Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), fala sobre as expectativas da entidade para o setor de autopeças ainda neste ano. Além disso, o executivo discorre sobre o programa Rota 2030 e aponta que sua principal preocupação está relacionada à qualidade e adequação de suas disposições, e não necessariamente com o tempo que levará para entrar em vigor. Confira a seguir:
Mercado Automotivo – Alguns analistas são otimistas em relação ao mercado de reposição brasileiro, pois os consumidores estariam em um momento no qual irão priorizar a manutenção de seus veículos ao invés de trocá-los por novos. O senhor, como representante do Sindipeças, partilha dessa visão?
Dan Ioschpe – Concordamos em parte com essa análise, já que a partir da metade de 2017 houve uma recuperação importante no mercado de veículos novos. Ocorre que, em decorrência da crise econômica, houve um envelhecimento da frota, o que faz com que os proprietários priorizem a manutenção, mesmo já estando em curso uma recuperação do mercado de veículos novos.
MA – Em 2018, o setor de reposição receberá uma variada gama de veículos, provenientes de um período em que uma série de montadoras de outros países (Ásia, principalmente) desembarcou no Brasil. O senhor considera que o setor está apto a atender essa nova demanda?
DI – Temos sim condições de atender a essa nova demanda, mas os investimentos na variação do mix de produtos têm de ser justificados pelos volumes.
MA – Qual sua avaliação em relação ao trabalho realizado nesses seus dois anos na presidência do Sindipeças?
DI – Embora eu esteja ocupando o cargo de presidente desde março de 2016, faço parte do conselho do Sindipeças há bastante tempo. Nossa entidade oferece, tradicionalmente, serviços de muita relevância para os associados, em áreas como fomento à exportação, mercado de reposição, capacitação de colaboradores, assessoria jurídica, negociações trabalhistas. Nestes últimos anos, enfrentamos a pior crise da história da indústria de autopeças e o setor conseguiu sair dela com resiliência e determinação.
MA – Quais serão os principais desafios que o senhor deverá enfrentar neste e no próximo ano presidindo a entidade?
DI – O principal desafio segue sendo a integração competitiva do setor de autopeças brasileiro com o mercado internacional, desafio que, creio, atinge todos os setores indústrias do País.
MA – A crise que atingiu o Brasil nos últimos anos também afetou o setor de autopeças. Nesse sentido, o senhor considera que o pior da crise já passou? É possível ser otimista com o cenário atual?
DI – Após ter enfrentado a pior crise de sua história, o setor de autopeças começa a dar sinais de retomada. Projetamos faturamento nominal de mais de R$ 82 bilhões este ano, bem mais do que prevíamos meses atrás. Os investimentos também vão crescer (ver projeções). Esses são indicadores que comprovam o que tenho dito repetidamente: é inegável a resiliência da indústria de autopeças, que, em nenhum momento, foi ou é gargalo para a produção de veículos.
MA – Qual sua expectativa em relação ao programa Rota 2030, que sucede o Inovar-Auto? Qual será sua importância para o setor de autopeças brasileiro?
DI – O Rota 2030 tem objetivos diferentes do Inovar-Auto. É um conjunto de regras que vai definir que tipo de veículo pode ser comercializado no Brasil nos próximos anos, seja ele montado aqui ou importado. Essa previsibilidade é imprescindível nas tomadas de decisão em toda a cadeia automotiva.
MA – Apesar da indefinição em relação à sua aprovação, o Sindipeças espera que o Rota 2030 seja aprovado logo após o carnaval? Quais seriam os possíveis prejuízos gerados pelo atraso na implantação do programa?
DI – A nossa principal preocupação com o Rota 2030 não é o prazo e sim a sua qualidade e adequação de suas disposições. E, em favor do Rota 2030, várias medidas importantes já foram tomadas ao longo de 2017, como as relativas à Inspeção Técnica Veicular e a regulamentação de itens de segurança veicular por parte do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Acreditamos que, além dessas, outras virão ao longo dos próximos meses, dando tempo para que seus aspectos técnicos e impactos sejam estudados com a devida cautela.
MA – Em relação à produção brasileira de autopeças, qual seria a estratégia mais adequada para os próximos anos: fortalecer o mercado interno ou ampliar a participação global? É possível atuar nas duas frentes?
DI – Atuar nas duas frentes deve ser busca constante de nossas empresas. O setor de autopeças começa a registrar os primeiros sinais de crescimento sustentável, depois da crise, principalmente com o incremento das exportações, tanto de veículos quanto de autopeças. Os anos de grande retração nos fizeram perceber que o mercado interno não deveria ser o foco principal. Com apoio do Sindipeças, através do projeto Brasil Auto Parts, parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), muitas empresas associadas puderam participar de feiras setoriais no exterior e fechar negócios.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem para todos os associados do Sindipeças ainda para 2018.
DI – Ao que tudo indica, será um ano de crescimento, o que demandará muita atenção e trabalho dos nossos associados, para que sigamos contribuindo com o desenvolvimento da cadeia automotiva no Brasil. Nesse novo cenário de recuperação, devemos acelerar ainda mais a nossa busca pela melhoria da competitividade e da integração com o mercado internacional.
Escrito por: Redação