Rodrigo Carneiro tomou posse da presidência da Andap (Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças) e concedeu entrevista exclusiva à revista Mercado Automotivo. Para o dirigente, o setor automotivo brasileiro não deve ser pessimista, especialmente quando se leva em consideração o potencial de negócios que o País atravessa neste momento. Confira a seguir a íntegra da entrevista.
Revista Mercado Automotivo – O senhor acaba de tomar posse da presidência da Andap. Quais são seus principais desafios no cargo?
Rodrigo Carneiro – Acordamos em Diretoria que este próximo ciclo deverá estar sustentado por três pilares: Relações Institucionais, Desenvolvimento de Mercado e Aprimoramento e Ampliação de Serviços.
RMA – O senhor já atuava na vice-presidência da instituição. Quais deverão ser as principais mudanças que enfrentará com essa alteração de cargo?
RC – Como diria um antigo personagem da televisão brasileira: “vice é vice”. Brincadeiras a parte, sempre tivemos uma gestão colegiada que, como todo colegiado, tem seus aspectos positivos e negativos. Nesta última gestão do presidente Renato Giannini, aliás de enorme transparência e organização dignos de elogio, nos obrigamos a trabalhar intensamente questões fiscais e administrativas. Agora, na função de presidente, vou buscar continuar com a mesma transparência, mas focando temas mercadológicos (se os governos deixarem…).
RMA – Qual a importância desse cargo em sua carreira? Como avalia esse desafio?
RC – Construí uma carreira muito bonita nos mercados Financeiro e Automotivo. São mais de 43 anos em quatro diferentes empresas, o que resultou em um aprendizado fantástico. Neste nosso mercado tive a honra e o enorme privilégio de permanecer no Grupo Comolatti por mais de 20 anos e agora como CEO de uma empresa com a história da Barros (Barros Autopeças) me sinto recompensado. Assumir a presidência de uma instituição como a Andap é o reconhecimento maior de toda a Distribuição de Autopeças do País, formada por empresas de um valor incontestável.
RMA – Qual a expectativa da Andap para a economia brasileira em 2018?
RC – Estou respondendo a esta entrevista em um começo de dia emblemático para nosso país, inclusive do ponto de vista econômico. Posso esperar algumas horas para responder? [N.R.: a entrevista com Rodrigo Carneiro foi realizada entre os dias 22 e 23 de janeiro, às vésperas do julgamento do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no “processo do triplex”, em Porto Alegre, no TRF-4. O julgamento, que manteve a condenação e ampliou a pena do ex-presidente, foi cercado de expectativa em todo o Brasil].
RMA – É possível dizer que a crise brasileira já passou por seu pior momento? É possível ser otimista com a situação do País?
RC – Fico tentado a repetir a resposta, mas há muito estou convencido de que o pior de nossa crise é política e não econômica, mas não posso descartar a enorme participação do Estado em nossa economia. Existem sinais de um descolamento da economia em relação à política, mas esta brutal participação do Estado na economia…
RMA – Qual é o principal problema enfrentado atualmente pelos distribuidores brasileiros? A logística, a violência nas estradas, os impostos? O que é possível fazer para superar esses problemas?
RC – Sem dúvida que nossos maiores problemas são o absurdo custo fiscal e a péssima infraestrutura logística. No pilar Relações Institucionais, vamos intensificar, junto com as entidades representativas de nosso segmento, uma participação mais efetiva e produtiva na busca de soluções para estes temas. Devemos trabalhar ainda mais próximos às Federações do Comércio e Confederação Nacional do Comércio.
RMA – Parte dos analistas do setor automotivo brasileiro é otimista em relação ao mercado de reposição. Isso porque os consumidores estariam em um momento no qual irão priorizar a manutenção de seus veículos ao invés de trocá-los por novos. O senhor compartilha dessa visão?
RC – Nem podemos ser pessimistas. A frota cresceu acentuadamente nos últimos anos, continua crescendo, embora em menor ritmo, e as péssimas condições das vias e rodovias promovem um desgaste abusivo das peças. Além disso, certamente nossa característica mais notável consiste em oferecer um parque instalado com mais de duas mil Centrais de Distribuição de Distribuidores de Autopeças. Não conheço nenhum outro país com esta dimensão.
RMA – O setor de autopeças brasileiro está preparado para atender os diversos veículos que deverão chegar às autopeças neste ano? Em 2018, o setor deverá receber justamente os veículos importados que chegaram ao Brasil em 2012, 2013.
RC – Sem sombra de dúvidas.
RMA – No que diz respeito aos incentivos voltados ao setor de reposição brasileiro, a Andap entende que são suficientes hoje? Ou faltam incentivos ao setor?
RC – Nosso mercado, mérito exclusivo dos empresários de nosso setor, desenvolveu competências e soluções independentemente de benefícios fiscais. Tivemos experiências traumáticas com a má condução deste tema por parte dos governos e, claro, entendemos que a carga tributária em nosso negócio é absurda – estocamos impostos – e vamos trabalhar para que as autoridades enxerguem isto e não nos favoreçam, mas sejam mais justas e equânimes.
RMA – Por fim, gostaria que deixasse uma mensagem para todos os associados da Andap neste início de 2018.
RC – Esperem trabalho, dedicação, entusiasmo, transparência e alguma inteligência, mas, POR FAVOR, nos ajudem a dar ao nosso MERCADO BRASILEIRO DE REPOSIÇÃO a verdadeira dimensão que ele tem.
Escrito por: Redação