Em entrevista à revista Mercado Automotivo, Carlos Delich, presidente da ZF América do Sul, destaca que, não apenas o setor automotivo, mas o mundo, subdimensionou a crise dos semicondutores.
“Mas, a indústria automotiva não parou, assim como a ZF também não parou de buscar saídas”, afirma o executivo da empresa global de tecnologia, que fornece sistemas para carros de passeio, veículos comerciais e tecnologia industrial. Delich ressalta, ainda, as medidas adotadas pela ZF para enfrentar essa situação e outras adversidades que surgiram nos últimos anos. Confira a seguir!
Mercado Automotivo – Um dos principais problemas enfrentados pelo setor automotivo no mundo todo tem sido a falta de semicondutores. Como a ZF avalia a situação neste momento? É possível dizer que o pior já passou?
Carlos Delich – Na nossa visão, a crise de semicondutores deve persistir por mais algum tempo. Desde o começo, a ZF já sabia de que não se tratava de algo de curto prazo. Sabemos que há uma corrida para que sejam erguidas novas fábricas de semicondutores e a ZF também tem se movimentado nesse sentido.
Recentemente anunciamos uma de nossas maiores parcerias globais, com a Wolfspeed. Como resultado, teremos a criação de um centro de inovação e a maior fábrica de semicondutores de carboneto de silício do mundo.
MA – O senhor entende que a crise dos semicondutores foi subdimensionada por parte do setor automotivo em seu início? Quais medidas a ZF adotou quando percebeu que o problema seria mais sério que o esperado inicialmente?
CD – O mundo subdimensionou a importância dos semicondutores. Os países agora se deram conta da importância estratégica de não serem dependentes da Ásia.
Está claro também que o mundo foi surpreendido por uma pandemia, que deu início à crise dos semicondutores global. Em seguida, houve um incêndio em uma das principais fábricas de semicondutores no Japão. Soma-se a isso o fato de não somente o setor automotivo se utilizar desses componentes, mas também a indústria de eletrônicos, computadores e vídeo games, além da indústria de linha branca.
Esses fatos somados agravaram a crise dos semicondutores, abalando boa parte das cadeias produtivas. Mas, a indústria automotiva não parou, assim como a ZF também não parou de buscar saídas.
Globalmente há fortes iniciativas da ZF nesse sentido. A nossa parceria estratégica com a Wolfspeed vem para priorizar a aplicação de semicondutores voltados para mobilidade e a energia sustentável.
O trabalho de construção da nova fábrica de semicondutores começará ainda este ano, após a aprovação do financiamento. A ZF está prevendo uma fase de construção de 3 a 4 anos, para que a produção possa começar em 2027.
MA – Que avaliação a ZF faz do mercado de veículos elétricos no Brasil? Quando comparamos com mercados dos Estados Unidos e da Europa ainda estamos muito atrasados?
CD – O mercado de elétricos está avançando no mundo e no Brasil isso vem ocorrendo também, mas de forma mais modesta do que nos grandes centros como EUA, Europa e Ásia. Durante o ano de 2022, 7,8 milhões de carros elétricos foram comercializados globalmente. O número representa um aumento considerável de 68% em relação ao ano de 2021.
No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a frota total de leves eletrificados em circulação no Brasil (autos+comerciais leves+SUV) chegou a 135.301, desde janeiro de 2012.
Mas no Brasil temos que lembrar também a existência do etanol, uma alternativa muito importante, já vigente no País, e que se mostra cada vez mais uma realidade. Aqui a indústria já aposta no híbrido a etanol.
Em se tratando de eletromobilidade, a ZF é, globalmente, uma das grandes protagonistas nesse universo, além de pioneira. E temos em nosso portfólio produtos dotados de alta tecnologia para suprir a demanda das montadoras por veículos elétricos ou híbridos.
MA – Qual é o peso e a importância da inovação para os negócios da ZF no Brasil? Por que os investimentos em inovação precisam ser contínuos e programados de forma sistêmica?
CD – Sem dúvida, uma empresa na área de tecnologia não sobreviveria sem investimentos sistêmicos em pesquisa e inovação. Na ZF, os investimentos na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) vem subindo ano a ano, globalmente.
Em 2022 os investimentos atingiram um nível recorde de 3,4 bilhões de euros (2021: 3,1 bilhões de euros), ou seja, 7,8% do seu faturamento. Tivemos mais de 2 mil novas patentes no ano passado, isso representa mais de 8 patentes por dia útil. Sem dúvidas esse é um fato que confirma a importância da inovação na ZF.
Nossos times locais de engenharia estão sempre atentos às possibilidades de inovação de produtos e processos como um todo, de acordo com as necessidades locais dos clientes. Desenvolvimentos na Região possuem aplicações inclusive globais.
MA – Qual é a expectativa da ZF para o Brasil nestes próximos 2 anos? É possível ser otimista com o atual cenário do país?
CD – Acreditamos no Brasil e em todo o seu potencial, não à toa estamos no País há 65 anos. A expectativa da empresa é de um cenário um pouco mais estável internamente, mas naturalmente suscetível aos acontecimentos externos.
Somos uma empresa que pensa de maneira estratégia e no longo prazo. Por isso, observamos os cenários sempre com muito cuidado, mas com olhar positivo para as perspectivas do mercado.
MA – O Brasil, de certa forma, é conhecida pela alta taxa de mortalidade de empresas dos mais variados tamanhos. Mesmo assim, a ZF completa 65 anos no país neste ano de 2023. Qual é a importância dessa marca para a empresa?
CD – Os 65 anos da ZF no Brasil foram marcados por inovações e pioneirismos. O Brasil foi o primeiro País do mundo a ter uma unidade da ZF fora da Alemanha. Isso tem um grande significado para nós.
Mais do que uma empresa que produz autopeças para a indústria, a ZF assumiu um novo papel na área de mobilidade. A importância deste aniversário está justamente nessa transformação. Hoje, por exemplo, somos a maior fornecedora de tecnologias para veículos comerciais, aqui e no mundo.
Desde 1958, com a primeira fábrica em São Caetano, SP, crescemos muito. Passamos a contar com seis unidades produtivas (Sorocaba – com duas unidades, Limeira, Araraquara, São Bernardo do Campo, Sumaré). Além disso, possuímos dois centros de distribuição, em Itu e em Campinas, bem como uma Pista de Testes própria.
MA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem a todos os colaboradores da ZF neste ano tão especial, de aniversário, para a empresa.
CD – Recentemente o CEO da ZF, Holger Klein, na apresentação do balanço de 2022 da empresa, na Alemanha, atribuiu os bons resultados da ZF ao compromisso dos seus colaboradores em todo o mundo. Ele citou o comprometimento, perseverança e espírito de equipe de nossos colaboradores são decisivos para o progresso da ZF.
Além de concordar com ele integralmente, eu somo isso ao que tenho visto no Brasil nos últimos quatro anos em que estou à frente da ZF na América do Sul. Além de todas essas virtudes que ele citou, enxergamos e sentimos das pessoas aqui muita criatividade e engajamento nos projetos. Isso tem feito toda a diferença para continuarmos evoluindo.
Em todas as oportunidades eu agradeço ao nosso time local. E tenho certeza que, se continuarmos dessa forma, completaremos muitos outros aniversários bem-sucedidos da ZF na região.
Escrito por: Redação