Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Marcus Vinicius Pereira, diretor de Aftermarket da Sabó América do Sul, fala sobre os desafios da reposição no Brasil. Pereira discorre também sobre os valores que levam a Sabó a aproximar–se dos 80 anos de história em um mercado tão competitivo.
Mercado Automotivo – Gostaria que falasse sobre o cenário atual do aftermarket no Brasil. O que mais tem impactado a receita das empresas: os desafios da logística, a carga tributária ou a flutuação da demanda nos últimos anos?
Marcus Vinicius Pereira – O cenário atual do aftermarket é positivo. Estamos com a maior frota demandante da história, ou seja, veículos que já saíram da garantia. Apesar da queda na produção de veículos zero km, a frota circulante cresce e, por consequência, a frota que demanda peças da reposição também. No meu ponto de vista, o que mais impacta o aftermarket é a capacitação dos aplicadores, tanto técnica como de gestão e atendimento. Veja, o dono do veículo ainda desconfia dos diagnósticos apresentados, sempre acha que o aplicador quer consertar o que na visão dele não é necessário. É preciso saber explicar e convencer o cliente dentro de argumentos técnicos e transparentes. Outro ponto: a capacitação técnica e equipamentos para atender as tecnologias atuais. O dono do veículo sempre vem com a pergunta básica: ‘A luz no painel vai apagar?’ Veja, esse é o menor dos problemas se o aplicador estiver atualizado e equipado. Outros fatores mencionados (logística e carga tributária) têm que ser trabalhados, mas atualmente não estão influenciando na performance do aftermarket.
MA – Desde 2015, a Sabó tem concentrado sua atuação no negócio de vedação para o mercado automotivo. O senhor considera ser essa uma tendência para o setor nos próximos anos? A especialização em determinado ramo? Ou o perfil “generalista” ainda tem espaço para sobreviver?
MVP – Nosso negócio é vedação. Atuamos nas linhas leve, pesada e agrícola. Temos índices expressivos de lembrança de marca e intenção de compras dentro desse contexto. Continuamos desenvolvendo produtos para atualizar nosso portfólio e nesse momento estamos trabalhando na reestruturação da nossa Engenharia (exclusiva para o aftermarket) para ganharmos rapidez e qualidade nos novos desenvolvimentos. Temos ainda o que chamamos de Projeto Sabó Total, por meio do qual embalamos produtos que não fabricamos, mas que o mercado reconhece quando colocamos a nossa marca. A nossa visão é atender a frota circulante. Não pensamos numa especialização em um determinado ramo ou segmento.
MA – Qual sua análise sobre a infraestrutura logística no Brasil atualmente? Ainda é necessário promover a abertura de filiais em outras regiões, ou é possível chegar a essas localidades a partir de parceiros locais?
MVP – Esse é um tema que gera muita discussão (abertura de filiais). O Brasil tem dimensão continental, temos mais de 5.000 municípios, frota demandante muito diversificada e baixo estoque em toda a cadeia desde o distribuidor até o aplicador. Atualmente, quando o veículo encosta para manutenção, é feito o diagnóstico, o aplicador faz a cotação e se o serviço é aprovado já solicita as peças. Tudo isso de forma muito rápida e praticamente on-line. Quem não estiver próximo do dia a dia dos aplicadores, principalmente nos grandes centros, vai perder negócios. Os regionais são fortes, conhecem a região, têm relacionamento e sabem atender muito bem. Os nacionais reconhecem esse trabalho e estão abrindo filiais em cidades do interior. Por outro lado, os regionais também veem as capitais como grandes oportunidades de crescimento e já se movimentam nesse sentido. Atualmente, a nossa rede de distribuidores nacionais e regionais conta quase 600 filiais. Ainda existe espaço, esse movimento não vai parar.
MA – Gostaria que falasse sobre o impacto da tributação no aftermarket brasileiro, especialmente no que diz respeito à Substituição Tributária. O senhor considera que uma mudança nesse cenário por parte do governo/legisladores deve ser tratada com urgência?
MVP – Esse é um tema extremamente importante, pois a nossa carga tributária, além de elevada, é muito complexa, destrói valor e gera altos custos para as empresas. Todas as entidades têm trabalhado fortemente visando reduzir e simplificar o que diz respeito à tributação, mas a fome dos Estados e da Federação é muito grande e o trabalho para mudanças parece insano. Temos que continuar trabalhando nesse sentido. O Brasil está iniciando um novo governo com possibilidades de mudanças.
MA – Muitas lojas do varejo automotivo têm diminuído a quantidade de produtos adquiridos de uma vez só, dividindo-os em diversas pequenas compras. O senhor considera que essa situação deve ser revertida com a recuperação da economia? Ou é um “formato” que tem ampliado sua força?
MVP – Os estoques vêm sendo ajustados desde a entrada da substituição tributária em 2008. Aliado a isso, temos a diversificação da frota com diferentes modelos, motorizações e outros sistemas como, por exemplo, freios, injeção, etc. Estoque requer espaço, sistema para controles e principalmente capital. Existe uma curva básica, mas dificilmente um varejo consegue ter tudo e em quantidade, por isso essa situação vai continuar em toda a cadeia. Ou seja, temos um grande trabalho logístico pela frente para que a peça chegue ao aplicador no momento certo. Esse movimento independe da recuperação da economia, é um trabalho constante.
MA – É possível dizer que o pior da crise econômica brasileira já passou? Ao menos em relação ao setor automotivo?
MVP – O Brasil vem se recuperando, as montadoras vêm subindo a produção gradativamente, estão se reinventando, novos concorrentes chegaram. O aftermarket não parou de crescer, as vendas nunca caíram, mesmo no auge da crise em 2014/2015. Temos muitos pontos a trabalhar como já mencionamos (questões tributárias, logísticas); em alguns casos, as margens é que vêm caindo ano após ano.
MA – O Grupo Sabó caminha rumo aos 80 anos de história. Em um país com transformações tão intensas em seu cotidiano, qual é a importância de atingir uma marca como essa?
MVP – A Sabó vive o mercado, está sempre presente em todos os segmentos e em todos os elos da cadeia. Nos relacionamos com aplicadores, varejistas e distribuidores para aprendermos e melhorar cada vez mais os nossos serviços e o nosso posicionamento nesse mercado tão competitivo. Nas últimas pesquisas atingimos níveis expressivos, o que só aumenta a nossa responsabilidade em prestar ótimos serviços ao mercado. Nesses 80 anos, a Sabó acompanhou o crescimento do Brasil, o crescimento da indústria automobilística e o crescimento do aftermarket. Isso nos levou a ser uma grande marca, porém nunca paramos de aprender.
MA – Ainda que não possamos falar de uma fórmula pronta, que valores ajudam a explicar a longevidade do Grupo Sabó no mercado brasileiro?
MVP – Somos uma organização constituída por um conjunto de comportamentos que asseguram o nosso crescimento e o nosso sucesso. Utilizamos a transparência para conquistar a confiança de nossos colaboradores, fornecedores e clientes. Temos disposição para aprender, reconhecemos os nossos limites. Isso nos leva a ser uma empresa de classe mundial com forte presença em todos os mercados em que atua.
MA – Em relação às exportações, o Grupo Sabó observa alguma região/país com maior interesse neste momento? E há alguma preocupação em relação a determinada região ou nação?
MVP – A Sabó exporta para os mercados O&M e Aftermarket. Atendemos as principais montadoras em nível mundial e quanto ao mercado de reposição, temos grande participação na América Latina e em outros continentes através de parcerias. Não temos restrições em relação a regiões ou nações.
MA – Por fim, gostaria que falasse sobre as expectativas da Sabó para o mercado brasileiro nos próximos 5 anos. O grupo é otimista com a situação do aftermarket?
MVP – Eu sempre brinco, ninguém projeta estabilizar ou recuar. Acompanhamos a evolução da economia, evolução dos O&Ms, o crescimento e a diversificação da frota, novas tendências e novas tecnologias. Nos nossos próximos 5 anos continuaremos dando foco ao aftermarket. A frota está aí, cresce ano a ano, o Brasil vai continuar crescendo. Somos otimistas e continuaremos trabalhando para melhorar esse importante segmento.
Escrito por: Redação