A estabilidade no emprego público nada mais é do que uma forma de a pessoa se sentir segura, sem qualquer preocupação com horário, cobranças nem a mínima possibilidade de ser demitida nos próximos trinta e poucos anos.
De onde vem essa necessidade ou essa compulsão do ser humano, em especial o brasileiro, pelo emprego fixo e formal? O que leva muitas pessoas a persistirem na busca pelo trabalho formal, de 8 a 10 horas por dia, ou mais, sem a mínima perspectiva de crescimento e, em grande parte dos casos, em atividades que nada têm a ver com a sua vocação original?
Por que a maioria das pessoas continua preferindo a escravidão na segurança ao risco na independência? Por que será que a liberdade nos incomoda mais do que a submissão? Por quais motivos algumas pessoas, mesmo depois de demitidas pela terceira, quarta ou quinta vez, insistem em procurar emprego formal novamente?
Onde foi parar a capacidade de empreender, de lutar, de sobreviver por conta própria e risco do ser humano, de fazer as coisas acontecerem sem a necessidade de um cubículo para chamar de seu, de chicote e de cronômetro?
A resposta para tudo isso é muito simples: a zona de conforto é mais forte e tentadora do que a nossa capacidade de pensar e agir. Essa é apenas uma das razões pelas quais os concursos públicos são incansavelmente perseguidos.
A estabilidade no emprego público nada mais é do que uma forma de a pessoa se sentir segura, sem qualquer preocupação com horário, cobranças nem a mínima possibilidade de ser demitida nos próximos trinta e poucos anos. Poucas coisas são mais confortáveis do que isso.
Até a década de 1750, um pouco antes, as pessoas eram essencialmente empreendedoras, ou seja, mais de 80% dos humanos na face da Terra sobreviviam por conta própria. Eram os agricultores, os artesãos, os escultores, os ferreiros, os pintores, os mascates e toda sorte de profissões onde fosse possível ganhar alguns trocados para oferecer um mínimo de dignidade para a família. Eram os nossos avós, bisavós, trisavós etc.
Com o advento da Revolução Industrial, a capacidade empreendedora do ser humano foi, literalmente, sufocada. Em geral, o homem se tornou mais resignado e menos resiliente, menos criativo e mais sujeito ao tempo produtivo do relógio, cada vez mais conformado com o mínimo. Depois, passou a concentrar toda sua criatividade, capacidade produtiva e energia a serviço dos outros.
Tudo isso tem a ver com uma questão muito delicada para a maioria das pessoas que não tentaram nada diferente do emprego formal, o que eu chamo de “pressão financeira”. Por conta da pressão financeira a que são submetidos, “a maioria dos homens ainda prefere a escravidão na segurança ao risco na independência”, segundo Emmanuel Mounier, o grande pensador francês.
Portanto, ainda que você ganhe pouco, reclame bastante do chefe, odeie aquilo que faz e não tenha a mínima perspectiva de crescimento, o melhor é seguir trabalhando e continuar torcendo para não ser descoberto, afinal, os boletos continuam chegando.
A dura realidade é que os empregos estão cada vez mais escassos, mais competitivos, mais distantes da realidade do cidadão comum, ou seja, estamos caminhando para o fim dos empregos, como afirmou Jeremy Rifkins em best seller sobre o assunto.
Quanto mais o mundo avança, em termos de tecnologia, população e concentração do capital, menor a quantidade de vagas disponíveis no mercado de trabalho. O emprego formal, tal como conhecemos hoje, caminha para o fim.
Na prática, haverá trabalho, tal como já acontece hoje em muitos países desenvolvidos – Estados Unidos, países nórdicos, Japão etc. –, mas não haverá emprego. O trabalho será oferecido por demanda, por projeto, por hora etc. e será feito no estilo home office, bike office, boat office, cujo pagamento se dará por RPA, nota fiscal (PJ) ou sem nota, portanto, esqueça o emprego formal.
E tem mais: a internet das coisas, o big data, a inteligência artificial, o clowd computing e os algoritmos vão competir com o trabalhador formal sem um pingo de sensibilidade, com enorme vantagem. Então, ou o ser humano domina um pouco de tudo isso e aprende a ser amigo dos robôs ou não haverá espaço para ele nas empresas.
Todos os dias, milhares de pessoas são demitidas nas organizações em diferentes cantos do planeta e apenas algumas centenas são recontratadas. A proporção do número de contratações é sempre inferior ao número de demissões, seja onde for.
Contudo, para muitos, a demissão é uma coisa boa; para outros, é motivo de desespero. Eu sempre digo que é uma questão de tempo e, mais dia, menos dia, ela virá ao seu encontro e você deve se esforçar para recebê-la de braços abertos. Até que você encontre um novo caminho a ser seguido, é possível recuperar alguns amigos, resgatar a sua criatividade natural, aprender a gerir melhor suas finanças pessoais e, por conta da pressão financeira à qual será submetido, talvez você resgate a sua capacidade de negociar, de empreender e de se tornar uma pessoa mais comprometida com seus próprios resultados.
Por fim, não se apavore, não se deprima nem se suicide.
Desconheço pessoas que tenham sido demitidas nos últimos trinta anos e estejam morrendo de fome. E, se aquele orgulho contido não for maior do que a sua capacidade de reagir, muitas coisas boas virão. Lembre-se: o mundo é dinâmico e, mais importante do que tudo isso, o ser humano tem uma capacidade incrível de se reinventar e dar a volta por cima. Digo
isso por experiência própria. Pense nisso e empreenda mais e melhor!
Escrito por: Jerônimo Mendes