A pandemia de Covid-19 impõe diversas dificuldades às empresas e tecer previsões para os meses vindouros se tornou uma tarefa amplamente requisitada, porém muito incerta. Nesse sentido, a quarentena imposta pela crise do vírus também serviu como espaço para líderes e executivos do setor repensarem os principais gargalos do setor e do mercado como um todo.
Nesta edição, a revista Mercado Automotivo traz entrevista com Gerson Prado, CEO da SK Automotive, que abordou as expectativas da empresa para os resultados dos próximos meses. O período após o combate ao vírus, tão aguardado por todos, também foi mencionado pelo executivo da distribuidora. Confira a íntegra a seguir:
Mercado Automotivo – Passados mais de seis meses após o início da pandemia, qual foi o tamanho do impacto desta crise para a SK Automotive? Se não em números, mas em relação ao tempo de trabalho paralisado, qual a surpresa que foi imposta à empresa para se adaptar a este novo cenário?
Gerson Prado – Tivemos um impacto avassalador nos primeiros dias da crise, que se instalou na segunda quinzena de março. Em abril e maio, o mercado ainda se mostrava muito preocupante, porém, a partir de junho as coisas começaram a tomar um rumo melhor.
Tivemos, a exemplo de todas as demais empresas, que nos adaptar à crise, colocando colaboradores em teletrabalho e mantendo o mínimo de pessoas com trabalho presencial.
MA – O senhor entende que o pior desta crise já passou? É possível ser otimista daqui para frente?
GP – Quando se pensa em crise de infecção da Covid-19, sim, entendo que o pior já passou. Quando se pensa em crise econômica setorial, também entendo que o pior já passou. O que estamos vivendo já não é mais crise de demanda e sim crise de abastecimento. Também temos uma forte inflação em nosso setor sendo causada por variação cambial e forte aumento dos insumos.
MA – E para o setor de distribuição? Ainda que parte das entregas não tenha sido paralisada de imediato, houve impacto considerável para seguir atendendo da mesma forma todo o Brasil? Ou a queda da demanda permitiu equilibrar aos poucos esse cenário?
GP – A queda de demanda que tivemos logo no início da crise foi compensada por uma forte demanda logo a seguir.
MA – Quais foram as principais mudanças impostas pela crise do vírus ao setor de distribuição? São mudanças “apenas” da ordem de higiene de profissionais, produtos e veículos?
GP – Claro que, em questão de higiene, não mudou apenas para o setor, mas para todo o nosso modo de vida. Nessa linha, qualquer prestador de serviço que não demonstrar para seus clientes um padrão mínimo de higiene terá problemas para angariar ou manter os seus.
As mudanças impostas pela pandemia não se restringem à pandemia em si, mas também na forma como cada empresa passou a se organizar. Entendo que a pandemia causou um “freio de arrumação” em todas as empresas.
MA – Gostaria que falasse sobre a discussão que envolve o fabricante assumir o ônus da garantia dos produtos. Houve algum avanço nessa discussão/ negociação nos últimos dois anos?
GP – Este é um tema muito sensível que ainda não foi resolvido pelo setor. Quem arca com o maior custo da garantia é o setor de distribuição que é responsável por fazer toda a logística reversa e seus custos sem ser remunerado por isso. Além disso, também arca com o custo de capital de ter que antecipar essa garantia para o cliente.
O fabricante tem que pensar urgentemente em como resolver isso, pois o distribuidor não pode mais arcar com esse custo.
MA – Como o senhor avalia atualmente a dificuldade de manter os estoques em todas as filiais da SK? A tecnologia é a solução para diminuir essa dificuldade?
GP – Definitivamente temos que pensar em alta tecnologia para resolver a questão de abastecimento. A SK tem 42 filiais e opera com mais de 30.000 itens em seu portfólio. É uma tarefa hercúlea ter que abastecer todas as filiais com o estoque ideal para cada local.
MA – O senhor considera que o cenário póscrise poderá gerar uma oportunidade única de organização para os distribuidores automotivos? A partir da diminuição de players no mercado, seria possível organizar melhor a atuação, os produtos vendidos, etc.?
GP – Não vejo que tenha havido diminuição de players no mercado. O papel de organizar a cadeia de distribuição passa preponderantemente por quem fabrica ou detém a marca. O que vimos nos últimos anos foi uma ampla desorganização desta cadeia de distribuição onde o termo “distribuidor” foi totalmente desvirtuado.
MA – Gostaria que falasse sobre o investimento em tecnologia no setor automotivo? Qual é a importância desse investimento?
GP – Falar de tecnologia no setor automotivo é um assunto muito aberto. Se pensar no veículo em si, a automação está batendo à nossa porta. Vários sistemas interligados vão cada vez mais ganhar espaço mudando o comportamento de consumo de peças e serviços. É um tema muito amplo e que merece uma longa dissertação.
Se pensarmos na forma de atendimento ao cliente, os canais digitais vão cada vez falar mais alto.
MA – Que mensagem o senhor deixaria para seus colaboradores neste momento?
GP – A minha mensagem principal é a de que trabalhamos em um setor maravilhoso onde mesmo as mais graves crises nos afetam pouco. Nós do setor de autopeças somos o remédio do veículo.
Escrito por: Redação