Ministério da Fazenda entende que entraves comerciais entre China e EUA podem beneficiar o Brasil
Nos últimos meses o mercado internacional tem se deparado com diversas disputas envolvendo as duas maiores economias do mundo. Estados Unidos e China intensificaram as provocações e ameaças recentemente no âmbito comercial, sob a justificativa de proteger suas próprias indústrias.
Para o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcello Estevão, essa disputa comercial intensa entre os dois países poderá, de alguma forma, beneficiar o Brasil. Por consequência, o Mercosul (Mercado Comum do Sul) também poderia sair fortalecido.
“É claro que uma guerra comercial entre duas economias do tamanho da americana e da chinesa não é bom para ninguém e todos têm a perder. Mas, pontualmente, o que eu tenho visto é que ela está nos ajudando. Na questão da soja, por exemplo, a decisão da China de impor tarifa sobre a exportação do produto dos Estados Unidos ajuda os produtores de soja do Brasil”, explicou o secretário, em entrevista a jornalistas, durante o seminário Mercosul e os Fluxos de Comércio, realizado na Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ainda que saliente que o clima ruim em um ambiente de relações comerciais internacionais não é positivo para ninguém, Estevão explicou que o Brasil e o Mercosul poderão indiretamente obter algum benefício neste cenário em que China e EUA estão focados um no outro.
“Você está em uma situação como a daquele cidadão que está passando na rua e leva uma bala perdida. Era o caso do aço, por exemplo, onde quase acabamos por levar uma bala perdida. É verdade que no caso do aço conseguimos uma exceção, mas e se não conseguíssemos?”, alerta.
O secretário cita como exemplo a questão das commodities. De acordo com ele, caso a China realmente faça um boicote ou aumente a tarifa para bens desse tipo (que representam parcela importante das exportações norte-americanas), o Brasil poderá se beneficiar porque também é um país exportador de commodities. O problema, segundo ele, é que o tema amanhã “pode ser outro”. Ou seja, as previsões para o mercado internacional ficam ainda mais fluídas diante de um cenário de conflitos.
Para ele, portanto, tanto o Brasil quanto o Mercosul devem aproveitar o momento “bélico” entre as duas potências para buscar novos acordos com quem está disposto a negociar. “E este é o momento adequado para fazê-lo, porque outros blocos comerciais vão querer se aproximar de quem está a favor de uma aproximação”, afirma.
Apesar disso, a própria Organização Mundial do Comércio (OMC) tem se mostrado muito preocupada com uma possível escalada de retaliações por parte das duas potências. Em março, o diretor-geral da Organização, Roberto Azevêdo, manifestou preocupação com a situação, especialmente após a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de sobretaxar o aço e o alumínio importados pelo país.
“O risco de uma escalada de retaliações comerciais é maior hoje do que era antes, mas acho que todos estão conscientes desse risco. A minha percepção é que o diálogo começa. As partes começam a se falar para evitar ações unilaterais, que não contribuem para a solução e elevam o risco de um efeito dominó”, frisou Azevêdo.
Ao relacionar as decisões de Trump com o Brasil, o diretor-geral da OMC afirmou à época que a diversidade das mercadorias exportadas amenizará o impacto da sobretaxa sobre a balança comercial brasileira (diferença entre exportações e importações). Azevêdo, entretanto, considerou preocupantes as eventuais consequências sobre o setor siderúrgico brasileiro.
“O Brasil é superavitário do ponto de vista de comércio exterior. O País tem uma pauta de exportação muito diversificada, mas não deixa de ser preocupante, sobretudo com uma perspectiva setorial. O governo está examinando a situação, está aberto para conversar, encontrar soluções e não descarta nenhuma alternativa”, concluiu.
Exportação de montadoras
Em meio a este cenário de relações comerciais que envolvem principalmente commodities, o Brasil registrou uma boa notícia ao final de março. De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a exportação de veículos brasileiros cresceu 3,3% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2017.
Para Antonio Megale, presidente da Anfavea, a consistência nas altas de exportações brasileiras nos últimos meses representou um papel importante na expansão da produção das montadoras. “Parece que isso entrou de vez nas empresas”, afirmou, em relação às vendas de veículos para outros países.
Com o arrefecimento do consumo interno pelos brasileiros, as montadoras tiveram, de fato, de buscar o mercado externo para suprir suas perdas. Para Megale, no entanto, a oferta de crédito deve melhorar nos próximos meses, com a queda na taxa básica de juros e a redução do depósito compulsório. Consequentemente, espera-se melhora na demanda interna por veículos.
“Está injetando um pouco mais de liquidez na economia. Naturalmente, isso com a taxa de juros mais baixa vai permear o setor, vai oferecer mais financiamentos. Quando você põe dinheiro no mercado, o setor cresce”, completou.
*Com informações da Agência Brasil
Escrito por: Redação