Inovação chegou para ficar e sairão na frente aqueles que a utilizarem para engajar novos públicos de consumidores
Apesar de recente, o metaverso passou a ser um conceito cada vez mais aplicado nas discussões sobre inovação na indústria e no setor de serviços, de forma geral. Mais do que simplesmente defini-lo como “X” ou “Y”, as marcas passaram a se interessar nos benefícios que poderiam extrair daquele ambiente virtual, até mesmo porque a implementação do metaverso em cada empresa variará (e muito) de acordo com o segmento de atuação de cada uma.
De modo geral, o metaverso pode ser compreendido como uma espécie de rede social que utiliza a realidade virtual e o 3D para criar ambientes nos quais os usuários podem interagir. É um cenário que já existia, há alguns anos, no universo dos games, mas que ganhou novas camadas a partir de agora, quando as marcas passaram a entender como poderiam personalizar seus ambientes e se aproximar de seus públicos.
A ideia primária é que pessoas e empresas possam criar e controlar seus avatares no metaverso, fazendo com que eles participem de atividades coletivas, conversem com outros avatares ou, até mesmo, visitem as casas virtuais dos perfis que fazem parte de sua rede.
O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) destaca, no entanto, que o metaverso pretende ser bem mais complexo do que as tecnologias de realidade virtual disponíveis no mercado – até então muito mais focadas em simular cidades ou ambientes específicos, geralmente pela indústria de jogos.
“A ideia do metaverso é ser extremamente mais abrangente e personalizável. Com ele, qualquer usuário pode criar seu próprio mundo online. Ele tem a liberdade de inventar quantos ambientes quiser, da forma que quiser e de acordo com o seu gosto pessoal”, explica o Sebrae, em conteúdo desenvolvido sobre o assunto.
“A ideia de criar ambientes digitais que imitem o mundo real e que permitam a personalização não é nova. Aliás, esse é um dos objetivos mais antigos da indústria gamer: criar ambientes cada vez mais realistas. Hoje, essa ideia pode ser alcançada, ao contrário de alguns anos atrás. Isso se deve, principalmente, aos avanços tecnológicos dos últimos tempos. Entre eles podemos destacar a realidade aumentada, tecnologia 3D, cloud computing, realidade virtual e o machine learning. São essas novas tecnologias que permitirão a criação e personalização do metaverso”, completa.
Metaverso x redes sociais
Quando o metaverso começou a ser abordado muitos “viraram a cara” por entenderem que se tratava de uma simples evolução de interatividade em uma rede social. Pensavam que a tecnologia e o uso do metaverso ficaria restrito à interação social e, portanto, de difícil acesso para marcas mais tradicionais e também pequenas empresas.
Esse conceito começou a mudar quando as empresas passaram a compreender que poderiam utilizar o metaverso para mudar a forma como se relacionam e se comunicam com seus clientes e consumidores.
É importante lembrar, ainda, que a discussão sobre o metaverso teve início anos antes da pandemia de Covid-19. Portanto, não se trata de uma discussão criada por uma demanda súbita e temporária.
Ao contrário: quando se observam os elementos que motivaram a adesão de grandes marcas ao ambiente virtual é possível entender que esse movimento ocorreria com ou sem a pandemia.
Metaverso no setor automotivo
Em janeiro deste ano, a empresa de consultoria empresarial McKinsey & Company publicou o estudo “O metaverso: criando valor no setor de mobilidade” – acesse na íntegra: https://l1nq.com/ojE7y. Os dados levantados pela consultoria reforçam o entendimento de que a utilização do ambiente virtual pelo consumidor em seu processo de compra não é algo assim tão recente.
Nos Estados Unidos, quem desejava adquirir um veículo em 2017 geralmente visitava apenas duas concessionárias antes de fechar negócio. Em 2007, o número era de cinco visitas presenciais. Isso significa que aumentou sensivelmente nestes dez anos o uso de pesquisas online para dar suporte ao processo de compra.
É claro que a pandemia (e o isolamento por ela gerado) contribuiu para que empresas de todos os tamanhos precisassem adaptar seu portfólio para atrair o consumidor ao ambiente virtual, mas esse movimento já era, de certo modo, esperado.
O estudo da McKinsey trouxe dados de outras duas pesquisas para reforçar esse entendimento. O primeiro levantamento indicou que cerca de 60% dos consumidores entrevistados disseram que preferem realizar pelo menos uma de suas atividades do dia a dia (socializar, fazer compras, estudar) no mundo virtual ao invés de presencialmente. A outra pesquisa apontou haver muito entusiasmo com o metaverso e seu futuro em todos os grupos demográficos, independentemente de região, idade ou gênero.
A McKinsey entende que o metaverso plenamente funcional levará ainda cinco a dez anos, no mínimo, para se materializar. No entanto, empresas do setor de mobilidade já podem extrair valor comercial do metaverso em suas configurações atuais.
Proximidade com um novo público
Ainda que o metaverso desperte o interesse de públicos das mais variadas faixas etárias, fato é que são os mais jovens que sinalizam maior interesse em se relacionar com marcas que os representem no ambiente virtual. E é justamente esse público que tem gerado uma mudança de percepção quanto ao carro enquanto objeto de desejo, não só no Brasil, mas em diversos outros países.
A alta no custo de manutenção de um veículo em alguns mercados e os novos desafios de mobilidade que surgiram nos últimos anos (adoção de outros modais, carros compartilhados e transporte por aplicativo) fizeram com que marcas tradicionais do setor automotivo tivessem de repensar suas estratégias junto a públicos mais jovens, cujo desejo pelo carro novo e próprio foi afetado.
Cabe ao setor automotivo, portanto, em todas as suas frentes, se apropriar de espaços do metaverso para conquistar essa nova fatia de potenciais consumidores. É óbvio que a frente de atuação mais simples seria oferecer uma visita virtual aos modelos disponíveis da marca, mas é preciso pensar em mais soluções.
O próprio mercado que envolve o metaverso espera por melhorias no uso da realidade aumentada, bem como no desenvolvimento de dispositivos hápticos (que simulam uma sensação de toque), nos próximos anos. As marcas precisam, então, promover experiências valiosas para seus clientes, levando a um “caminho natural” que envolva a compra do veículo ou de itens específicos.
Afinal, se a percepção do consumidor jovem é a de que um carro lhe gera um gasto desnecessário, é possível usar o metaverso para criar experiências que: (a) ressaltem o conforto, a praticidade e a segurança que ele obtém ao ter um carro próprio; e (b) demonstrem de forma clara e ilustrada os gastos atrelados às demais soluções vendidas como alternativas ao carro.
Por que não pensar, por exemplo, em uma ferramenta no metaverso para valorizar a manutenção preventiva, destacando as funções de cada peça, ilustrando seus usos e demonstrando, de forma clara, os benefícios em contar com peças de qualidade e confiança?
O metaverso, finalmente, pode ser um ponto de virada para marcas do setor automotivo que não sabiam mais como se comunicar com um público vital para sua sustentabilidade e evolução. Sairá na frente quem souber “virar a chave” antes, utilizando o metaverso como negócio e não como uma “simples rede social”.
Realidade no setor
Dentre as empresas do setor automotivo que já começaram a investir no metaverso, destaque para a Randoncorp, através da Frasle Mobility. Na Automec 2023, realizada no último mês de abril em São Paulo (SP), a Companhia utilizou a tecnologia do metaverso, em parceria com a Agência Casa Mais, e apresentou ao público um curso inédito no setor automotivo para mecânicos.
Promovido totalmente no metaverso, o curso foi desenvolvido em parceria com a Escola do Mecânico, empresa de educação tecnológica que forma profissionais para o setor. O “Metamecanicoverso” vai oportunizar uma experiência imersiva única com ambiente em realidade virtual. Importância da manutenção preventiva, dicas e cuidados para substituição e ajustes de peças, como pastilhas de freio, amortecedores e suspensões, estão entre os temas abordados nessa ação.
Desafios e problemas potenciais
A implementação e a abordagem do metaverso no âmbito empresarial não se restringem apenas a notícias otimistas e animadoras. Há desafios e potenciais questões problemáticas que devem ser levadas em consideração nesse processo. O conselho geral mais aceito é que não basta “querer fazer parte da moda”, se não houver pesquisa, estrutura e incentivo contínuo para levar sua marca ao metaverso. Se não for bem feito, o movimento pode se tornar um verdadeiro “tiro no pé”.
Para Leonardo Costa, diretor proprietário da LeoLeão Metaverso Automotivo, especializada no mercado de tecnologias digitais e dedicada exclusivamente ao setor automotivo, as empresas precisam ter máxima clareza de suas capacidades para lidar com um novo fluxo de clientes, com características específicas, em um novo ambiente.
“Se a aplicação do metaverso for bem-sucedida e atrair muitos clientes, pode haver dificuldades em lidar com o aumento do volume de vendas e demanda. Para lidar com isso, é importante dimensionar adequadamente as operações, ter uma equipe capacitada e considerar a automação de processos sempre que possível”, explica o especialista, que ressalta também a necessidade de promover uma correta integração do metaverso com os sistemas e processos já existentes na empresa. Caso contrário, a chegada ao metaverso pode causar problemas de sincronização de dados, erros operacionais e falta de eficiência.
“Além disso, a experiência do cliente pode ser afetada por problemas técnicos, interfaces confusas ou falta de treinamento adequado da equipe. É essencial investir em treinamento da equipe, testar a usabilidade e fornecer suporte técnico para garantir uma experiência positiva e consistente para os clientes. Questões de segurança e privacidade também são importantes ao adotar o metaverso. A coleta e o compartilhamento de dados do cliente podem gerar preocupações com a segurança dessas informações. É crucial garantir a proteção adequada desses dados, de acordo com as regulamentações de privacidade de dados”, complementa.
Leonardo ressalta que a manutenção e atualização contínuas do metaverso são essenciais para seu bom funcionamento, pois envolvem a correção de possíveis bugs, melhorias de desempenho, integração de novos recursos e compatibilidade com atualizações de hardware e software. Ou seja, não basta ingressar no metaverso, mas entender, ao longo do tempo, de que forma a experiência do usuário pode ser aprimorada.
Embora a implementação do metaverso no setor automotivo apresente desafios, é importante lembrar que esses obstáculos são superáveis e os benefícios potenciais são significativos. Por fim, é importante ter em mente que a jornada rumo ao metaverso é contínua. A tecnologia está em constante evolução, novas oportunidades e desafios surgirão. Portanto, é essencial manter-se atualizado sobre as tendências do setor, acompanhar as melhores práticas e estar aberto a ajustes e otimizações ao longo do tempo”, conclui o especialista.
Escrito por: Redação