial
para renovação e ampliação da frota circulante de veículos de passeio e veículos comerciais e, do ponto de vista econômico, há ainda muito espaço para crescimento. É difícil falar agora de volume depois de três anos de crise, mas é possível afirmar que todos os indicadores apontam para uma retomada do crescimento econômico de maneira gradual e sustentável para os
próximos anos. Além de tudo, o brasileiro está cada vez mais conectado e é um povo que demonstra muito interesse por novidades tecnológicas. Temos certeza que a ZF vai seguir crescendo no Brasil e o mercado brasileiro se tornará cada vez mais importante para o grupo.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem a todos os colaboradores que contribuíram para que a ZF chegasse aos 60 anos.
WB – Agradecimento é a mensagem mais adequada. Agradecemos aos pioneiros que iniciaram essa jornada com a ZF, agradecemos àqueles que deram valiosa contribuição em cada uma das seis décadas que estamos no Brasil. Agradecemos aos que estão conosco há pouco tempo e igualmente àqueles que estão há muito tempo. Reconhecemos o valor de cada contribuição e somos gratos a cada um. Como eu disse anteriormente, só conseguimos sucesso nessa nossa empreitada no
Brasil, oferecendo ao mercado produtos da mais alta qualidade, devido ao empenho, engajamento, à dedicação e ao comprometimento de cada um de nossos colaboradores.
Por isso, mais do que gratidão, valorizamos nosso pessoal oferecendo a todos meios para se aperfeiçoarem e, com isso, ascenderem profissionalmente na empresa. E, acima de tudo, respeito.
Escrito por: Redação