Em entrevista à Mercado Automotivo, Rubens Campos, vice-presidente Sênior Aftermarket Automotivo da Schaeffler América do Sul, fala sobre os gargalos que permanecem no setor automotivo brasileiro. O executivo também avalia os diferenciais necessários às empresas para sobreviver ao pós-crise. Confira a seguir:
Mercado Automotivo – Qual é o peso atualmente dos impostos para as empresas brasileiras? Você considera que o caminho está na desoneração ou somente a reforma tributária pode alterar este cenário?
Rubens Campos – O peso do chamado Custo Brasil impacta diretamente na competitividade dos produtos produzidos aqui e afasta as oportunidades de receber investimentos. Fazer com que os negócios prosperem em meio a condições tão desfavoráveis é um desafio a ser vencido pelas empresas diariamente no Brasil. Se a reforma tributária realmente acontecer, simplificando e modernizando o atual modelo, será uma excelente notícia para o crescimento das empresas, para o consumidor final, e, consequentemente, para toda a economia do País.
MA – A América do Sul tem enfrentado diversas mudanças atualmente, especialmente quanto às políticas econômicas de cada país. Ainda assim, a região é um importante parceiro comercial do Brasil, principalmente para o setor automotivo. Qual é a importância desta região para a Schaeffler? Quais são as expectativas da Schaeffler para o atendimento a esta região nos próximos anos?
RC – A Schaeffler é uma empresa global com presença local e preza muito por isso. Assim, apesar das condições econômicas e políticas, agravadas pela pandemia, serem um dos maiores desafios que os nossos negócios enfrentam nestes países no momento, a Schaeffler enxerga grande potencial para o segmento da reposição nestes mercados e eles constituem parte importante nas iniciativas do negócio para os próximos anos.
A expectativa é de crescimento, com foco na proximidade com o cliente, no investimento, na capacitação de toda a cadeia de reparação e na ampliação do portfólio de aplicações disponíveis nestes países para melhor atender as necessidades de suas frotas.
MA – Qual é a importância do aftermarket brasileiro para a Schaeffler atualmente? É possível ampliar essa fatia de negócios?
RC – A Schaeffler está presente no Brasil há mais de 60 anos e possui um bom mix de negócios, o que ajuda muito a equilibrar sua performance principalmente em momentos de crise como o que enfrentamos. Este ano a crise foi geral, mas alguns segmentos conseguiram se manter com melhor performance. O Aftermarket Automotivo tradicionalmente é muito forte, assim como as nossas marcas LuK, INA e FAG, e durante esse período de pandemia, apesar de sofrermos fortes impactados no começo, conseguimos nos manter e ganhar força para alcançar o resultado esperado e vemos muito potencial de crescimento na região, por isso temos trabalhado fortemente em diversos projetos que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes nesse novo cenário que temos enfrentado, principalmente em torno da digitalização, investimos em capacitação técnica e ampliação de portfólio.
MA – Em sua opinião, qual é hoje o principal gargalo do aftermarket brasileiro? A tributação, a logística, a falta de infraestrutura do País?
RC – Acredito que seja um conjunto de fatores: a alta tributação, as dificuldades logísticas e a falta de infraestrutura são todos pontos que, juntos, muitas vezes impedem que as empresas ofereçam o produto certo, na hora certa e a um preço justo no Brasil. No entanto, com a série de mudanças disruptivas que vêm acontecendo no setor, como a digitalização, a consolidação dos canais de vendas e o crescimento do ecommerce, vemos cada vez mais uma maior e mais rápida movimentação das empresas em se adaptar e criar soluções para os dois últimos pontos.
MA – Gostaria que falasse sobre a construção do novo complexo central de laboratórios de testes da Schaeffler em Herzogenaurach, Alemanha, anunciado recentemente. Qual será a importância dessa estrutura para o Grupo? O Brasil se beneficiará dessa estrutura?
RC – Como parte do Roadmap 2025 da Schaeffler, o novo complexo central de laboratórios de testes consolidará as competências e capacidades centrais do Grupo nas principais áreas de tecnologia, tendo uma base integrada e interdepartamental para que possa, por exemplo, desenvolver ecossistemas de energia e de mobilidade sustentável pela neutralidade do carbono. A excelência em processos de manufatura também gera condições para oferecermos aos nossos clientes as melhores soluções nas principais áreas de tecnologia do futuro, como mobilidade elétrica, robótica e hidrogênio.
O edifício, previsto para iniciar suas operações em 2024, será construído de acordo com os mais recentes padrões de sustentabilidade e será operado como edifício ecologicamente correto em conformidade com o Padrão Ouro do DNGB (Conselho de Sustentabilidade da Alemanha). O Brasil com certeza irá se beneficiar dessa estrutura, uma vez que a Schaeffler é uma empresa global e nossas equipes trabalham juntas em muitos projetos e a troca de informação e know-how é constante, por isso, nossa planta poderá usufruir de toda a tecnologia desenvolvida e que possa ser aplicada localmente.
MA – É possível dizer que a inovação será o principal fator a determinar as empresas que conseguirão sobreviver ao período pós-pandemia? Ou há algum outro fator a ser considerado?
RC – Sim, a pandemia intensificou os desafios de mercado e para contornar as barreiras precisamos inovar. Na Schaeffler a inovação faz parte dos processos internos e externos. Internamente foi necessário nos adaptarmos para trabalhar remotamente e buscar cada vez mais a eficiência dos nossos processos diários. Externamente, manter e intensificar a parceria com nossos clientes, mesmo com a distância física, faz com que a inovação aconteça. Esse movimento com certeza será determinante para o sucesso pós-pandemia, inovar para estar presente de forma virtual, para desenvolver alternativas frente aos desafios que surgem, como o desabastecimento de matéria-prima, além de fortalecermos a parceria entre fornecedores e clientes, desenvolvendo novas maneiras de trabalhar integrado com toda a cadeia.
MA – O Grupo Schaeffler foi selecionado como um dos 50 líderes mundiais em Sustentabilidade & Clima pela Organização das Nações Unidas (ONU). Como trabalhar de forma efetiva com o tema da Sustentabilidade atualmente? Ou seja, diante de tantas ações apresentadas como sustentáveis por diversos setores, como incentivar iniciativas mais efetivas e eficazes nesse âmbito?
RC – A Schaeffler mundialmente atua com muito foco no tema, tendo uma estratégia claramente definida e uma gestão de sustentabilidade consistente. Sustentabilidade é parte integrante do Roadmap 2025 da empresa sendo uma das iniciativas-chave. Trabalhamos com metas de curto, médio e longo prazos, como, por exemplo:
- Implementações de medidas para eficiência energética e aquisição de energia de fontes renováveis até 2024;
- Ser neutro em carbono até 2030 com base no Programa Schaeffler de Proteção ao Clima para redução de emissões de CO2 na produção;
- Redução em 20% do abastecimento de água doce até 2030.
Além, é claro, de trabalhar com sistema de gestão SEHS (Energia, Sustentabilidade, Meio Ambiente, Saúde e Segurança), com base nos padrões de energia e meio ambiente ISO 50001 para gestão de energia, ISO 14001 para gestão ambiental e o Norma Emas de ecoauditoria, entre outras. Auditorias internas e externas são realizadas regularmente para melhorar continuamente a gestão de energia e otimizar ainda mais o desempenho ambiental. Internamente, a Schaeffler está continuamente desenvolvendo seus funcionários com programas abrangentes de treinamento e medidas de reciclagem e qualificação. Além disso, temos orgulho em dizer que nossa planta no Brasil é aterro zero, ou seja, todos os resíduos têm destinação sustentável.
MA – Gostaria que comentasse também sobre a importância de fazer parte dessa lista seleta. O que representa essa conquista para o Grupo?
RC – Estar na lista dos 50 líderes mundiais em Sustentabilidade & Clima mostra que estamos no caminho certo, afinal todas as ações realizadas pela Schaeffler têm como foco principal a construção de um mundo mais limpo, mais seguro e mais inteligente. E neste mote os benefícios de focar, não somente para uma produção, mas sim para um mundo mais sustentável estão diretamente relacionados com o uso consciente dos recursos naturais. Importante ressaltar que, se por um lado, a indústria busca encontrar soluções sustentáveis para o seu negócio, por outro, o consumidor está cada vez mais exigente: aumenta a cada dia o número de consumidores conscientes que optam por produtos que garantem a sustentabilidade.
MA – Que mensagem o senhor gostaria de deixar aos colaboradores da Schaeffler no Brasil neste momento difícil?
RC – Fomos surpreendidos ano passado por um fato novo, que alterou a rotina de todo o planeta, a pandemia de Covid-19. Mas, apesar de todas as mudanças que essa situação impõe, algumas prioridades sempre serão mantidas, como a segurança dos nossos funcionários. Todos os nossos esforços estão concentrados nesse momento em garantir que possamos continuar trabalhando com saúde e protegidos. Mais do que nunca, é hora de estarmos unidos. Sabemos que juntos somos fortes e podemos enfrentar o que for preciso. Cada um tem o compromisso de fazer sua parte, de maneira individual, para ajudar no coletivo, afinal, juntos somos mais.
Escrito por: Redação