Em entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo, Marcelo Sanches, diretor de Aftermarket Latam da Dayco, fala sobre a importância da região para a marca. Entre outros temas, o executivo aborda a nova fábrica de correias da Dayco no México, com inauguração prevista para o primeiro trimestre de 2024. Confira a íntegra a seguir:
Mercado Automotivo – Gostaria que falasse sobre a participação da Dayco no mercado de autopeças da América do Sul. Qual é a importância dessa região para a área de Aftermarket da marca?
Marcelo Sanches – O Aftermarket da Dayco considera quatro regiões distintas do ponto de vista da gestão dos nossos negócios, sendo América Latina (Latam) uma delas. A Latam é a região de maior crescimento percentual dentre as demais e vem recebendo atenção prioritária da organização, que não mede esforços para continuar apoiando de forma expressiva esse crescimento contínuo com 2 pontos percentuais a cada ano.
Estamos em fase final para conclusão de nosso planejamento estratégico para os próximos 5 anos; neste período, assim como nos 5 anos anteriores, continuaremos investindo na melhoria de nossa produtividade, com foco na atualização de nosso portfólio para que esteja perfeitamente alinhado com as necessidades do mercado e na capacitação de nossos colaboradores acreditando que bons resultados sejam consequência do sucesso destes três pilares fundamentais: excelência no processo produtivo, alinhamento com todas as demandas de nossos clientes e suporte técnico/comercial de uma equipe própria altamente capacitada. Assim, a Latam foi e continuará sendo região de grande prioridade para novos investimentos da Dayco nas duas marcas que oferecemos ao mercado (Dayco e Nytron).
MA – O Brasil tem retomado algumas parcerias e conversas com países sul–americanos. Ao mesmo tempo, no entanto, crises econômicas e até políticas estão tumultuando os ambientes de países como Argentina, Peru e Chile. A Dayco é otimista em relação aos negócios na região nestes próximos dois anos?
MS – As variações nos cenários político e econômico sempre estiveram presentes no dia a dia de nossos negócios. Ao mesmo tempo que acompanhamos de perto os impactos dessas nuances em nossos negócios, estamos sempre empenhados em oferecer a estes países uma política estável de atuação nos mercados mais sensíveis nesses aspectos.
Acreditamos que as crises sejam passageiras, mas nossa estratégia contempla oferecer transparência de nossas resoluções que visam se adequar ao momento sem, contudo, causar turbulências excessivas nos nossos clientes. Em outras palavras, buscamos absorver internamente o máximo possível variações cambiais, inflação, restrições de importação etc., sem alterar significativamente e a todo momento nossas políticas.
Isso só é possível porque temos uma sólida participação em países com maior estabilidade econômica (i.e., Brasil) que eventualmente subsidiam àqueles mais suscetíveis essas flutuações momentâneas de mercado.
MA – Gostaria que falasse sobre a nova fábrica de correias da Dayco no México. Quando ela deverá entrar em operação e que benefícios deverá gerar para os negócios da marca no Brasil e na América Latina?
MS – A nova fábrica de correias no México é um ótimo exemplo de um vultoso investimento que vem sendo feito na Latam. Sua inauguração está prevista para o primeiro trimestre de 2024 e será de enorme importância para nossa estratégia futura na medida em que esta planta se unirá à nossa principal planta de correias da Latam (Córdoba, na Argentina) no atendimento da crescente demanda do mercado para produtos Dayco.
Teremos no México um processo produtivo de última geração com profissionais já neste momento em fase de treinamento (construção civil já concluída) e cujas linhas de produção já se encontram em fase de instalação e sua capacidade produtiva virá nos ajudar muito por toda a Latam, mas, em especial ao Brasil, onde deverá resolver qualquer restrição que possamos enfrentar de capacidade nos próximos anos.
MA – A Dayco se surpreendeu com os resultados positivos de 2022? Quais pilares o senhor considera que foram fundamentais para esse cenário favorável?
MS – O ano de 2022 foi o primeiro pós-pandemia. A Dayco tinha ciência da enorme demanda reprimida existente no mercado. Por outro lado, tínhamos ciência também de nossa capacidade (considerando nossos limites…) na absorção de boa parte dessa demanda.
Conquistamos novos clientes e nos preocupamos sempre em não prejudicar aqueles clientes que já faziam parte de nossa base. Não obstante, nossos resultados finais foram acima de nosso planejamento inicial. Hoje estamos tratando de “colocar a casa em ordem” e fundamentamos nosso sucesso através da consistência entre nosso discurso e nossas práticas no mercado, na transparência de nossa comunicação e em nossa inquestionável confiança no contínuo crescimento de nosso potencial no mercado latino-americano.
Os resultados da Dayco em 2022 foram surpreendentemente positivos e sua continuidade está sendo prevista em nosso planejamento de médio e longo prazos por toda a Latam.
MA – Os resultados positivos de 2022 influenciaram de alguma forma o planejamento da Dayco no Brasil para 2023? Houve alguma mudança em curto prazo?
MS – O comportamento da demanda do ano de 2022 nos fez aprimorar nossa inteligência de mercado, buscando identificar parcelas dessa demanda puramente protetiva/especulativa bem como a parcela de demanda real do mercado por produtos Dayco e Nytron.
Investimos na criação de um departamento técnico voltado especificamente para itens da linha pesada, segmento que a Dayco vislumbra crescer bastante nos próximos anos; lançamos durante a feira da Automec, em abril, uma nova linha de produtos voltada para itens de suspensão e direção; voltamos com força total neste ano a nos aproximar de nossos clientes e dos mecânicos/reparadores de forma presencial, através de palestras e treinamentos técnicos/comerciais. Esses foram alguns dos ajustes que fizemos em curto prazo no nosso planejamento para 2023 em virtude do que aprendemos em 2022.
MA – Qual balanço o senhor faz do primeiro semestre de 2023, em termos de negócio? Os resultados foram semelhantes no Brasil e na América do Sul como um todo ou apresentaram movimentos distintos?
MS – Os primeiros 6 meses do ano nos evidenciaram que nossa estratégia está correta e alinhada às expectativas do mercado de forma geral. A reconstrução de nosso estoque de peças vem se efetivando mês a mês e hoje estamos muito próximos de voltarmos aos mesmos níveis de entrega aos nossos clientes.
A primeira metade do ano vem também projetando que, uma vez mais, teremos crescimento percentual de 2 dígitos em nossas vendas, em especial no Brasil. Na exportação também terá crescimento, embora em níveis ligeiramente menores do que observamos no mercado doméstico.
MA – Qual é a avaliação que o senhor faz da reforma tributária aprovada na Câmara dos Deputados? Ficou aquém do esperado pelo setor ou já é considerada um importante ganho neste momento?
MS – Como ainda não há definição de alíquotas e regras para o nosso setor, é prematura uma avaliação dos impactos nesse momento. No entanto, o mercado em geral vê a reforma tributária como positiva, mesmo com a inclusão de algumas exceções e tratamentos distintos, porque ela tende a reduzir a carga tributária e simplificar a apuração dos impostos, deixando o sistema menos complexo, mais transparente e mais neutro. Aguardemos sua avaliação no Senado federal, onde poderá sofrer alterações.
MA – Se a reforma tributária for, de fato, aprovada e implementada, qual seria, em sua avaliação, o próximo gargalo mais urgente para o setor do Aftermarket no Brasil?
MS – No meu entender, existem duas grandes expectativas do mercado neste tema. A primeira é a efetiva redução da complexidade tributária e da carga fiscal atual. A segunda é a eliminação das áreas com extrema redução fiscal, os estados chamados “ilhas de isenção fiscal”. Se essas modificações ocorrerem, acredito que teremos uma competitividade fiscal mais justa no mercado nacional.
MA – Gostaria que falasse sobre as expectativas de lançamentos de produtos pela Dayco no restante de 2023. Algum segmento (linha leve, linha pesada) será priorizado?
MS – O lançamento de novos produtos na Dayco é uma atividade sistemática e corriqueira, visando elevada cobertura de frotas (leve e pesado). Portanto, sim, temos diversos novos produtos em fila de lançamento ao longo do restante de 2023. Ultimamente, a linha pesada tem merecido atenção especial por parte de nossa equipe de Produtos, não somente no Brasil, mas por toda a Latam.
MA – A Dayco tem um novo controle acionário desde o ano passado. Essa mudança influenciou de alguma forma o planejamento do Aftermarket no Brasil?
MS – Sim e de forma bastante positiva. Efetuamos neste mês importantes alterações organizacionais com intuito de conferirmos maior agilidade nos processos de tomada de decisões estratégicas. Tivemos reafirmado por parte de nossos novos acionistas a importância e consequente priorização de novos investimentos voltados para a Latam. Confirmamos e agilizamos investimentos iniciados pelos acionistas anteriores, em especial o foco na nova planta de correias do México.
A Dayco passa a partir deste ano a ter um olhar muito mais estratégico para os médio e longo prazos. Não tenho dúvidas que continuaremos a crescer aprimorando sempre nossas relações com nossos clientes, focados na excelência dos serviços prestados a toda a cadeia de mercado de reposição.
Escrito por: Redação