Ainda que o Brasil esteja no início da nova era, inovações já são realidade em outros mercados
Por mais eficiente que tenha sido a globalização, a dinâmica dos negócios muitas vezes impede que as empresas e lideranças olhem para tendências e inovações de outros mercados. Por vezes, o foco está voltado ao mercado nacional. Em outros casos, os olhos estão virados para os parceiros regionais, que já apresentam crises o suficiente por si só.
Assim, muitos dos processos disruptivos que ocorrem em mercados muito desenvolvidos, como China, Singapura e Coreia do Sul, ficam “escondidos”, com exceção daqueles que acontecem em unidades de gigantes globais com filiais também no Brasil. São raros os casos, entretanto.
Um bom exemplo decorre das inovações e novidades já praticadas nesses mercados em relação à Inteligência Artificial, um tema ainda incipiente em muitos setores produtivos brasileiros. Justamente pelo desconhecimento, teme-se em terras nacionais por possíveis efeitos oriundos desta onda de tecnologia, como, por exemplo, a sensível redução das vagas de empregos.
Especialistas no assunto ressaltam que, de fato, muitas funções serão naturalmente substituídas a partir da implementação de maquinário que opere com inteligência artificial. É preciso pensar, entretanto, na quantidade de empregos que podem ser gerados justamente a partir da inserção desses novos equipamentos nas indústrias e serviços.
Especializada em inovação e transformação digital, a consultoria 5ERA aponta que até 2022 deverá ocorrer um aumento de 16% a 27% de novas profi ssões. “Áreas que dependem da computação manual de dados serão, em sua maioria, extintos, enquanto posições que se concentram em programar e manter sistemas que possibilitem essas atividades surgirão de forma exponencial”, afirma a consultoria em relatório recente.
Dentre as funções consideradas emergentes pela 5ERA a partir de 2022 estão cientistas e analistas de Data; especialistas em Inteligência Artifi cial e Machine Learning; gerentes gerais e de operações; analistas e desenvolvedores de softwares e aplicações; e profissionais de vendas e marketing.
Por outro lado, espera-se que ocorra um declínio em funções como funcionário de entrada de dados; contabilidade, escrivão e recursos humanos; secretários administrativos e executivos; trabalhadores de montagem e fábrica; e serviços ao consumidor.
Não significa dizer que os consumidores perderão sua importância. Ao contrário, as empresas devem estar cada vez mais atentas para prover aos consumidores serviços efi cazes e atendimento em tempo rápido. Para tanto, o uso adequado e inteligente de dados pode ser um poderoso aliado.
Em participação no Seminário da Reposição Automotiva & Expoday 2020 Virtual, Rodrigo Carneiro, presidente da Andap (Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças), ressaltou que os consumidores brasileiros esperam que as marcas ofereçam respostas muito mais assertivas.
“É preciso focar no cliente. Qualificar a informação e a comunicação que chegam até ele por meio dos vários canais que temos à disposição atualmente. Além disso, é preciso investir em atendimento em tempo recorde. Dessa forma, conseguimos proporcionar respostas mais assertivas, bem como experiências positivas ao cliente na loja”, afirmou.
Responsável por uma das palestras do evento – realizado pela primeira vez no formato on-line em decorrência da
pandemia de Covid-19 –, o professor e pesquisador Gil Giardelli ressaltou que o mundo vivencia atualmente o fim da era digital, da quarta revolução industrial e da era da informação.
“Iniciamos o conceito da Sociedade Global do Conhecimento. Sempre há o outro lado disso, naturalmente, que é o que chamamos de Paixão pela Ignorância. São bilhões de pessoas que optaram por não saber. Nesta nova economia, vivemos também uma era de transparência máxima e de consumidores que sequer gostam de ser chamados dessa forma”, afi rmou Giardelli, que destacou também o papel do Brasil neste novo cenário.
“Temos que ser realistas. O Brasil se excluiu do desenvolvimento do carro do futuro e perdeu força de competição global. Passamos da sétima economia do mundo em 2016 para a 12ª em 2020. Temos hoje uma série de montadoras que estão repensando como será sua presença no Brasil”, avaliou o pesquisador.
Nesse contexto, o professor entende que a China deverá ser a responsável pela liderança do que é considerada a 5ª Revolução, fundada principalmente no conceito da AI Economy, ou Economia da Inteligência Artificial. Trata-se de um cenário composto por uma miríade de forças disruptivas, que incluem: inovação radical; novos centros de poder; inteligência artifi cial; indústria 4.0; fim das fronteiras; e economia preditiva e analítica. Como resultados, a AI Economy permite a redução dos custos em até 50% e traz três vezes mais velocidade.
Alguns conceitos inovadores que já existem em alguns mercados ainda são vistos de forma utópica por empresas brasileiras. Giardelli destaca, entretanto, que o setor automotivo global, por exemplo, já desenvolveu tecnologias necessárias para promover importantes inovações com foco no consumidor final.
“Os novos tipos de automóveis já são possíveis. Já existem tecnologicamente e proporcionam novas experiências aos usuários. Uma gigante asiática, por exemplo, recebe um exame de DNA do usuário, o analista analisa individualmente e desenvolve um carro na cor que a pessoa mais gosta internamente. Trata-se de um modelo de Bio Color e Manufatura Molecular”, afirmou o especialista, ressaltando que essa função, por exemplo, já é uma realidade. “O futuro já chegou, só está mal distribuído”, completou.
Em algumas cidades, como Tóquio (Japão), Dubai (Emirados Árabes Unidos) e Shenzhen (China), bairros têm sido projetados para receber carros autônomos, focados em uma economia verde e reciclagem de resíduos e gases. E novamente, apesar dos empregos cortados em decorrência das inovações, o desenvolvimento desses novos locais, nestas novas condições, proporcionam uma significativa movimentação fi nanceira nas principais metrópoles.
Ainda de acordo com a consultoria 5ERA, até 2030 a previsão é que o mundo crie uma indústria de 15,8 trilhões de dólares girando em torno de Inteligência Artificial. Somente na China, a expectativa gira em torno de 7 trilhões de dólares, o que poderia resultar em um aumento de até 26% ao PIB chinês.
A partir de todos esses conceitos, a 5ERA listou 10 habilidades que serão essenciais aos profi ssionais que desejam não apenas sobreviver, mas se destacar na AI Economy. São elas:
1. Pensamento analítico e inovativo
2. Aprendizado ativo e estratégias de aprendizado
3. Criatividade, originalidade e iniciativa
4. Design de tecnologia e programação
5. Pensamento crítico e análise
6. Solução complexa para problemas
7. Liderança e infl uência social
8. Inteligência emotiva
9. Raciocínio, soluções de problemas e ideação
10. Análise e avaliação de sistemas.
Ao questionar se as empresas brasileiras estão preparadas para a AI Economy, Giardelli ressalta que esse novo cenário econômico tende a predominar no mundo todo nos próximos 50 anos. Aponta ainda que esta nova economia requer novas políticas governamentais, educação focada em ajudar a sociedade e iniciativa privada aberta para inovação. Acima de tudo, afirma o pesquisador, a nova realidade global pede novas formas de enxergar o mundo.
“Os 13 países que já têm políticas bem estabelecidas para essa nova economia já estão vivendo o chamado Pleno Emprego. Que são aqueles conceitos de que quanto mais automação, mais robotização e mais tecnologia, faz com que as taxas de emprego sejam não estruturais, mas de transição. São pessoas que saem de emprego para procurar outro ou trocas de profi ssionais. O emprego está se deslocando e criando ocupações de maior poder aquisitivo e até de um outro formato, que não é mais um conceito de tempo cronometrado e espaço concreto. É um mundo de alta especialização, no qual precisaremos
mais de doutores, pós-doutores. Um mundo de grandes complexidades”, avaliou o professor.
“Hoje, Singapura é considerada a grande nação da inteligência artifi cial. O país, num processo muito audacioso, capacitou grande parte da sua população para essa nova era. E quando falamos dessa capacitação, são professores que vão usar novas formas de tecnologia, dentro da sala de aula, ou até de outras formas de dar aula. Podemos ir para a China, onde já temos duas mil cabines médicas que promovem atendimento à distância. Você pode estar em uma vila muito distante e ser atendido por um ótimo oncologista que está em Shangai. Então, já estamos vivendo uma nova forma de descentralização
dessa nova era. É uma nova economia no qual o impacto da robótica, da nanotech e da biotech vão contar muito. Da mesma forma que os chineses pularam a era do PC e foram direto para o celular, o Brasil terá que pular a segunda e a terceira revolução industrial e já ir para a economia da inteligência artificial”, complementa o especialista.
Escrito por: Redação