Seminário da Reposição Automotiva destaca força do setor, sempre pautado pela inovação e pelo foco no cliente
Foi realizada no dia 10 de outubro a 29ª edição do Seminário da Reposição Automotiva, organizado pelo Grupo Photon. O evento ocorreu na Fiesp, em São Paulo (SP), e contou com as principais lideranças das entidades e empresas do setor. Dentre os diversos assuntos abordados e debatidos na ocasião, destaque para a mensagem de que o aftermarket brasileiro segue pujante, enfrentando (e adaptando-se) às diversas mudanças que ocorrem em nível global a partir da atenção dada à inovação e à experiência do consumidor.
Estiveram presentes as lideranças de Andap, Asdap, Sicap, Sincopeças Brasil, Sindipeças e Sindirepa Brasil.
Demanda com frota envelhecida e matrizes energéticas no Brasil
Quem também esteve presente no evento foi o deputado estadual Tomé Abduch, que abriu o Seminário com uma palestra na qual discorreu sobre o cenário econômico do País. O congressista ressaltou que as movimentações e transações de veículos usados chegou a 13 milhões de unidades no Brasil, sendo que 30% dos veículos tem mais de 12 anos, o que deve impulsionar naturalmente o mercado de reposição. O deputado também se colocou à disposição do setor para trabalhar em pautas que sejam importantes, como a Inspeção Técnica Veicular.
Na sequência, Claudio Sahad, presidente do Sindipeças, traçou um panorama especificamente da indústria de autopeças. De acordo com ele, o Brasil possui muitas oportunidades no setor automotivo devido às matrizes energéticas, pois conta com todos os modais de energia limpa.
Para Sahad, há diversas rotas tecnológicas a serem seguidas para a descarbonização, entre elas os biocombustíveis: bioetanol, biodiesel, diesel renovável/verde (HVO) e biogás/metano, eletrificados e célula a combustível. Provavelmente até 2050 Brasil e Índia irão se destacar na fabricação de motores a combustão, enquanto os chineses focarão nos veículos elétricos.
“O Brasil tem desafios na eletrificação: escala de produção, preço dos veículos, renda das famílias, infraestrutura para recarga e qualificação de mão de obra”, ressaltou o executivo. No entanto, completa, há competitividade para uso de veículos a combustão utilizando combustíveis de menor pegada de carbono.
Sahad ressaltou, ainda, que Brasil, Índia, sudeste/sul da Ásia, Oriente Médio, África e países da América Latina seguirão usando motores a combustão por mais tempo, sendo clientes potenciais para as exportações brasileiras de veículos flex ou híbridos a etanol.
Aliança do Aftermarket Automotivo
Rodrigo Carneiro, presidente da Andap, aproveitou seu espaço para ressaltar algo que considera intolerável em um mercado que tem as dimensões do aftermarket brasileiro: não cabe mais a síndrome do “cachorro vira-lata”.
Nesse sentido, Carneiro destacou a importância da formação da Aliança do Aftermarket Automotivo, composta por Andap, Sincopeças Brasil, Sindirepa Brasil, Conarem, Asdap e Anfape, para representar um segmento que, até então, havia conquistado um espaço aquém de seu potencial e representatividade.
Atualmente, no Brasil, o mercado de reposição automotiva movimenta algo próximo de 100 bilhões de reais para a economia, sendo 70% em autopeças e 30% em mão de obra. São cerca de 1 milhão de empregos gerados e a certeza de que o setor segue se reinventando no País e acompanhando toda e qualquer novidade proveniente do mercado global.
“Fico muito emocionado em ver esse auditório tão cheio. Em determinado momento, a gente pensou o quanto nós, do setor de reposição, não nos fazíamos representar à altura da importância do nosso segmento de negócios. No ano passado, por exemplo, foi preciso uma instituição norte-americana fazer um levantamento para mostrar que o mercado de reposição independente do Brasil é o quarto maior mercado do mundo”, afirmou o presidente da Andap, destacando a importância em valorizar os números que envolvem o setor.
De acordo com ele, desde o ano passado, percebeu-se a urgência de as entidades da reposição se organizar para atuar de forma mais incisiva na defesa do setor e para estabelecer uma posição clara e eficaz pelo direito de reparar. Não se tratava de constituir uma nova entidade ou um novo sindicato, mas de mostrar ao mundo que o Brasil entende a responsabilidade de ser o quarto maior mercado global.
“Ninguém tem o número de warehouses que a distribuição tem. Ninguém tem o número de plantas [que temos]. As pessoas precisam conhecer a indústria brasileira de autopeças, uma das mais robustas, completas e complexas do mundo. Neste mercado tão complexo, onde é tão difícil gerir, tão difícil empreender e tão difícil administrar, nós continuamos aqui”, ressaltou o executivo.
“[Somos] um mercado de reposição que tem mais de 60 mil pontos de venda de varejo. Um mercado de reposição que tem mais de 90 mil aplicadores. E todos os dias há gente empreendendo, inovando, nesse segmento. E se vem tecnologia nova, nós estaremos presentes e faremos parte do desenvolvimento disso. Não iremos apenas acompanhar, pois temos competência para isso. Vocês têm competência para isso. Eu sempre fiquei orgulhoso, e às vezes não entendia, porque havia tanto interesse no mercado brasileiro em eventos no exterior. É porque eles sabem. E dão valor para aquilo que nós mesmos às vezes não damos”, completou.
Por meio da Aliança do Aftermarket Automotivo, Carneiro destacou o movimento mundial Right to Repair, uma das principais bandeiras da organização, que defende o direito de o consumidor escolher onde levar o carro para fazer manutenção, uma vez que as montadoras estão retendo o acesso às informações aos mecânicos de oficinas independentes. A Aliança formada visa trabalhar essa pauta junto ao governo, de modo a permitir que o consumidor tenha livre escolha quando precisar consertar o seu carro.
“A principal defesa do Right to Repair não é para aumentar o nosso volume de negócios. É para defender o direito do consumidor final. Ele sim tem o direito de reparar o bem que é dele onde ele entender ser melhor. E nós temos convicção que todos os reparadores, quem comercializa, os varejistas, os distribuidores de autopeças e a indústria estarão capacitados para um programa como esse. Porque nós já nos capacitamos para muito mais. Porque nós já desenvolvemos tecnologia, por exemplo, de formação, através do IQA-Instituto da Qualidade Automotiva, que tem um trabalho maravilhoso”, completou.
Vantagens competitivas da reposição brasileira
O Seminário foi conduzido pelo jornalista e âncora Adalberto Piotto, que também mediou os painéis de debate. O primeiro deles – “As vantagens competitivas da reposição brasileira e seus principais desafios” – contou com as participações de Paulo Gomes, diretor Comercial do Mercado de Reposição da Randoncorp, de Caxias do Sul; Evandro Tozati, head de Vendas, Marketing e Assistência Técnica da Mahle Metal Leve para a América do Sul; Robert Hilbert, vice-presidente da Bosch, Divisão Automotive Aftermarket para a América Latina, e Rubens Campos, senior vice-presidente do Aftermarket Automotivo da Schaeffler América do Sul.
Os executivos destacaram as ações sobre inovações de cada companhia para atender a evolução da frota circulante de veículos híbridos e elétricos. Todos abordaram as iniciativas realizadas para promover treinamentos aos mecânicos, visando aprimorar e formar novos profissionais, e também dos centros de desenvolvimento dedicados à inovação.
Dentre os desafios do setor, Hilbert destacou a questão da distribuição em um país continental, que exige um estoque estruturado em cada estado, e a falta de mão de obra qualificada. Falou ainda sobre a complexa carga tributária, que demanda da companhia cerca de 40 profissionais dedicados apenas ao tema no Brasil.
Já Tozati, da Mahle Metal Leve, ressaltou que o grande desafio para qualquer fabricante do setor é o timing correto para lançar um produto e disponibilizá-lo para o mercado de reposição, sem deixar de estar próximo ao mercado para entender suas demandas.
O executivo também reforçou a importância de promover capacitação para os reparadores e apontou que outro desafio da indústria é ter profissionais com mindset de demanda de mercado.
Para Campos, da Schaeffler América do Sul, o canal de distribuição sofreu relevantes mudanças durante e após a pandemia de Covid-19. Se antes a distribuição seguia a coluna básica (fábrica que vendia para o distribuidor, que vendia para o varejo, que vendia para o mecânico), hoje está muito diversificada.
Para ele, a grande maioria das empresas ataca em todas as frentes, o que não significa que alguém tenha perdido mercado. Há espaço para todos. “No Brasil, por ser continental e bastante complicado no quesito tributação, muitas empresas ainda serão criadas para atender o dono do veículo, seja ele elétrico ou a combustão”, disse.
Gomes, da Randoncorp, ressaltou também os desafios inerentes ao momento de transição da nova frota com diferentes tipos de motores no Brasil, que mudará um pouco a forma de atuação. “O mercado de reposição está em transição, por isso estamos investindo em inovação e tecnologia”, afirmou o executivo, ressaltando que o mercado continuará pujante devido ao tamanho da frota.
“No entanto, será preciso preparar os profissionais para atender as novas tecnologias dos motores, pois ainda não se sabe se a tecnologia avançará para os elétricos ou outros combustíveis. Os desafios são grandes e estamos num momento de aprendizado”, concluiu.
Papel do varejista e capacitação profissional
O painel dos distribuidores – “Frente às novas tecnologias, quais oportunidades e desafios para a distribuição?” – contou com a participação de Ana Paula Cassorla, diretora de Compras e Marketing da Pacaembu Autopeças; Antonio Carlos Beiram, sócio-fundador da G&B Distribuidora de Autopeças; Gerson Prado, CEO da SK Mobility, e Paulo Fabiano Navi, diretor Comercial/Vendas e Canais Digitais do Grupo Real.
Cada participante falou das ações que realizam para promover treinamentos focados no varejo e dos desafios para acompanhar a evolução tecnológica da frota circulante. Enquanto Beiram destacou a importância de apoiar projetos voltados aos profissionais do varejo, como o Loja Legal, criado pelo Sincopeças-SP em parceria com o Sebrae, Navi ressaltou que, devido à complexidade do mercado, o desafio é fazer chegar à mão do reparador a peça certa para aplicação no momento que a demanda surge.
Já Prado lembrou que as montadoras não têm a mesma capilaridade da rede de distribuição para atender a demanda no País e que as indústrias de autopeças devem apoiar o movimento Right to Repair.
Por sua vez, Ana Paula comentou que o setor deve começar a utilizar as redes sociais para se comunicar com o consumidor e mostrar as oportunidades que existem no mercado para atrair jovens, citando, inclusive, que é necessário estar presente no Tik Tok, por exemplo.
Experiência do cliente
Em sua palestra, Heber Santos, fundador da Heber Consultoria, destacou o que deve ser entendido como experiência do cliente. Ou seja, a partir do momento em que o consumidor acessa o site, as redes sociais da empresa, quando questiona algum conhecido sobre o produto ou a marca, tudo constitui a sua experiência de atendimento.
Nesse processo, explicou o especialista, é fundamental ter clareza sobre o que é a empresa, quem é a equipe e qual o tipo de experiência que se quer entregar aos clientes. “É preciso ter atenção, pois é mais fácil vermos o que queremos do que realmente somos e vemos”, comentou o palestrante.
Ao falar sobre experiência do cliente, pontuou alguns quesitos importantes: as coisas que se consegue ensinar, como processos, conhecimentos sobre ferramentas, política, previsão, entre outras, mas também coisas que a pessoa já traz consigo, como educação, ser ético, saber sorrir, entre outras atitudes.
No painel “Novo perfil do consumidor – Quais os desafios para construir uma ótima experiência com o cliente (CX)?”, a experiência do cliente foi debatida por Alexandre Pereira, CEO da Atlanta Autopeças; Felipe Martins, sócio-diretor do Grupo PMZ; Douglas Barbosa, gestor da Celsão Autopeças, e Marcos Arthuzo, diretor de Operações da DPaschoal. Foi consenso entre os participantes que o treinamento para formação e capacitação de mão de obra é fundamental e que os vendedores precisam entender as dores dos mecânicos, sendo empáticos para atendê-los da melhor forma possível. Para isso, é necessário ter conhecimento técnico do produto para oferecer a solução certa, pois uma peça errada que chega à oficina gera transtorno para o dono do carro e para todos os elos da cadeia envolvidos.
Martins, por exemplo, contou que o PMZ tem uma escola dedicada à formação de profissionais para atuar na empresa que possui 2.300 colaboradores e mais de 80 unidades. Já Pereira disse que é importante ter aproximação com o cliente, entender sua necessidade e apresentar a melhor solução.
Barbosa mencionou que geralmente o cliente, seja mecânico ou consumidor final, chega com o problema e não está muito amistoso, cabendo ao vendedor da loja procurar proporcionar a melhor experiência possível, mesmo diante de um problema. Por sua vez, Arthuzo destacou o projeto Maxxi Training, promovido pela DPaschoal, e voltado à formação de mão de obra.
Mensagem otimista
Para fechar o evento, Antonio Fiola, presidente do Sindirepa Brasil, falou sobre os desafios para a capacitação do mecânico mediante a complexidade da eletrificação e do movimento Right to Repair.
De acordo com ele, apesar dos números negativos apresentados pela Educação brasileira, o cenário ligado à aprendizagem na reparação é bem melhor. “No Brasil, há um auxílio muito grande da indústria em treinamento. A indústria é parceira do reparador na capacitação de profissionais”, comentou o executivo.
“Na esfera do automóvel, ainda existe uma paixão, dedicação. Com todos os desafios que temos em treinamento, o mecânico brasileiro tem ainda vocação, fator fundamental para continuar estimulando a se capacitar”, disse. Tivemos o carro era analógico, depois veio a injeção eletrônica, o ABS, controle de estabilidade, sensor de distância, ADAS (Sistema Avançado de Assistência ao Condutor), a conectividade, os modelos híbridos e elétricos e, mesmo assim, ressalta Fiola, “temos a frota brasileira em pleno estado de funcionamento”.
A recomendação de Fiola sobre o caminho a ser trilhado é continuar investindo em treinamento e apoiar a certificação de competências profissionais, que já está disponibilizada pelo IQA-Instituto da Qualidade Automotiva. “A certificação cria um estímulo para ele se atualizar e se aperfeiçoar. A certificadora profissional ASE, quando estava no Brasil, chegou a certificar cerca de 65 mil mecânicos, que tinham prazer em ostentar esse selo”, explicou Fiola, acrescentando: “E muitos faziam treinamento no Senai para ser aprovado na certificação, que é um estímulo para o reparador se atualizar”.
O executivo vê com otimismo o mercado da reparação, já que 80% da frota brasileira faz a manutenção nas oficinas independentes. Disse também que o parque de concessionárias, hoje, não atenderia 10% dos municípios. Além disso, a relação com o varejo de autopeças é muito boa e complementar às oficinas.
O Seminário da Reposição Automotiva chegou ao fim promovendo, novamente, grandes debates e a exposição de temas relevantes ao setor. E já se prepara para a sua próxima edição, em 2024, quando atingirá 3 décadas de realização.
Escrito por: Redação