Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Cristian Rodrigues Neto, CEO da Wega Motors Brasil, aborda os principais desafios relativos à atuação da empresa na América do Sul, principalmente nos mercados brasileiro e argentino. Atualmente, a empresa tem três polos industriais em solo argentino, sede própria em Itajaí (SC) e centro comercial em São Paulo, atuando na produção voltada ao mercado de reparação automotiva nas linhas leve e pesada. Confira a seguir:
Mercado Automotivo – A Wega Motors é uma empresa argentina. Há diferenças significativas entre os mercados brasileiro e argentino? Algum deles dá maior prioridade a velocidade, garantia, etc.?
Cristian Rodrigues Neto – Tendo experiência de trabalho nos dois mercados, percebemos que o mercado brasileiro é mais exigente que o argentino. Diferentemente do Brasil, na Argentina não existe a figura do representante comercial, já que as fábricas trabalham com distribuidores exclusivos, que por contrato não podem trabalhar com produtos da concorrência e também a fábrica oferece uma região fechada ao distribuidor. Sendo assim, estes distribuidores são atendidos pelo responsável comercial direto das indústrias e pelos supervisores de vendas. Já na Wega, quando falamos de velocidade de atendimento/desenvolvimento de produtos, como entendemos que este é um diferencial nosso, sempre seguimos os mais rígidos critérios de qualidade e exigências das montadoras mundiais, aplicando igualmente as mesmas regras aos dois mercados. Mesmo procedimento para qualquer situação de garantia, que, quando eventualmente acontece, atendemos imediatamente o nosso cliente, buscando entender a situação para a melhor resolução da ocorrência para todos os envolvidos.
MA – Como o senhor avalia hoje o desafio de distribuir peças por todo o Brasil? Como a Wega Motors consegue manter seu nível de distribuições em um mercado tão amplo?
CRN – Com 16 anos de presença no mercado brasileiro, a Wega já criou o seu sistema de trabalho para atender todas as regiões do Brasil e de fato isto vem acontecendo faz algum tempo. Hoje temos toda a nossa estrutura interna de vendas com muito conhecimento e experiência de mercado, iniciando pelo nosso diretor Comercial, César Costa, e continuando com os nossos três supervisores de vendas, quatro técnicos palestrantes, nossa equipe de marketing, equipe de suporte e atendimento ao cliente, nossos quinze representantes, que são dos melhores no Brasil, e ainda uma ampla equipe de promotores de vendas que se comunicam diretamente com os aplicadores para divulgar os produtos.
Então, digamos que desde a parte comercial temos uma comunicação muito fluida e constante com toda a cadeia de distribuição. Já para atender aos pedidos temos um centro logístico moderno em Itajaí (SC) que está sendo ampliado neste momento (na realidade, estamos dobrando de tamanho) para continuar atendendo aos pedidos com um excelente percentual de atendimento (o nosso compromisso para com o mercado é de atender aos pedidos em 95%, mas no momento estamos atendendo em 98%) e ainda com velocidade, pois em nossa operação padrão todos os pedidos são despachados em até 24 horas após a solicitação.
MA – Qual é a expectativa da Wega para o Brasil nos próximos dois anos? É possível ser otimista?
CRN – A expectativa da Wega para o mercado dentro dos próximos dois anos, eu divido a resposta em três partes. Por um lado, preciso comentar que diante da nossa expertise em mercados complicados, como é o mercado argentino, estamos sempre nos preparando e nos reinventando para continuar crescendo, apesar de alguns momentos não ajudarem. Agora, neste momento, eu acredito que temos alguns motivos para sermos otimistas quanto ao mercado. Como primeira medida, nos próximos dois anos o nosso mercado vai crescer, a frota vai aumentar.
Como segundo ponto, entendo que, com o fim do programa Inovar Auto e a eliminação de restrições para importação de veículos, teremos uma frota mais diversificada, situação que traz mais oportunidades para todos, e um terceiro ponto que julgo muito importante, caso se concretize, é a inspeção veicular obrigatória, que vai trazer mais demanda para que os veículos tenham a manutenção correta, como deveria ser. A Wega já vem desenvolvendo um trabalho em todas as suas comunicações com o público, através de redes sociais, anúncios e até embalagens, visando a conscientização da importância da manutenção preventiva também nos filtros, focando inclusive nas questões que envolvem a saúde dos ocupantes do veículo, com os filtros de cabine, também de extrema importância para todos. Então, resumindo, claro que é possível ser otimista, e nós estamos!
MA – A Wega Motors pensa em ampliar sua atuação para outros continentes ou o foco é realmente a América do Sul?
CRN – Atualmente entendemos que ainda temos muito espaço para conquistar nos mercados nos quais trabalhamos com estrutura própria, principalmente no Brasil, onde a nossa participação de mercado é muito inferior do que na Argentina, onde no próximo ano estaremos comemorando os nossos primeiros 50 anos de empresa. De qualquer forma, apesar dos nossos maiores esforços estarem no nosso crescimento nestes dois mercados, também estamos trabalhando para crescer em outros, tanto na América do Sul quanto em outras regiões. Para isto temos uma equipe qualificada trabalhando e participando ativamente de várias Feiras Automotivas no mundo.
MA – Como se dá, atualmente, a relação da Wega com pesquisa e desenvolvimento (inovação)? A empresa investe nestes pontos? O senhor considera ser algo essencial para fortalecer a marca no mercado?
CRN – Desde o início das suas atividades no Brasil, e apesar de algumas dificuldades normais como em qualquer começo, a Wega sempre destinou importantes recursos para pesquisa e desenvolvimento. De fato, sempre procuramos achar necessidades do mercado não atendidas pelos concorrentes e isto nos ajudou muito a crescer. Considero a nossa equipe de pesquisa e desenvolvimento uma área estratégica da empresa, ao ponto que fico diretamente envolvido nesta operação. Hoje, de fato, estamos avaliando muitos projetos que poderão se transformar em realidade e que devemos oferecer ao mercado nos próximos meses. Teremos muitos lançamentos de produtos ainda neste ano, 2018.
MA – A Wega Motors dá muita importância à qualidade não apenas de seus produtos, mas também de suas entregas e de seus meios de produção. Por quê? O senhor considera que, atualmente, o consumidor está mais atento e exigente em relação a isso?
CRN – Sim, sem dúvida! Atualmente os clientes são muito mais exigentes porque têm muitas novas formas de acesso às informações, sejam elas quais forem! A Wega dá total importância à qualidade tanto dos produtos quanto dos processos. De fato, na Argentina temos a nossa fábrica certificada pelos sistemas de gestão de qualidade exigidos pelas principais montadoras mundiais, e no Brasil, apesar de não termos produção, estamos investindo para obtermos o certificado ISO 9001.
Entendo que, independentemente da certificação, termos os melhores processos e investir em tecnologia é fundamental para continuar crescendo. Hoje, além do nosso sistema ERP, também temos o nosso portal para que os representantes consigam colocar diretamente os pedidos dos nossos clientes no sistema, e quanto às informações, desenvolvemos um BI sobre medida que nos permite estudar novas oportunidades para os nossos parceiros.
Sobre a nossa entrega, como comentado anteriormente, nosso compromisso com nosso cliente é de entrega rápida e com pelo menos 95% de assertividade imediata. Para isto investimos pesado em estoque. Hoje, por exemplo, temos quatro meses de venda no nosso estoque e estamos trabalhando para dobrar o nosso CD ainda este ano, e em tecnologia para o melhor atendimento dos pedidos. O nosso departamento de TI junto com nossa gerência de logística são pilares fundamentais para que todas essas engrenagens continuem rodando sincronizadamente.
MA – A Wega utiliza redes sociais em suas estratégias de mídia? Se sim, qual a importância dessas mídias atualmente para vocês?
CRN – Sim, hoje a Wega está presente e atuante nas principais mídias sociais do setor automotivo. O motivo dessa estratégia é para ter maior alcance nos meios digitais, criando um relacionamento mais próximo com nossos clientes através de um trabalho focado em marketing de conteúdo para os seguidores. Hoje o público em nossa página no Facebook e em nosso Instagram vem crescendo consideravelmente, sempre procurando por informações de aplicações, conversões, curiosidades e lançamentos. Para a Wega não basta ter somente um perfil se o mesmo não leva conteúdo sobre o mercado, os produtos e serviços que oferecemos. Atualmente é uma mídia de fácil acesso e buscamos utilizá-la da melhor forma para estarmos mais próximos do nosso público.
MA – É possível dizer que o setor automotivo brasileiro ainda utiliza pouco as redes sociais para suas ações?
CRN – Sim, infelizmente atualmente o setor automotivo ainda é considerado um pouco distante do mundo virtual, mas sentimos que o cenário está mudando. Existe ainda, em contrapartida também, uma grande barreira de algumas empresas quererem investir nesse mundo digital, pelo receio dos resultados, que deveriam estar mais focados em relacionamento do que em vendas, sendo essa parte a consequência de um bom trabalho de aproximação e identificação da marca pelo cliente. Outros segmentos já perceberam que se não estiverem envolvidos nesse meio de comunicação podem perder mercado. O setor de Marketing da Wega realiza estratégias para o público-alvo presente nas mídias e busca como índice sempre crescer esses números de forma orgânica, espontânea e por real interesse em nossos produtos e serviços.
MA – O Brasil tem convivido nos últimos anos com uma grave crise política. Até que ponto isso interfere nos negócios de forma geral?
CRN – A crise política interfere desde o momento que isto diminui a confiança do consumidor e retrai o mercado. Mas estamos habituados a trabalhar em mercados onde acontece este tipo de divergência e o nosso desafio é de crescermos sempre, fazendo a nossa lição de casa e não nos deixando abater por coisas que infelizmente não podemos mudar. Eu sempre digo que é importante compreender o que está acontecendo, mas o foco tem que estar naquilo que nós podemos fazer de melhor para nossos clientes.
MA – Qual seria hoje o principal entrave para as empresas do setor automotivo brasileiro: a situação fiscal do País ou os gargalos na infraestrutura (que afeta a logística das empresas)? Por quê?
CRN – Digamos que as duas situações mencionadas contribuem para este gargalo. Hoje não saberia dizer qual das duas atrapalha mais, mas com certeza é um pouco de cada. A complexidade da situação fiscal no Brasil, por exemplo, aumenta o custo das empresas em relação a alguns profissionais específicos. Hoje, remetendo à primeira pergunta, na comparação Brasil e Argentina, a situação tributária no Brasil é muito mais complexa. Quanto à infraestrutura, no caso entendo que esteja semelhante ao que podemos encontrar na Argentina, e também aumenta os custos das empresas, já que, por exemplo, o custo do frete acaba sendo muito grande.
Escrito por: Redação